Economia

Setor de serviços recua em Minas e acende alerta

Em um cenário juros elevados, em março, a categoria recuou 0,9% frente ao mesmo período de 2024, ao passo que permaneceu estável na comparação com fevereiro deste ano
Setor de serviços recua em Minas e acende alerta
Crédito: Reprodução AdobeStock

Pela primeira vez em sete meses, o setor de serviços apresentou resultado desfavorável em Minas Gerais. Em março, a categoria recuou 0,9% frente ao mesmo período de 2024, ao passo que permaneceu estável na comparação com fevereiro deste ano. Os dados constam na Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 12 meses, os resultados contrastaram com o observado no Brasil: houve queda 1,5% em Minas Gerais, enquanto, no País, o avanço foi de 3,0%. Com isso, o Estado figurou entre as cinco unidades federativas no vermelho, junto a Rio Grande do Sul (-9,6%), Roraima (-6,4%), Pernambuco (-4,7%) e Piauí (-1,6%).

Os segmentos de Outros Serviços (-6,7%), Transportes, serviços auxiliares e correio (-2,9%) e Serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,5%) foram os responsáveis por acentuarem a queda. Já a atividade com maior crescimento em comparação com março de 2024 foi a de serviços prestados às famílias, com avanço de 5,4%.

O analista do IBGE responsável pela pesquisa em Minas Gerais, Daniel Dutra, destaca que a manutenção de patamar na comparação com fevereiro foi impulsionada pelas atividades prestadas às famílias, que incluem bares, restaurantes, cabeleireiros, dentre outros segmentos. “A maioria dos indicadores em relação a março do ano passado foram negativos, mas só não foi pior porque serviço prestado a família cresceu bastante e é o que possui maior peso na pesquisa”, acrescenta.

Apesar de ainda preliminares para indicar uma tendência de comportamento anual, os resultados desfavoráveis podem gerar uma apreensão no setor de serviços em Minas Gerais – fator que se acumula a outros entraves, como a alta nos juros e a elevada inflação. “Quando comparamos mês a mês, é normal que oscilações positivas e negativas apareçam. Porém, quedas no comparativo anual não indicadores favoráveis”, explica.

Com exceção do Consumo familiar e Serviços de informação e comunicação (1,5%), o especialista ressalta que o resultado majoritariamente negativo pode ser um sinal de atenção para o mercado, mas ainda há otimismo de crescimento. “Até o momento, são três meses abaixo da média nacional, porém, essa dinâmica ainda pode mudar ao longo do ano e favorecer o Estado”, argumenta.

Já o setor de turismo, analisado separadamente das demais atividades, obteve resultado positivo na variação em relação ao mesmo mês do ano anterior. No período, Minas Gerais avançou 0,9%, enquanto o Brasil apresentou alta de 5,8%.

“Equilíbrio instável” do setor acende alerta

A queda no setor observada em março frente ao ano passado acende um sinal de alerta e sugere que a economia está começando a sentir com mais força os efeitos dos juros altos. “Quando o crédito fica caro e as famílias precisam apertar o orçamento, setores como transporte, consultorias e outros serviços mais especializados tendem a perder fôlego. É como se o ‘freio de mão’ da economia começasse a puxar com mais força, e isso já começa a aparecer nos dados”, detalha o economista e docente do Centro Universitário UniBH, Fernando Sette Jr.

Segundo ele, se a taxa de juros – hoje em 14,75% ao ano – continuar elevada por mais tempo, a tendência é que mais áreas do setor de serviços comecem ser impactadas. “Por enquanto, há uma espécie de equilíbrio instável: alguns segmentos ainda crescem, mas o cenário geral começa a mostrar desgaste”, acrescenta.

Por outro lado, os indicadores positivos, como os serviços prestados às famílias, mostram que, apesar do aperto monetário, ainda há demanda no mercado por atrativos de lazer, convivência e pequenos cuidados pessoais. Entretanto, o economista ressalta que essa retomada pode ter um efeito mais emocional derivado do pós-pandemia, bem como fruto dos avanços no turismo regional, sustentando parte da economia, e impedindo uma queda ainda mais acentuada.

Para os próximos meses, uma eventual continuidade da recuperação dependerá principalmente de como o Banco Central conduzirá a política de juros. “O futuro dependerá também de quanto fôlego as famílias e empresas ainda têm para manter a economia girando”, conclui o economista.

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