Economia

Seis temas econômicos que o Brasil deve ficar de olho neste ano

DC reuniu apostas de especialistas sobre o futuro da conjuntura nacional, com estimativas de assuntos que devem nortear debates
Seis temas econômicos que o Brasil deve ficar de olho neste ano
Mercado aguarda governo Lula para definição de temas cruciais à economia em 2023 | Crédito: Rmcarvalhobsb/Adobe Stock

O mundo vive um cenário de contínuos desafios, seja com a inflação em alta, a desaceleração de setores produtivos ou a temerosa elevação dos juros. No Brasil, diante de um movimento político-monetário bem restringido, o emprego se aquece, mas a indústria vive um arrefecimento cada vez mais acentuado nos últimos meses.

A nova projeção do boletim Focus, divulgada nesta segunda-feira, aposta em um avanço de 0,80% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, número ainda considerado tímido pelo mercado interno.

Para o novo ano, os brasileiros verão e viverão ainda o terceiro mandato do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República. Ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, especialistas fizeram as suas apostas sobre o futuro da conjuntura nacional, com estimativas de temas que devem permear as discussões macroeconômicas no País.

Confira abaixo quais são eles:

1) Reforma Tributária

O que é a Reforma Tributária? Pacote de propostas que visam à simplificação de todo o sistema tributário nacional. Dentre as ações que são sugeridas está o fim da cobrança de impostos como o Programa de Integração Social (PIS), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), dentre outros tributos. 

O que dizem os especialistas? Uma grande aposta já para os primeiros seis meses do novo governo é a reforma tributária, tema já contratado para o debate econômico, conforme aponta a economista e financista, Maria Eduarda Albarez. “A reforma tributária é um tema extremamente delicado, pois envolve vários interesses dentro dessa pauta. É um assunto já bastante aguardado para o debate econômico, embora deve resultar num grande efeito de resistência”, afirma.

A pauta é tratada há pelo menos 15 anos em Brasília, e, mesmo que existam dificuldades no horizonte desse debate, ela é enfatizada pelo economista e fundador da Ativo Investimentos, Diego Hernandez. “No Brasil, o imposto indireto é muito forte e sobressai de forma involuntária sobre a sociedade. Agora, uma reforma tributária eficiente é preciso para destravar um crescimento a longo prazo”, ressalta.

2) Agenda Climática 

O que é a Agenda Climática? A Agenda climática é um combo de propostas prioritárias voltadas à manutenção dos recursos naturais, mas que visam também ao combate das mudanças que afetam o clima, o agronegócio, assim como os povos originários. Direcionado ao conceito da consciência coletiva, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em suas aparições durante a corrida presidencial, assim como na COP 27, o seu compromisso emergencial para retirar o País da pobreza, assim como de criar uma agenda climática.

O que dizem os especialistas? As ações apresentadas pelo presidente eleito fazem parte de um compromisso chamado de pacto global, conforme pontua o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Ricardo Machado Ruiz. “Tratar sobre a política ambiental é certamente um dos principais objetivos do novo governo, e ela deve ser reconstruída em função das posições anunciadas na última Conferência do Clima no Egito”.

Para Diego Hernandez, o compromisso emergencial diante do crescente avanço do desmatamento na Amazônia é de fundamental relevância para o Brasil. “Desde o ano de 2019, o Fundo da Amazônia não recebe recursos, e essas destinações internacionais foram suspendidas por vários países. É preciso que o governo possa se apropriar dessa pauta para frear o desmatamento e que integra a agenda de ESG do novo governo”, pontua. 

O economista Luiz Gustavo Bulhões, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), defende que o País precisa reconquistar a confiança junto aos demais países. “Apesar de ser uma pauta de interesse global, o Brasil precisa dar o pontapé para apresentar uma agenda de compromisso ambiental e, por meio dessa agenda, estabelecer a aliança com vários países e resgatar as doações que eram comuns em anos passados”.

3) Inflação

O que é inflação? A economia determina que a inflação é resultado decorrente que vai muito além do aumento de preços de bens e serviços. A inflação pode ser influenciada por problemas produtivos de algum nicho econômico, como a falta de insumos, efeitos naturais como chuvas em excesso, ou até mesmo por uma super procura por um item que está com a oferta prejudicada no mercado. Consequentemente, todos esses fatores resultam na elevação dos preços.

O que dizem os especialistas? O cientista político e analista econômico Ronald Matias Goulard avalia que é preocupante o futuro da inflação do País tendo em vista os últimos acontecimentos. “Vemos aí o forte problema da inflação, assim como a ausência de propostas que foquem inteiramente nos fatores que provocam a inflação no mercado interno. Não há claramente uma posição do Lula que aponte quais as medidas para contornar a inflação. Não tem como fazer uma projeção precisa, pois ele mesmo não deixa essa comunicação clara para o mercado”, pontua.

Para a economista e gestora de empresas Eduarda Porto, as sinalizações do novo governo trazem uma preocupação acentuada diante da questão inflacionária. “O que tenho visto desse novo governo até o momento são sinalizações bastante negativas para o futuro da nossa economia, principalmente no curto prazo. Eu acho que a gente tem um problema grave hoje de uma inflação que ainda está acima da meta, com a taxa de juros bastante restritiva. Existia uma expectativa que a gente pudesse começar a discutir essa redução de juros para o próximo ano”, aponta a especialista, que ainda complementa. “No entanto, eu acho que os aumentos de gastos bem acima do que era esperado e do necessário para recompor o orçamento, assim como as mudanças na legislação, como a Lei das Estatais, que é um retrocesso de governança para as empresas estatais, de maneira geral, indicam que a gente pode voltar a ter um cenário de descontrole fiscal. Esse cenário de descontrole fiscal nós vimos muito bem entre 2014 e 2015. Inclusive, teve um custo alto desde 2016 para essa correção”, observa.

4) Responsabilidade Fiscal

O que é responsabilidade fiscal? A responsabilidade fiscal provém da Lei Complementar de Responsabilidade Fiscal, que tem o objetivo de regulamentar o uso dos recursos públicos. Ou seja, envolve um conjunto de normas de finanças públicas no aspecto de administração e uso do dinheiro nas esferas federal, estadual e municipal dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Durante as suas aparições, principalmente após a sua vitória pelas urnas eletrônicas, Lula enfatizou que pretende tratar de responsabilidade fiscal em 2023, mas não satisfazendo, por completo, os interesses do sistema financeiro.

O que dizem os especialistas? “Nessa pauta de responsabilidade fiscal, a PEC da Transição desgastou bastante o mercado e preocupa o mercado financeiro. Praticamente o governo Bolsonaro ultrapassou o teto de gastos e estourou em R$ 800 bilhões. Enquanto isso, o governo Lula começou com aproximadamente R$ 200 bilhões para a realização dos pagamentos do Bolsa Família. São questões que requerem uma responsabilidade fiscal. Afinal, quanto mais responsável for o compromisso fiscal de um governo, maior será o fôlego do Brasil à frente com fluxo de dólar mais interessante”, é o que avalia o economista Diego Hernandez.

5) Reindustrialização

O que é reindustrialização? É a definição da política de desenvolvimento produtivo de um País. Este tema passa por definições de política tributária, política monetária e comercial. Para o processo de reindustrialização, são necessárias fortes relações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio (Mdic), que retornará em janeiro. Para a pasta, quem assumirá como ministro será o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).

O que dizem os especialistas? O economista Luiz Gustavo Bulhões pontua que pensar em reindustrializar o País é pensar não somente na própria indústria, mas nas forças que potencializam a cadeia industrial. “Temos que entender que, dentro desse contexto, precisam se concentrar a pesquisa, a ciência e a tecnologia. É a partir dos investimentos de políticas públicas diretamente aplicados nessas forças que conseguiremos projetar os avanços do desenvolvimento industrial e econômico do mercado brasileiro para os próximos anos”, diz.

“O Lula, por algumas vezes, mencionou que a questão envolvendo a reindustrialização do País não é trazer de volta o desenvolvimento econômico no Brasil, mas restabelecer a credibilidade, a estabilidade e a previsibilidade nacional. Então, acho que a partir dessa fala dele, a gente começa a pensar por qual caminho as políticas públicas serão definidas”, acrescenta a financista Maria Eduarda Albarez.

6) Políticas de Inclusão Social

O que é Inclusão Social? Foi na década de 80 que surgiu o conceito de Inclusão Social, a partir da criação dos primeiros documentos normativos e legais desenvolvidos para a inclusão de pessoas em sistemas. As primeiras iniciativas foram realizadas para atender às necessidades da pessoa com deficiência (PcD). Depois, o termo ganhou proporção e, simultaneamente, passou a emergir em vários grupos da sociedade, englobando outras necessidades pontuais. As políticas de inclusão social, assim como também os compromissos ambientais e governamentais do País, fazem parte da Agenda ESG.

O que dizem os especialistas? A transferência de renda e a destinação de políticas públicas são necessidades que precisam ser atendidas, porém, existem questões que precisam ser priorizadas pelo governo, conforme sugere o economista Luiz Gustavo Bulhões.

“A grande bandeira do PT é transmitir a ideia de que o Brasil volta a ser feliz. Tudo bem que é importante a destinação de ações como instrumento de inclusão, principalmente para os mais pobres. Contudo, estabelecer auxílios, financiamentos e mais auxílios não resolve o problema em si. É preciso priorizar e fortalecer a educação em toda a sua estrutura, assim como a cultura, o acesso à saúde e a ampliação do programa de habitação popular”.

Diante do que segue propalado na imprensa nacional e internacional de que o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) pode deixar uma dívida interna brasileira bilionária, o economista e docente da Faculdade Arnaldo Janssen Alexandre Miserani acredita que “não vai ser fácil para a equipe do Ministério da Fazenda resolver este cenário de uma forma imediata. Isso vai levar um tempo, até porque as promessas de campanhas de Lula foram muito incisivas. Incisivas no sentido de manter os R$ 600 de auxílio emergencial, de aumentar a alíquota do imposto de renda e de tirar a obrigatoriedade de declarar imposto para quem ganha até R$ 5 mil”. 

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