Suggar aposta em eficiência para encarar 2026
Em um ambiente marcado por juros elevados, consumo pressionado e incertezas macroeconômicas, a Suggar Eletrodomésticos encerra 2025 com o resultado praticamente no mesmo patamar do ano anterior e projeta um crescimento moderado para 2026. Segundo o CEO da companhia, Leandro Costa, a estratégia passa por disciplina financeira, investimentos pontuais e ganho de mercado sobre os concorrentes.
“Este ano foi um ano de muitos desafios. Estamos brigando muito para empatar com 2024 e virar o ano sem queda nas vendas. A principal dificuldade é a taxa Selic, porque trabalhamos com capital de terceiros e com a taxa nesse patamar, obriga a gente trabalhar com estoques menores, o que impacta diretamente nas vendas”, afirma o executivo.
Com forte presença no segmento de eletrodomésticos populares, a Suggar sente de forma direta os efeitos do crédito caro. “Nossos produtos são vendidos em parcelas. Quando o juro está alto, o consumidor sofre e isso freia a demanda”, diz Costa.
Hoje, os carros-chefe da empresa continuam sendo as lavadoras semiautomáticas, mais conhecidas como tanquinhos, além dos depuradores e coifas. Nos últimos anos, porém, os fogões ganharam peso relevante no faturamento. “Em receita, os fogões já ultrapassam os depuradores, porque são produtos de maior valor agregado”, explica.

A maior parte dos itens mais vendidos pela Suggar é fabricada no Brasil, embora utilize componentes importados. “A base dos nossos produtos é nacional, mas todos têm algum nível de componente importado”, afirma o CEO. Um exemplo é o forno elétrico, que chega ao País no modelo chamado CKD (completely knocked down), totalmente desmontado. “Ele vem da China e aqui a gente monta, agrega pintura, embalagem e valor ao produto”, diz.
Atualmente, a companhia mantém quatro operações industriais: a matriz, que está em funcionamento desde 1978; uma unidade dedicada exclusivamente à produção de lavadoras; uma fábrica de fogões, inaugurada em 2021, a mais recente expansão da empresa, todas no bairro Olhos D’Água, em Belo Horizonte ; e uma planta na Paraíba, inaugurada há 11 anos para atender mais de perto ao mercado nordestino. “O Nordeste consome muito tanquinho. Além de ser um produto popular, o clima ajuda, porque a roupa seca rápido. Em regiões frias, o tanquinho é menos vendido”, destaca.
2026 com o “pé no freio”
Apesar de seguir investindo em novos produtos, design e maquinário, a Suggar não prevê expansões de plantas no curto prazo. “Com a Selic do jeito que está, a gente coloca o pé no freio em investimentos mais robustos. Não estamos abrindo fábricas novas, mas também não podemos parar de investir”, afirma Costa.
Mesmo assim, a empresa traçou uma meta de crescimento de 5% para 2026. “As condições macroeconômicas não são favoráveis, mas nossa meta é crescer acima dos concorrentes. Vai ter que ser na disputa de mercado”, diz.
O executivo pondera que fatores como Copa do Mundo e ano eleitoral tendem a desviar o orçamento das famílias. “O consumidor gasta mais com a festa em si, a compra de uma televisão nova e acaba sobrando menos para outros eletrodomésticos”, afirma.
Outro ponto de preocupação são as apostas on-line. “As bets estão tirando bilhões do bolso da população. É dinheiro que deixa de ir para o consumo”.
Investimento em automação tenta minimizar problema da mão de obra
Com cerca de 1,3 mil colaboradores, a Suggar enfrenta dificuldades crescentes para contratar, especialmente no chão de fábrica. “Contratar está muito difícil. O jovem busca flexibilidade, e nossa atividade começa às 7h, nossas fábricas estão distantes dos centros comerciais e tem trabalho físico. Isso dificulta a atratividade da nova geração”, relata o CEO.
Como resposta, a empresa tem ampliado investimentos em automação, robótica e inteligência artificial. “Essa é a realidade. A automação é uma forma de reduzir a dependência de mão de obra, porque simplesmente não está fácil encontrar gente para trabalhar”, justifica.
O executivo critica o excesso de bolsas sociais. “A gente não pode deixar de dizer, mas hoje, um quarto da população ganha Bolsa Família. Essas pessoas não querem ser empregadas e nem querem ter carteira assinada para não perder os benefícios”, diz.
Como forma de atrair e reter os colaboradores, o executivo conta que a empresa adotou a oferta extra de benefícios para combater as atividades de complemento de renda, ou os conhecidos ‘bicos’. “Quem não se ausenta e não apresenta atestado médico para afastamento durante o mês, ganha os benefícios extras. Mas mesmo assim, muitas vezes o pessoal prefere perdê-los para fazer o bico porque ganha mais”, ressalta.
Outra prática que a companhia adotou, foi revisar a jornada de trabalho para atrair estagiários, que, conforme Costa, tem se tornado outra dificuldade. “Reduzimos a carga horária de oito para seis horas para ficar mais alinhado ao mercado”, afirma Costa.
Reforma tributária e expectativas
Crítico da elevada carga de obrigações impostas às empresas, o CEO vê a reforma tributária de forma positiva, com ressalvas. “Ela vai aumentar o dever de controle das empresas e, na prática, deve elevar impostos. O lado positivo é mostrar com mais clareza quanto se paga de tributo, mas redução mesmo não parece que vai acontecer”, avalia.
Para 2026, a expectativa está ligada principalmente a uma eventual queda dos juros. “A diferença entre inflação e juros está muito alta. Tem espaço para reduzir sem pressionar a inflação, e isso faria muita diferença para o nosso setor, que é um dos primeiros a sentir qualquer estímulo econômico”, afirma.
Uma história de quase cinco décadas
À frente da Suggar há oito anos como presidente, após uma trajetória de 25 anos na empresa, Leandro Costa carrega o legado do fundador, seu pai Lúcio Costa. “Meu pai começou do zero. Foi engraxate, catou sucata, vendeu bala em circo. Se tornou gerente de uma multinacional e em 1978 realizou o sonho de fundar a empresa”, relembra.
Segundo Costa, enquanto o pai apostou mais em marketing para crescer, a ponto da marca virar o nome do produto, como o caso do suggar da Suggar. Na gestão dele, o que têm procurado agregar a trajetória de sucesso é cada vez mais qualidade, não abandonando o marketing. “As vendas on-line obrigaram a nos fortalecer nesse campo visual”, comenta.
Atualmente, a Suggar fabrica cerca de 2,5 milhões de produtos por ano e lidera os segmentos de coifas, depuradores e lavadoras semiautomáticas no Brasil. “Saímos de uma empresa pequena para uma indústria nacional forte, e o desafio agora é continuar crescendo mesmo em um cenário tão adverso”, conclui o CEO.
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