Protecionismo dos EUA pode recuar com Biden

O mundo inteiro acompanhou a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. No entanto, passada toda a movimentação que envolve o processo, o que será do Brasil e de Minas Gerais diante desse resultado? Afinal de contas, vamos perder ou ganhar com esse desfecho? Nesse novo cenário, como ficarão as relações comerciais entre ambos os lados?
Para se ter uma ideia do que temos atualmente, de janeiro a outubro deste ano, as exportações de Minas Gerais para os Estados Unidos somaram US$ 1,642.bilhão. Já as importações chegaram a US$ 958,662 milhões, de acordo com os dados do Ministério da Economia.
Pode ser que esses números sofram algumas alterações até mesmo positivas, mas especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO não acreditam em uma mudança muito grande do que se tem hoje. Ademais, ainda é um pouco cedo para avaliar tudo o que vem pela frente.
Cientista político e professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec BH), Mario Valente lembra, por exemplo, que a definição da corrida do senado nos Estados Unidos ainda não vai ocorrer agora – e ela é muito importante para se ter um panorama maior da situação. Ele destaca que é relevante saber como o governo Biden vai se consolidar nas próximas semanas.
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo também acredita que é necessário esperar um pouco mais. No entanto, ele salienta: os Estados Unidos não vão ficar “bonzinhos” com o Brasil somente porque Biden ganhou as eleições. “Em termos de política econômica, os EUA deverão continuar sendo como sempre foram: pragmáticos”, diz.
Entretanto, afirma Ranulfo, Biden é um democrata moderado, que irá fazer um governo moderado, e, apesar de estar atento aos interesses dos EUA, não deverá tomar atitudes extremas como seu antecessor, Donald Trump.
Valente, do Ibmec BH, também ressalta que, como democrata, o governo estadunidense deverá ser menos protecionista do que o de Trump. Uma agenda positiva pode surgir entre os dois países, inclusive em relação a negociações para redução tarifária – que também precisa passar pelo Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Se confirmada a posição de maior abertura comercial, o País talvez não sofra com sanções, por exemplo, diz ele. Isso será benéfico para o Brasil e para Minas Gerais, que exporta para lá, entre os produtos de destaque, itens como minério e aço. No entanto, lembra Valente, esse maior ou menor protecionismo poderá depender de todo um diálogo interno de Biden nos Estados Unidos.
Balança – Professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Ricardo Ghizi pontua que pode ser que Biden conduza uma política internacional menos agressiva e mais cooperativa. “Trump iniciou uma guerra comercial com o mundo para tentar obter vantagens, e essa guerra comercial acabou refletindo no Brasil”, diz ele.
Diante desse cenário, Ghizi ressalta ainda que, do ponto de vista comercial, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não conseguiu os benefícios que eram esperados do governo estadunidense.
“Se colocar na balança o que o Bolsonaro cedeu em termos comerciais e geopolíticos ao Trump, o retorno não foi o esperado. O Brasil continua tendo barreiras para exportar alumínio e aço, principalmente”, avalia.
Além disso, diz o professor, pode ser que com Joe Biden, a questão comercial seja colocada na pauta de negociações para que o Brasil ceda em outras áreas, como em relação ao meio ambiente.
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