Economia

Saúde mental ganha olhar das empresas durante pandemia e fomenta nova tendência de serviços e altruísmo

Saúde mental ganha olhar das empresas durante pandemia e fomenta nova tendência de serviços e altruísmo
Psicóloga Cibele Oliveira tem 31 anos de experiência em práticas e estudos da saúde integral - Crédito: arquivo pessoal

“Estamos todos sofrendo.” A frase da psicóloga Cibele Oliveira refere-se a um dos sentimentos coletivos que nasceram em meio à necessidade de muitas corporações de instituir o trabalho remoto em decorrência da pandemia da Covid-19. “O trabalho em home office tira da gente a socialização, os vínculos, o afeto do encontro presencial. De alguma forma, estamos muito carentes. E ir ao trabalho é agregador nesse sentido”, afirma Oliveira. 

Esse é um dos impactos do período que ainda ecoa na sociedade brasileira e em muitos países. No entanto, a saúde mental das pessoas dentro das corporações é um desafio de outrora, mas que foi impulsionado pelo isolamento social. Em junho de 2020, por exemplo, a Ambev criou a Diretoria de Saúde Mental com objetivo de mitigar os efeitos relacionados ao trabalho remoto e às incertezas do período pandêmico e pós-pandêmico, além do luto constante. 

No entanto, conforme afirmou em nota, a Ambev já percebia “uma tendência de aceleração em casos diretamente ligados com a saúde mental, como burnout e depressão”. Desde 2019, quando a empresa passou a revisar e pensar a cultura interna, o tema foi palco de discussões que culminaram na solidificação da Diretoria de Saúde Mental. 

Hoje, a Diretoria atua com as frentes de suporte, no qual os trabalhadores podem, em casos graves ou urgentes, contar com o apoio de psiquiatras 24 horas; prevenção, em que há o fomento de treinamentos e bate-papos sobre a saúde mental; e também pela análise de dados obtidos durante escuta ativa para a captação de informações que auxiliam na tomada de decisões. 

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Saúde mental: para o bem de todos

Para a psicóloga Cibele Oliveira, que também é cantoterapeuta, terapeuta sonora e tem atuação há mais de 31 anos com práticas e pesquisas sobre a saúde integral, ao investir na saúde mental dos trabalhadores, as empresas têm como primeiro resultado a humanização do trabalho. “Os profissionais precisam ser vistos em toda a sua humanidade. E as pessoas que se cuidam convivem melhor com as outras, dialogam e resolvem conflitos de forma mais fácil, elas precisam estar bem para desempenhar da melhor forma possível a sua atividade”, afirma Oliveira. 

Em seus trabalhos na Holos, startup mineira que nasceu para levar terapias holísticas ao mundo corporativo, Cibele Oliveira desenvolve terapias sonoras e rodas de conversas junto a trabalhadores de diversas empresas. Em experiências recentes, a psicóloga percebeu a necessidade de debater, por exemplo, a gestão do tempo. 

“Muitas pessoas estão trabalhando horas excessivas para dar conta, porque no home office a noção do tempo muda. E a gente não pode mensurar o impacto disso em nossas vidas, isso será daqui a dois anos, talvez. Na roda de conversa, a Holos leva os aspectos conceituais sobre a temática da gestão do tempo e as pessoas vão compartilhando suas experiências. Elas ganham confiança no grupo ao se expor”, conta Oliveira. 

Ainda de acordo com a psicóloga, da mesma forma em que as pessoas aprendem e se capacitam para o trabalho, é possível treinar a mente para levar a vida com mais saúde mental. “Há tantos treinamentos para melhorar o desempenho. Mas também há formas de se instrumentalizar para o autocuidado, antes de deixar o copo transbordar. Quando as empresas abrem um horário para que o trabalhador possa se beneficiar, trazendo a saúde integral, há um processo de alinhamento, de acolhimento, que traz mais equilíbrio, bem-estar e resiliência”, pontua a psicóloga. 

Campo de atuação necessário

Gustavo Souza, CEO da Holos, decidiu fundar a empresa a partir da sua própria “dor”. Após superar um processo de depressão, ele percebeu espaço no mercado para os serviços holísticos que hoje a startup oferece para médias e grandes corporações.

“Quando eu busquei apoio para a minha dor, me deparei com o universo das terapias holísticas, que colocam a pessoa no centro da recuperação. Depois disso, eu evoluí e percebi que essa era uma oportunidade de empreender, já que onde tem ser humano, tem dor. E foi assim que comecei a estudar o mercado de saúde mental. Lá atrás já havia uma epidemia silenciosa de pessoas que precisavam de apoio”, afirma Gustavo. 

Gustavo Souza, CEO da Holos – Crédito: arquivo pessoal

Desde 2019, quando a empresa participou de um processo de aceleração de negócios inovadores da PUC Minas e teve capital para entrar no mercado, a Holos já alcançou 50 mil pessoas de mais de 50 empresas com práticas coletivas e individuais. Entre as práticas ofertadas no portfólio há mais de 20 técnicas, como reiki, yoga, meditação, musicoterapia, pilates, homeopatia e aromaterapia.  

De 2019 para 2020, a empresa teve um salto no faturamento de 400%. Neste ano, o CEO espera que a Holos feche o ciclo com um crescimento de 4 a 5 vezes maior em relação ao ano anterior. “A pandemia é uma dor e ao mesmo tempo uma oportunidade, porque estávamos preparados para entregar algo para ajudar. É o momento das empresas experimentarem também essas práticas. Todas as nossas terapias provocam o olhar para dentro, o olhar para as emoções. É essa prática que a gente tem que buscar”, afirma Souza. 

Uma dor social 

Oportunidades para ajudar não faltaram e faltam durante o período pandêmico que perpetua. O olhar para o crescente número de pessoas pedindo ajuda nas portas das casas provocou em um grupo de 7 amigos a vontade de levar mantimentos aos mais necessitados. Contudo, segundo a membro do movimento Rolê do Bem, Karine Coelho, os alimentos e produtos de higiene são importantes, mas o essencial está na escuta, no atendimento humanizado. 

“Quando a gente chega nas comunidades, começamos a ouvir as histórias. Você entra na casa de uma senhora para levar comida e roupa e a casa não tem ventilação. Ela quer falar sobre isso e sobre a vida. Então é muito mais do que comida e roupa, ela quer conversar, ela quer alguém que ouça. E a gente percebe isso também com os moradores em situação de rua. O ato de entregar (o donativo) é rápido, mas as ações são longas, porque as pessoas querem ser escutadas”, aponta Karine. 

Membros e voluntários do grupo Rolê do Bem antes de atividades junto à comunidade – Crédito: arquivo pessoal

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