Economia

Transporte público de Belo Horizonte pode ter frota elétrica

Medida deve exigir investimento de R$ 8 bilhões
Transporte público de Belo Horizonte pode ter frota elétrica
Ônibus elétricos custam três vezes mais que os veículos que utilizam os combustíveis fósseis | Crédito: Karoline Barreto / CMBH

Vereadores da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) protocolaram ontem um projeto de lei (PL) que busca definir o futuro da mobilidade elétrica na Capital. Caso aprovada, a proposição estabelece que a transição de toda a frota que atende os serviços de transporte público deve ocorrer até 2028. A estimativa é que a medida custe R$ 8 bilhões, sendo que, com o avanço da proposta, o Legislativo deverá discutir as formas de financiamento.  

Os custos necessários para a substituição da frota foram informados pelo vereador Gabriel Azevedo (sem partido). Além de ônibus e a própria linha do Move,o projeto pretende dar as normativas para que taxistas também tenham os veículos substituídos. De acordo com Azevedo, os veículos elétricos para o transporte de passageiros custam, hoje, cerca de três vezes mais do que os movidos a combustíveis fósseis. 

À primeira vista, os custos podem até parecer maiores. No entanto, o consultor de mobilidade urbana Sergio Avelleda pontua que os veículos elétricos apresentam como vantagem a economia com manutenção e energia. Enquanto os veículos que utilizam diesel têm quase 20 mil componentes elétricos, aqueles elétricos têm menos de 2 mil. 

“O ônibus elétrico opera com custos de energia mais baixos. Os estudos mostram que ele é 75% mais barato. Você tem um custo mais alto na entrada (no momento da compra), mas você recupera no dia a dia. No ciclo total, o veículo elétrico é mais rentável”, explica o especialista. 

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Energia elétrica e viabilidade

A energia elétrica também é um fator que torna o ônibus elétrico mais barato. Avelleda ressalta, nesse sentido, que a maior parte da carga dos ônibus em projetos como os propostos na CMBH deve ser feita no período noturno. É exatamente nessas horas em que a energia gerada pelas hidrelétricas é menos utilizada. Os horários de pico, geralmente, envolvem o período do dia e do final do dia. 

O vereador Gabriel Azevedo citou a possibilidade de as garagens de ônibus, por exemplo, receberem painéis fotovoltaicos para geração de parte da energia utilizada pelos ônibus. Ele defende que a meta de 2028 é suficiente para a troca da frota, principalmente com uma atuação conjunta com o poder público. Ele acredita, ainda, que o caminho passa por demonstrar os benefícios dos veículos para o meio ambiente e para economia de passageiros e donos de táxis, por exemplo.

“É sempre bom lembrar, uma vez que isso impacta na vida do taxista e de quem tem um suplementar, que esse processo vai contar com procedimento de facilitar a troca dos veículos. E eu acredito que a Prefeitura e a própria Câmara Municipal terão sensibilidade de não impor nada à sociedade de maneira a dificultar o procedimento. Mas sim de modo gradativo auxiliar na transição”, afirmou Azevedo. 

Especificamente sobre o valor da passagem, o vereador analisa que o mesmo deve cair. Isso porque, conforme pontua, as variações do preço da passagem, hoje, estão muito ligadas ao comportamento do preço do combustível e, principalmente, do diesel.

Desafio, silêncio e meio ambiente

Sergio Avelleda lembra que o motor elétrico já é dominado há décadas. Os exemplos mais comuns são os trens e os metrôs. Ao longo dos anos, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de baterias também permitiu que a mobilidade elétrica avançasse. 

O desafio, portanto, está no compromisso das prefeituras e na criatividade para viabilizar modelos de financiamento que atendam à sociedade. Formas de subsídio oferecidas às operadoras de transporte é uma opção válida. Outro caminho seriam licitações feitas pelas prefeituras. Estas podem, posteriormente, alugar os veículos às operadoras, complementa Avelleda.

Além dos benefícios com a redução dos custos de manutenção e abastecimento, Avelleda cita as questões ambientais, que são cada vez mais urgentes.

“O sistema de mobilidade nas cidades é um dos principais opressores da qualidade do ar, responsável por 70% da contaminação. E se a gente quer cidades mais sustentáveis e que contribuam para a redução de emissão dos gases, não há outra maneira se não a mudança da matriz energética”, afirma. 

Avelleda pontua que já há cidades na China e em países europeus que estão avançadas ou avançando na transição de frotas. Mas não é só: na América do Sul, as cidades de Santiago, no Chile, e Bogotá, na Colômbia, também já operam com mais de 500 veículos elétricos.

Em São Paulo, 18 ônibus elétricos estão em circulação. Até o momento, as baterias dos mesmos já suportaram distâncias que, somadas, chegam a 18 milhões de quilômetros. Para ele, mais uma vez, essa é uma demonstração da viabilidade da implantação dos ônibus. 

A qualidade de vida, do ar e a redução das emissões de gases oriundas da capital mineira também são citadas no projeto de lei enviado à Câmara. Ele passa agora para avaliação das comissões permanentes da Casa antes de chegar à votação, que será feita em dois turnos. 

Enquanto o projeto não é aprovado, Avelleda garante que a diferença para a cidade é significativa: 

“Um outro elemento muito importante é o silêncio. As nossas cidades são muito barulhentas. E isso causa não só desconforto, mas doenças que afetam, principalmente, a primeira infância e o idoso. No veículo elétrico, há ausência de ruído”, destacou. 

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas