Economia

Sigma tem planos para construir refinaria de sulfato de lítio

Ideia é que a unidade química seja integrada à terceira planta greentech do complexo industrial Grota do Cirilo
Sigma tem planos para construir refinaria de sulfato de lítio
Por meio da produção de sulfato, a empresa buscará se tornar o eixo de uma nova cadeia global de materiais de bateria que seja zero carbono e eficiente em termos de capital | Crédito: Divulgação Sigma Lithium

A Sigma Lithium planeja ter, em 2027, uma refinaria de sulfato de lítio no complexo industrial Grota do Cirilo, no Vale do Jequitinhonha. A ideia é que a unidade química seja integrada à terceira planta greentech do empreendimento, prevista para ser construída em 2026.

Por meio da produção de sulfato, a empresa buscará se tornar o eixo de uma nova cadeia global de materiais de bateria que seja zero carbono e eficiente em termos de capital. A companhia afirma que, ao fazer isso, poderia monetizar ainda mais seu perfil de qualidade superior de produto, o qual cita como subvalorizado no mercado atual, sem avançar o suficiente para competir diretamente no segmento intensamente competitivo de derivados químicos de lítio.

Ao Diário do Comércio, a CEO da Sigma, Ana Cabral, explica que o sulfato de lítio é o insumo químico mais agnóstico de toda a indústria, podendo ser utilizado em qualquer tecnologia do cátodo e em qualquer planta, seja da China, Japão ou Alemanha, por exemplo.

O refino de lítio, contudo, tem sido um negócio de margem baixa, conforme dados compilados pela empresa. Isso porque, considerando o produto químico a US$ 14 mil por tonelada, sobra apenas US$ 1 mil/t de lucro bruto ao produzi-lo, já que a conta inclui US$ 3 mil de custo produtivo e US$ 10 mil da compra do pré-químico (US$ 1 mil/t) – no valor do concentrado, foi usado o preço de um concorrente, com um item inferior; com o da Sigma, seria US$ 7 mil.

Na avaliação da executiva, é uma falácia dizer que a fabricação de químico de lítio gera valor agregado, visto que a unidade química somente reduz o volume em relação ao pré-químico. Ela ilustra com os números da própria Sigma, mostrando que a atual produção da companhia, de 270 mil toneladas de concentrado, corresponde a 37 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente.

“A margem é ínfima; por isso, é uma parte da cadeia complicada de se entrar. Porém, como temos um pré-químico melhor, conseguimos ganhar margem de nós mesmos”, destaca, pontuando que, ao integrar a refinaria à nova fábrica que será instalada no Grota do Cirilo, os US$ 7 mil relativos ao pré-químico tornam-se custo de produção. “Simplesmente estarei transferindo minha margem de um lado para o outro. Fora isso, o valor agregado é US$ 1 mil. É um business ruim”, pondera.

Produção de lítio no Grota do Cirilo deve ser mais do que triplicada em três anos

Ana Cabral salienta que é preciso fazer a refinaria de forma prudente, numa época em que o mercado permita que a empresa reporte lucro. E que não é este o momento.

A cautela, inclusive, está no DNA da Sigma, que manteve uma disciplina e um conservadorismo na implementação do complexo industrial, onde instalou uma linha de montagem mesmo com uma infraestrutura para receber três – essa abordagem diminuiu os riscos associados ao projeto.

Agora, com fluxo de caixa e várias fontes de financiamentos disponíveis, a companhia consegue planejar uma expansão mais robusta. Ainda que os preços do lítio estejam em baixa histórica, a empresa está construindo uma nova planta, com previsão de ficar pronta em 2025, com investimento estimado em R$ 492 milhões e capacidade de produzir 250 mil toneladas de concentrado de lítio, ou 34 mil/t de carbonato equivalente. E já idealiza mais uma fábrica em 2026.

A terceira unidade será maior e terá uma capacidade de produção de 400 mil/t de pré-químico, ou 54 mil/t do produto químico. Com a expansão, a empresa mais do que triplicará a produção atual, alcançando 920 mil/t de concentrado, ou 125 mil/t de carbonato – 20 mil/t virão da refinaria de sulfato de lítio, a ser integrada na planta no ano seguinte, segundo a CEO.

Conforme Ana Cabral, essa última fase de ampliação acontecerá em um mercado menos desafiador em termos de preço do lítio. A executiva ressalta que mesmo que os valores permaneçam como estão, até a época, a Sigma terá o dobro de tamanho e mais acesso a crédito.

Sudene aprova incentivo fiscal para a Sigma

A Diretoria Colegiada da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) aprovou, nesta quarta-feira (2), um pleito de incentivo fiscal para a Sigma Lithium. Trata-se de uma redução de 75% do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e adicionais não restituíveis.

A empresa será contemplada pelo investimento realizado no complexo industrial Grota do Cirilo, localizado entre Itinga e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, onde extrai e beneficia lítio.

A região, composta por 55 municípios, foi integrada aos territórios especiais da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por enfrentar desafios socioeconômicos, e com o intuito de promover um desenvolvimento sustentável na exploração do lítio.

Esses territórios especiais contam com condições diferenciadas em relação aos instrumentos de ação da pasta e de vinculadas, como a Sudene, entre eles, os fundos regionais.

A finalidade da PNDR é reduzir as desigualdades econômicas e sociais nas regiões brasileiras, buscando o crescimento econômico sustentável, a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida da população. Ela atua como alicerce para as demais políticas, programas e ações do MIDR.

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