Economia

Zema aposta em avanços em um segundo mandato

Se reeleito, governador pretende realizar aportes em infraestrutura, saúde e educação
Zema aposta em avanços em um segundo mandato

A menos de duas semanas das Eleições 2022, o DIÁRIO DO COMÉRCIO publica hoje a entrevista com o candidato à reeleição ao governo de Minas Gerais, Romeu Zema, do partido Novo. Desde o início do mês, alguns dos principais candidatos ao cargo máximo do Executivo mineiro vêm sendo sabatinados a respeito de assuntos do interesse do empresariado, como investimentos, infraestrutura, gestão pública, desenvolvimento sustentável e a estruturação de um projeto de Estado que una a sociedade mineira em torno de um propósito comum.

Lorene Figueiredo (PSOL) foi a primeira entrevistada. Depois foi a vez de Marcus Pestana (PSDB) e na última semana, Carlos Viana, candidato pelo PL, falou ao DC. Todos os conteúdos podem ser conferidos na íntegra em nossas plataformas digitais.

O candidato Alexandre Kalil (PSD) também foi convidado a participar, porém, sua equipe alega falta de agenda.

Natural de Araxá, no Alto Paranaíba, Romeu Zema tem 53 anos e é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas. Atual governador de Minas Gerais, iniciou a vida política em 2018, vencendo as eleições para o Estado no segundo turno. Antes de ingressar na vida pública, atuava no Grupo Zema, composto por empresas de varejo, distribuição de combustíveis, concessionárias de veículos, serviços financeiros e autopeças. O candidato a vice-governador é Mateus Simões, advogado e ex-secretário-geral da atual gestão.

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Confira trecho da entrevista exclusiva

De que maneira um novo mandato poderá impulsionar a economia e a geração de empregos e renda no Estado?

Um segundo mandato meu obrigatoriamente terá de ser melhor do que o primeiro por uma série de motivos. Primeiro eu terei uma base legislativa que me faltou no primeiro. Há quatro anos fiz uma campanha solo; agora estou fazendo uma campanha aliada a diversos partidos, o que nos propiciará uma base legislativa que vai fazer com que muitas das nossas propostas que ficaram paradas e foram até sabotadas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, sejam destravadas. Segundo: não sou mais o governador de primeira viagem de quatro anos atrás. Hoje, conheço melhor a máquina do Estado, já que antes eu não era funcionário público e não tinha nenhuma carreira no Estado. Entendo de gestão e gestão é gestão em todo lugar, mas no setor público há suas particularidades. E terceiro: não terei o peso de iniciar um mandato tendo de pagar, como paguei nos últimos quatro anos, R$ 30 bilhões para servidores públicos, fornecedores e prefeitos, fruto de uma dívida que precisava ser paga. Isso significa que num segundo mandato eu terei um recurso adicional muito maior para fazer investimentos em infraestrutura, saúde, educação e também na segurança – todas áreas caras ao desenvolvimento. Os dados do Caged do Ministério do Trabalho indicam que estamos no caminho certo. Apesar da pandemia, de uma série de percalços causados pela tragédia de Brumadinho, criamos 550 mil empregos com carteira assinada em Minas Gerais. E se continuarmos na velocidade em que estamos, vamos poder falar com orgulho daqui a dois anos que só não tem emprego em Minas Gerais, quem não quer.

Pretende seguir focado na diversificação econômica? O que fazer para que ela, de fato, ocorra? Em quais setores vê mais potencial?

Estamos atraindo investimentos em nível recorde. Já foram R$ 250 bilhões, contra R$ 26 bilhões do governo passado. Isso já representa dez vezes mais. E com certeza até o final do mandato, vamos superar esses valores. Isso é um patamar sem precedentes na história de Minas Gerais que, no nosso entender, está muito relacionado à credibilidade do Estado. Hoje, o investidor sabe que aqui o projeto dele não vai ficar engavetado, a análise não vai ficar aguardando anos para ser feita como no passado, e que ninguém vai pedir valores para seguir os trâmites. O investidor hoje vê em Minas Gerais um Estado onde ele não vai ter percalços caso faça o investimento. Não é que o Estado libera tudo, mas o investidor sabe que vai ter um sim ou não rapidamente e se tiver um não, quais os motivos levaram à reprovação do projeto. Isso é fundamental. E a diversificação também já está acontecendo. Esse volume recorde de investimentos ocorreu em diversos setores, principalmente naqueles ligados à energia renovável. Isso também mostra nossa preocupação e foco em tornar nosso Estado sustentável. Nunca se instalou em Minas Gerais tantas usinas fotovoltaicas como nesses últimos quatro anos e isso vai continuar acontecendo. Nossa preocupação é termos aqui um crescimento sustentável.

A situação fiscal de Minas ainda é delicada e o Regime de Recuperação não foi aprovado pela ALMG e ainda é muito criticado por muitos. Este é o melhor caminho para equacionar as finanças do Estado?

Na verdade, o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) não foi aprovado pela Assembleia, mas foi autorizado pelo Supremo Tribunal Federal. E vamos deixar claro, o presidente da Assembleia não deixou sequer o projeto ser analisado. Nenhum deputado votou a favor ou contra o RRF. Mas agora já temos essa autorização e boa parte do maior problema que tínhamos em Minas Gerais está equacionado. Porque sem o Regime de Recuperação Fiscal teríamos que pagar R$ 5 bilhões para o Tesouro Nacional apenas em 2022. Com a adesão ao Regime, esse valor caiu para cerca de R$ 1 bilhão. No ano que vem a proporção será mais ou menos a mesma. Ao invés de pagar R$ 10 bilhões, vamos pagar R$ 2 bilhões. Ou seja, o Regime propõe que ao invés de pagar essa dívida de R$ 50 bilhões em cinco anos, ela seja paga em 30, com uma série de facilidades, como uma taxa de juros menor e outras compensações. O que isso significa? Mais dinheiro para infraestrutura, para recomposição salarial, para educação, etc. Quem é contra o RRF, no meu entender, é contra porque não o conhece. Mas infelizmente no Brasil os problemas em vez de serem analisados tecnicamente, muitas vezes, são analisados politicamente ou pior, ideologicamente. Há quem diga que é contra o RRF porque ele vai prejudicar os servidores, porque vai impedir concursos. Nós não estamos inventando a roda. O Rio Grande do Sul já aderiu, assim como Goiás e Rio de Janeiro. Perguntem se os servidores públicos fizeram greve ou foram prejudicados, se está tendo ou não concurso.  Só aqui em Minas Gerais existe essa resistência. O que o Regime prevê é o que qualquer gestão precisa: gastar menos do que arrecada. Quem é contra deve querer continuar gastando mais do que arrecada, porque a única coisa prevista é isso. Você só não pode contratar ou dar reajuste, se estiver gastando mais do que arrecadando. E no ano passado já tivemos equilíbrio nas contas públicas. É só continuarmos.

O senhor foi eleito em 2018 defendendo a privatização de empresas públicas como Cemig, Copasa e Gasmig, o que não ocorreu. Esses projetos seguem no escopo da reeleição?

Até o momento vendemos imóveis do Estado. Fizemos concessões do Mineirinho, do Aeroporto da Pampulha, do Terminal Rodoviário e vamos continuar com esse movimento. Eu sempre falo: tem algum mineiro que tenha saudade da Telemig Celular? Do Bemge? Da Minas Caixa ou do Banco de Crédito Real? O que queremos é exatamente isso. A Cemig nos últimos 15 anos foi usada de maneira a atender a politicagem. A estatal fez investimentos em diversos estados do Brasil e deixou Minas Gerais sucateada. E agora, mesmo vendendo as participações na Light, Belo Monte, Santo Antônio e Renova, vamos ter um prejuízo de R$ 13 bilhões. Ou seja, se a Cemig estivesse em mãos privadas, o mineiro teria uma companhia de energia que o atenderia melhor. Estamos correndo atrás do prejuízo, mas nada me garante que no futuro essa distorção não venha a acontecer novamente e tenhamos governantes que usem a empresa de maneira eleitoreira e irresponsável, como já aconteceu. Além disso, um estado quebrado como ainda é Minas Gerais, não é um estado bom para ser proprietário de uma empresa que precisa investir. Você tem uma empresa que demanda investimentos e arruma um ente falido para ser o sócio dessa empresa? O ideal é um ente que tenha liquidez, recursos para trazer investimentos, correspondendo a geração de empregos e mais desenvolvimento.

São inúmeros os gargalos na infraestrutura do Estado. Há projetos de sua gestão amplamente criticados, como o do Rodoanel Metropolitano e o do metrô da Capital. Como solucioná-los?

O metrô não tem recebido críticas. Está sob jurisdição federal porque a CBTU é do governo federal, mas já há a CBTU Minas que vai receber um aporte da União de R$ 2,8 bilhões mais R$ 400 milhões do Estado. Esses aportes serão suficientes para fazer os investimentos e depois a empresa será concedida ao setor privado, que vai fazer a expansão do metrô. Belo Horizonte é um caso atípico no Brasil, uma cidade que não recebe nenhum investimento nessa área há mais de 20 anos e que já tem 2,5 milhões de habitantes. Já passou da hora. Por isso, não acho que haja ninguém contra esse projeto que vai trazer melhorias para a mobilidade urbana principalmente no trânsito de automóveis e de transporte coletivo da cidade. Já em relação ao Rodoanel, precisamos citar que é uma obra que foi planejada há mais de 15 anos. Fizemos uma série de modificações através de audiências públicas, escutando todos os setores envolvidos, inclusive os prefeitos. E há uma minoria de prefeitos contra. A Granbel possui quase 30 prefeitos e dois ou três estão contra. Uma minoria que talvez tenha algum interesse imobiliário na região. Eu confio na minha equipe técnica e o Rodoanel proposto tem o traçado possível. É o Rodoanel que menos terá impacto ambiental. Estou muito confortável e, inclusive, já realizamos o leilão. E consta no edital desta que vai ser a maior obra de Minas das últimas décadas, que caso a empresa encontre uma alternativa melhor a partir do momento que iniciar os estudos e as obras, ela tem a liberdade de alterar o traçado. O que eu, como governador de Minas quero, é evitar as mais de 40 mortes que nós já tivemos no Anel Rodoviário desde que nós iniciamos esse processo. Para mim é um desrespeito a todos os habitantes da RMBH que ficam submetidos a esse congestionamento. E é um desrespeito à vida de todos não levarmos adiante uma obra que já estava prevista e planejada há mais de 15 anos. Mas, se existe Rodoanel melhor, vamos fazer no futuro, agora vamos fazer o que é viável. Vamos fazer uma casa para quem não tem teto; se alguém quer mansão vai ter que esperar mais um pouco, pois precisamos tirar o sem teto do tempo. Precisamos ser realistas, porque cada um tem o seu projeto muitas vezes megalomaníaco, mas que não é o que dá para executar no momento.

Nuvem de palavras mais repetidas pelo candidato na entrevista

O senhor foi muito criticado no caso do projeto de mineração na Serra do Curral. Caso reeleito, a relação de seu governo com a mineração vai mudar? 

Meu relacionamento sempre foi republicano. No passado tínhamos alguns setores ou empresas que tudo era aprovado, enquanto que para outros tudo era negado. No meu governo eu falo: aprove o que é certo e negue o que não atende aos requisitos. Temos atuado de forma legalista, tanto é que esse projeto aprovado escutou todas as entidades, teve uma reunião que avançou no horário de tanta gente que queria se manifestar. Queremos que a Serra do Curral seja tombada, inclusive para mostrar que essa área que teve a mineração autorizada não afeta a questão do tombamento. O que queremos é que esse monumento natural de Belo Horizonte, que compõem a paisagem da mesma maneira que o Pão de Açúcar e o Corcovado no Rio de Janeiro, seja mantido intacto. Inclusive, tivemos várias judicializações e nenhuma foi adiante, porque tudo foi feito de acordo com a lei. Eu tenho o maior interesse em preservar e posso dizer que se tem um governo que penalizou a mineração em Minas Gerais, foi o meu. Qual governo aplicou uma multa de R$ 37 bilhões? Se somarmos as penalidades de todos os governos anteriores ao meu, não deve dar o valor que eu impus à empresa devido à tragédia de Brumadinho. O que queremos, inclusive, porque fomos o primeiro estado do Brasil a assinar o compromisso Race to zero, é termos aqui uma economia sustentável. Não vamos conseguir exportar café, se não provarmos que o nosso café é produzido através de práticas sustentáveis; não vamos ter mercado. O mesmo vale para o minério de ferro ou para o aço. E temos plena ciência da necessidade de termos uma economia sustentável. É possível conciliar desenvolvimento com preservação ambiental.

No agronegócio também? Qual o plano para fomentar a atividade e, ao mesmo tempo, garantir que contemple práticas que sejam determinantes para a preservação do meio ambiente e do clima?

Temos uma série de medidas direcionadas para o agronegócio. Principalmente o agronegócio sustentável. Temos procurado, através da Emater e do IMA, produzir mais nas áreas existentes, ou seja, elevar a produtividade. O que temos feito em Minas Gerais que, de certa maneira, é o sucesso do agronegócio no Brasil, é não precisar avançar sobre áreas que são florestas; é extrair mais daquilo que já está sendo utilizado. Temos, por exemplo, um programa de Recomposição de Pastos em áreas em que foram degradados e tudo isso tem sido realizado em prol de uma agricultura sustentável. Temos ainda um programa do Carvão Responsável, já que a grande causa do desmatamento em Minas Gerais é a questão do carvão vegetal, principalmente no Norte do Estado, uma iniciativa que incentiva o carvão vegetal verde, responsável, proporcionando uma maior preservação ambiental; e outros.

Vivemos hoje em um mundo polarizado, carente de propósitos comuns. Qual seu projeto de estado para unir a sociedade mineira em torno de um projeto de futuro?

A minha campanha por si só já diz muito sobre isso. Temos na maioria dos estados brasileiros candidatos que se aliaram aos candidatos à presidência A ou B, que têm polarizado a política. Eu não me aliei a ninguém. Não concordo totalmente nem com um, nem com outro. Não acredito na polarização. Acredito em diálogo. Ninguém é dono da razão completamente e o que temos feito em Minas Gerais está muito pautado nessa questão. Nunca falei que sou dono da verdade, nunca disse que somos melhores; sempre estivemos abertos ao diálogo, tanto na questão do Rodoanel, em que escutamos toda a sociedade civil, quanto na questão da Serra do Curral, por exemplo. Estamos totalmente abertos e não acredito em radicalismo. Lamento muito esses discursos de ódio que têm acontecido, como se o candidato que está sendo adversário fosse de uma facção diabólica. Considero que não há ninguém diabólico e ninguém sagrado. Todos somos humanos e temos que lembrar que temos nossas limitações e precisamos estar abertos a ideias de terceiros, porque as nossas podem ter falhas. Já revi muito do que eu fiz e continuarei revendo.

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