Em ano de tarifaço, mercado interno reduz produção de ferro-gusa

As usinas mineiras independentes de ferro-gusa encerrarão 2025 com recuo de 3,7% na produção ante 2024, segundo estimativa do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG). Caso a projeção se confirme, o total produzido no ano será de 3,64 milhões de toneladas, das quais 73% destinadas ao exterior e o restante ao Brasil.

Embora a participação do mercado interno seja inferior, o resultado negativo do setor está associado à menor demanda das aciarias e fundições do País, conforme o presidente da entidade, Fausto Varela. A queda nas compras das maiores consumidoras – as produtoras de aço – tem relação com os desafios que a siderurgia nacional enfrenta com as importações.

O desempenho poderia ser pior não fosse a alta procura de clientes internacionais pelo ferro-gusa mineiro. No acumulado de janeiro a novembro, o volume exportado pelas usinas independentes cresceu 11%, impulsionado, principalmente, pelos Estados Unidos (EUA), que responderam por 88% dos embarques, mesmo em um ano marcado pelo tarifaço.

Vale lembrar que, em abril, o governo norte-americano passou a cobrar 10% de todas as importações do Brasil no âmbito das tarifas recíprocas aos parceiros comerciais. À época, a taxa gerou apreensão no setor, mas as exportações mantiveram o ritmo positivo.

Três meses depois, os Estados Unidos anunciaram que passariam a aplicar uma alíquota de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de agosto. A eventual mudança trouxe impactos imediatos, incluindo a paralisação de operações em razão de cancelamentos de compras.

No fim de julho, foi assinada pelo presidente Donald Trump a ordem executiva que autorizou a entrada em vigor da medida, contudo, o documento listou centenas de itens que seriam isentos da tarifa adicional de 40%, entre eles, o ferro-gusa. Isso amenizou a insegurança no mercado e as usinas independentes voltaram à normalidade.

Setor lida com preços baixos

Ainda que as exportações não tenham retraído, o tarifaço dos EUA pressionou os preços do ferro-gusa, impondo mais um desafio às usinas independentes mineiras. De acordo com o presidente do Sindifer-MG, o valor médio do produto no mercado internacional em novembro era aproximadamente 11% menor que o observado em janeiro, enquanto os custos do setor se mantiveram e, em alguns casos, até subiram.

Apesar da desvalorização, o executivo ressalta que o preço de venda ao exterior segue bem acima do que o mercado doméstico propõe pagar, o que explica o setor concentrar a maior parte das vendas no exterior. Varela salienta que o valor médio no Brasil está aquém das necessidades das empresas quando se compara com o custo de produção.

Expectativa de recuperação em 2026

O sindicato não concluiu as estimativas para 2026 da performance das usinas independentes de ferro-gusa no Estado, no entanto, conforme Varela, a expectativa é de reversão do cenário deste ano. A recuperação dos preços internacionais, assim como a retirada dos 10% aplicados pelos EUA sobre a importação do produto – para que as negociações não tenham nenhuma barreira –, são vistas como pontos que trariam avanço para o setor.

“Estamos vendo a movimentação nas negociações de aciarias norte-americanas e em outros países, o que pode nos favorecer”, destaca o presidente do Sindifer-MG.

“Também estamos, cada vez mais, mostrando para os nossos clientes e potenciais compradores a diferença do ferro-gusa produzido em Minas Gerais em relação ao restante do mundo, com baixíssima pegada de carbono, por utilizarmos carvão vegetal, oriundo de florestas plantadas”, sublinha, indicando que as vendas tendem a aumentar quanto maior for a conscientização pelo uso do produto ambientalmente sustentável.