Economia

Suggar aposta em eficiência para encarar 2026

Indústria mineira deve fechar a ano com desempenho no mesmo patamar do exercício anterior
Suggar aposta em eficiência para encarar 2026
Suggar Eletrodomésticos estima crescimento de 5% nos negócios em 2026 após repetir os resultado de 2024 neste ano | Foto: Diário do Comércio / Juliana Sodré

Em um ambiente marcado por juros elevados, consumo pressionado e incertezas macroeconômicas, a Suggar Eletrodomésticos encerra 2025 com o resultado praticamente no mesmo patamar do ano anterior e projeta um crescimento moderado para 2026. Segundo o CEO da companhia, Leandro Costa, a estratégia passa por disciplina financeira, investimentos pontuais e ganho de mercado sobre os concorrentes.

“Este ano foi um ano de muitos desafios. Estamos brigando muito para empatar com 2024 e virar o ano sem queda nas vendas. A principal dificuldade é a taxa Selic, porque trabalhamos com capital de terceiros e com a taxa nesse patamar, obriga a gente trabalhar com estoques menores, o que impacta diretamente nas vendas”, afirma o executivo.

Com forte presença no segmento de eletrodomésticos populares, a Suggar sente de forma direta os efeitos do crédito caro. “Nossos produtos são vendidos em parcelas. Quando o juro está alto, o consumidor sofre e isso freia a demanda”, diz Costa.

Hoje, os carros-chefe da empresa continuam sendo as lavadoras semiautomáticas, mais conhecidas como tanquinhos, além dos depuradores e coifas. Nos últimos anos, porém, os fogões ganharam peso relevante no faturamento. “Em receita, os fogões já ultrapassam os depuradores, porque são produtos de maior valor agregado”, explica.

Leandro Costa
Leandro Costa aponta o impacto negativo da taxa de juros elevada nas vendas da Suggar em 2025 | Foto: Diário do Comércio / Juliana Sodré

A maior parte dos itens mais vendidos pela Suggar é fabricada no Brasil, embora utilize componentes importados. “A base dos nossos produtos é nacional, mas todos têm algum nível de componente importado”, afirma o CEO. Um exemplo é o forno elétrico, que chega ao País no modelo chamado CKD (completely knocked down), totalmente desmontado. “Ele vem da China e aqui a gente monta, agrega pintura, embalagem e valor ao produto”, diz.

Atualmente, a companhia mantém quatro operações industriais: a matriz, que está em funcionamento desde 1978; uma unidade dedicada exclusivamente à produção de lavadoras; uma fábrica de fogões, inaugurada em 2021, a mais recente expansão da empresa, todas no bairro Olhos D’Água, em Belo Horizonte ; e uma planta na Paraíba, inaugurada há 11 anos para atender mais de perto ao mercado nordestino. “O Nordeste consome muito tanquinho. Além de ser um produto popular, o clima ajuda, porque a roupa seca rápido. Em regiões frias, o tanquinho é menos vendido”, destaca.

2026 com o “pé no freio”

Apesar de seguir investindo em novos produtos, design e maquinário, a Suggar não prevê expansões de plantas no curto prazo. “Com a Selic do jeito que está, a gente coloca o pé no freio em investimentos mais robustos. Não estamos abrindo fábricas novas, mas também não podemos parar de investir”, afirma Costa.

Mesmo assim, a empresa traçou uma meta de crescimento de 5% para 2026. “As condições macroeconômicas não são favoráveis, mas nossa meta é crescer acima dos concorrentes. Vai ter que ser na disputa de mercado”, diz.

O executivo pondera que fatores como Copa do Mundo e ano eleitoral tendem a desviar o orçamento das famílias. “O consumidor gasta mais com a festa em si, a compra de uma televisão nova e acaba sobrando menos para outros eletrodomésticos”, afirma.

Outro ponto de preocupação são as apostas on-line. “As bets estão tirando bilhões do bolso da população. É dinheiro que deixa de ir para o consumo”.

Investimento em automação tenta minimizar problema da mão de obra

Com cerca de 1,3 mil colaboradores, a Suggar enfrenta dificuldades crescentes para contratar, especialmente no chão de fábrica. “Contratar está muito difícil. O jovem busca flexibilidade, e nossa atividade começa às 7h, nossas fábricas estão distantes dos centros comerciais e tem trabalho físico. Isso dificulta a atratividade da nova geração”, relata o CEO.

Como resposta, a empresa tem ampliado investimentos em automação, robótica e inteligência artificial. “Essa é a realidade. A automação é uma forma de reduzir a dependência de mão de obra, porque simplesmente não está fácil encontrar gente para trabalhar”, justifica.

O executivo critica o excesso de bolsas sociais. “A gente não pode deixar de dizer, mas hoje, um quarto da população ganha Bolsa Família. Essas pessoas não querem ser empregadas e nem querem ter carteira assinada para não perder os benefícios”, diz.

Como forma de atrair e reter os colaboradores, o executivo conta que a empresa adotou a oferta extra de benefícios para combater as atividades de complemento de renda, ou os conhecidos ‘bicos’. “Quem não se ausenta e não apresenta atestado médico para afastamento durante o mês, ganha os benefícios extras. Mas mesmo assim, muitas vezes o pessoal prefere perdê-los para fazer o bico porque ganha mais”, ressalta.

Outra prática que a companhia adotou, foi revisar a jornada de trabalho para atrair estagiários, que, conforme Costa, tem se tornado outra dificuldade. “Reduzimos a carga horária de oito para seis horas para ficar mais alinhado ao mercado”, afirma Costa.

Reforma tributária e expectativas

Crítico da elevada carga de obrigações impostas às empresas, o CEO vê a reforma tributária de forma positiva, com ressalvas. “Ela vai aumentar o dever de controle das empresas e, na prática, deve elevar impostos. O lado positivo é mostrar com mais clareza quanto se paga de tributo, mas redução mesmo não parece que vai acontecer”, avalia.

Para 2026, a expectativa está ligada principalmente a uma eventual queda dos juros. “A diferença entre inflação e juros está muito alta. Tem espaço para reduzir sem pressionar a inflação, e isso faria muita diferença para o nosso setor, que é um dos primeiros a sentir qualquer estímulo econômico”, afirma.

Uma história de quase cinco décadas

À frente da Suggar há oito anos como presidente, após uma trajetória de 25 anos na empresa, Leandro Costa carrega o legado do fundador, seu pai Lúcio Costa. “Meu pai começou do zero. Foi engraxate, catou sucata, vendeu bala em circo. Se tornou gerente de uma multinacional e em 1978 realizou o sonho de fundar a empresa”, relembra.

Segundo Costa, enquanto o pai apostou mais em marketing para crescer, a ponto da marca virar o nome do produto, como o caso do suggar da Suggar. Na gestão dele, o que têm procurado agregar a trajetória de sucesso é cada vez mais qualidade, não abandonando o marketing. “As vendas on-line obrigaram a nos fortalecer nesse campo visual”, comenta.

Atualmente, a Suggar fabrica cerca de 2,5 milhões de produtos por ano e lidera os segmentos de coifas, depuradores e lavadoras semiautomáticas no Brasil. “Saímos de uma empresa pequena para uma indústria nacional forte, e o desafio agora é continuar crescendo mesmo em um cenário tão adverso”, conclui o CEO.

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