Três pilares do desenvolvimento sustentável ancoram o projeto
O trabalho de estruturação da Plataforma Mineira de Biocombustíveis e Renováveis, liderado pela Sedectes por meio da Subsecretaria de Desenvolvimento Econômico, reúne instituições estaduais e federais, entre elas as universidades Estadual de Montes Claros (Unimontes), Federal de Minas Gerais (UFMG), Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Federal de Viçosa (UFV). Há parceria de municípios, bem como de empresas privadas como a Soleá/Acrotech, Embraer, Boeing e Gol Linhas Aéreas.
A intenção é fazer com que benefícios sejam proporcionados ao Estado e à sociedade, por meio da introdução de uma nova economia com a geração de uma matriz sustentável, desenvolvendo e integrando novas cadeias produtivas com efeitos multiplicadores para a economia regional e nacional no contexto da energia sustentável.
Na prática, três pilares do desenvolvimento sustentável ancoram o projeto. Um deles é o ambiental, com impactos positivos na recuperação de áreas degradadas, bacias de rios e afluentes, bem como na redução das emissões de CO² na atmosfera.
Os demais pilares são o econômico e o social, e a expectativa é de que eles beneficiem uma expressiva quantidade de municípios com a geração de emprego e renda no campo e na cidade, com a cadeia produtiva (plantio, colheita da macaúba e indústria).
A consistência do trabalho desenvolvido em várias frentes e a liderança do governo do Estado ao reunir instituições de pesquisa e empresas privadas despertam otimismo e esperança de que Minas Gerais seja protagonista em uma cadeia produtiva da macaúba.
Viabilidade econômico-financeira – Na opinião da pesquisadora Vânya Pasa, a macaúba apresenta viabilidade, pois tem elevada produtividade de óleo; a palmeira é perene e não compete com alimentos. Além disso, gera matéria-prima para diversos produtos e pode ser cultivada de forma consorciada com lavouras de café, favorecendo a atividade com o sombreamento parcial, bem como pode estar junto às pastagens no mesmo espaço da criação de gado.
Por ser nativa, a macaúba pode ser plantada em áreas de proteção permanente, inclusive para preservar nascentes e recuperar terras degradadas. “A palmeira poderá beneficiar a agricultura familiar e empresas que queiram ter florestas homogêneas. Permite muitos cenários para geração de renda no Estado, sendo bem adaptada a terrenos de relevo irregular”, afirma Vânya Pasa.
Existe uma variedade de produtos que podem surgir a partir da macaúba, como os de química fina e cosméticos, com o óleo da amêndoa; biocombustíveis e solventes para tintas, com o óleo da polpa; carvão ativado a partir do endocarpo; bio-óleo para substituir óleos combustíveis a partir de resíduos lignocelulósicos; e ração animal com a torta após prensagem do fruto.
A pesquisadora relata ainda que é possível produzir etanol de segunda geração com a celulose dos resíduos ligno-celulósicos ou promover a liquefação (passar ao estado líquido) da torta para a produção de poliuretanos. Estes polímeros já foram desenvolvidos no grupo de pesquisas do LEC-UFMG, tanto na forma de espumas como revestimentos.
“As possibilidades são enormes, não há como não ter viabilidade econômica se considerarmos um aproveitamento integral da palmeira, sua elevada rusticidade, baixa exigência hídrica e elevada produtividade em óleo: 4.000 a 6.000 litros por hectares/ano”, ratifica Vânya Pasa.
Mesmo com um bom volume de informações e evidências, a Sedectes trabalha para que seja realizado um estudo detalhado de viabilidade técnica e econômica da cadeia produtiva da macaúba em Minas Gerais. Além do que já se avançou, esse trabalho servirá para consolidação do projeto, que visa atrair e convencer o agronegócio para investir.
Bioquerosene fora do Brasil – A energia sempre foi imprescindível ao desenvolvimento da economia. Porém, nos últimos anos, os modelos tradicionais de energia, incluindo a fóssil, foram sendo questionados pelos pesquisadores, que cientificamente demonstraram danos ao meio ambiente com reflexos diretos ao efeito estufa. Com esse trabalho, nas últimas décadas aumentaram-se as alternativas renováveis, eficientes e menos poluentes para geração de energia, incluindo o bioquerosene.
A cientista Vânya Pasa registra que há no mundo empresas, universidades e institutos de pesquisa desenvolvendo tecnologias de forma contínua, com infraestrutura para novos processos, reatores contínuos e plantas-piloto adequadas sem redução de investimentos como ocorre no Brasil.
Ela cita unidades de produção do bioquerosene nos Estados Unidos e voos que utilizam o biocombustível de forma contínua. A empresa AltAir Fuel fornece bioquerosene para a American Airlines, em Los Angeles. Há também a Honeywell e a Neste, com o bioquerosene produzido a partir de lipídeos.
Existem unidades de produção de bioquerosene pelo processo fisher tropsch, em que resíduos ligno-celulósicos são convertidos em gás (CO e H²) transformados em hidrocarboneto de diferentes tamanhos, inclusive na faixa do querosene.
Outras produzem biocombustíveis a partir do álcool como a Gevo e a Total; enquanto algumas fabricam o produto a partir de açúcares com a Virent e Amyris. Esta última possui unidade no Brasil, mas não direcionada ao bioquerosene, pois os custos ainda são elevados.
De acordo com a U.S. Energy Information Administration, principal agência do Sistema Estatístico Federal dos EUA, a estimativa é de que o consumo atual de combustível no setor aeronáutico corresponda a 11% do total demandado para transporte no mundo, o equivale a 280 milhões de toneladas.
O principal reflexo disso é a emissão de aproximadamente 700 milhões de toneladas equivalentes de CO², que correspondem a aproximadamente 2% do total de emissões antrópicas, ou seja, praticadas pelo homem. E o crescimento médio esperado pelo setor até 2050 é da ordem de 3,1% ao ano, situação que agravaria ainda mais o quadro existente.
Com a ratificação do Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a reduzir 37% das emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE, até 2025, e 43%, até 2030. Uma das estratégias para alcançar essas metas é aumentar a participação da bioenergia sustentável, o que representa aumento da produção e o consumo de novas fontes.
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