Economia

Repactuação do acordo de Mariana está quase pronta

Compensação pelos danos do rompimento da barragem de Mariana deve ser acertada
Repactuação do acordo de Mariana está quase pronta
Os governos de Minas e do Espírito Santo estão alinhados na destinação de recursos para obras nas BRs 381 e 262 | Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC

A repactuação do acordo de Mariana para reparação dos danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, ocorrido em 2015, na região Central do Estado, está prestes a ser concluída. Restam apenas análises dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente quanto a saúde da população atingida pela contaminação da bacia do Rio Doce e a recuperação de áreas inundadas pelos rejeitos.

A informação é do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, disse que o novo termo está 98% pronto e que espera que a nova administração federal dê condições para que o acordo seja concluído.

“Já se passaram sete anos e pouca coisa foi feita em termos de reparação, enquanto em relação a Brumadinho, que acabou de completar quatro anos, muito já se avançou e está em execução. Por isso, o que propusemos para o acordo de Mariana segue o mesmo modelo. É o que traz menos prejuízo para o Estado e para a população. Aliás, prejuízos nós já tivemos, mas que sejam minimizados, porque senão daqui 10, 20 ou 30 anos ainda estaremos falando dessa tragédia. Queremos uma solução e espero que haja boa vontade por parte do governo federal, porque os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo já estão alinhados”, garantiu.

Zema citou que um desses alinhamentos diz respeito à destinação de recursos do acordo para a garantia das obras da BR-381. A ideia é que cada estado contribua com R$ 1 bilhão. O argumento é que esta seria uma forma de viabilizar a concessão e a duplicação da rodovia entre Belo Horizonte e Vitória – importante corredor logístico e de mercadorias do País.

No fim de janeiro, o governador mineiro esteve juntamente com outros líderes executivos estaduais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e entregou a ele um ofício com as principais demandas do Estado. Entre as prioridades listadas no documento, além do acordo de Mariana, contavam a recuperação de rodovias estratégicas como a BR-262 e a BR-381, além da continuidade de projetos como a ampliação do metrô de Belo Horizonte.

“São pontos fundamentais para o povo mineiro, pois isso vai possibilitar que obras importantes sejam executadas, principalmente na região da bacia do rio Doce, já que a maior parte desse recurso será destinada para estas cidades. Espírito Santo, Minas Gerais e União estão com tratativas avançadas e queremos que o governo federal encerre esse processo, que será bom para ambas as partes”, disse na ocasião.

A reportagem procurou tanto o Ministério da Saúde quanto o do Meio Ambiente e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que tem atuado como um interlocutor do Estado no processo, e não obteve nenhuma resposta até o fechamento desta edição.

A Samarco, por sua vez, limitou-se a repetir o pronunciamento oficial que diz que: “com o apoio de suas acionistas Vale e BHP Brasil, permanece aberta ao diálogo e reforça o compromisso com a reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, viabilizando medidas de reparação em favor da sociedade”.

A mineradora também citou que até dezembro do último ano já haviam sido indenizadas mais de 409,4 mil pessoas e destinados mais de R$ 28,07 bilhões para as ações executadas pela Fundação Renova.

Desde 2021, Samarco e suas sócias Vale e BHP e órgãos públicos da União, de Minas Gerais e do Espírito Santo discutem uma repactuação do acordo de reparação fechado em 2016, de R$ 24,4 bilhões. Considerado o maior desastre ambiental do Brasil, o colapso da estrutura da mineradora Samarco, joint venture de BHP e Vale, liberou uma avalanche de lama e resíduos de mineração, que matou 19 pessoas, destruiu casas e poluiu centenas de quilômetros de rios até o litoral do Espírito Santo.

Em agosto passado, após uma série de reuniões sem consenso, o governo mineiro chegou a deixar as negociações e a mesa encabeçada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) chegou a ser encerrada. Em outubro, Zema admitiu voltar a conversar. Agora, pesam as cifras do acordo e o tempo de pagamento.

O valor de referência para a renegociação é o que consta em ação movida anteriormente pelo Ministério Público para reparação total dos danos sociais, ambientais e econômicos causados pelo rompimento, de R$ 155 bilhões. A expectativa é que o Estado receba o dobro dos mais de R$ 37 bilhões pagos pela Vale no acordo referente à tragédia de Brumadinho e que seja seguido também o modelo de governança, sem o envolvimento de uma entidade nos moldes da Fundação Renova para a aplicação dos recursos.

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