Especial

Luana Araújo coloca saúde pública em xeque

Luana Araújo, Personalidade 2022, foi uma das principais vozes da divulgação científica no País na pandemia | Crédito: Alessandro Carvalho
Agraciada com o Prêmio José Costa, infectologista alerta que o sistema precisa dar respostas mais rápidas às crises

A saúde pública é o grande tópico do futuro. Não vai haver economia, tecnologia ou ações empresariais que se sustentem se não olharmos para essa questão”. A observação emblemática e preocupante é da médica infectologista e consultora de analytics no departamento de Big Data do Hospital Albert Einstein, Luana Araújo, que não por acaso foi eleita Personalidade 2022, na oitava edição do Prêmio José Costa.

Mestre em Saúde Pública, durante a pandemia de Covid-19 trabalhou com governos em todo o mundo para construir respostas à doença. Chegou a ser nomeada como secretária Nacional de Resposta à Covid-19 pelo governo brasileiro, mas teve o mandato encerrado devido às suas posições pró-ciência. Ela ficou bastante conhecida por seu depoimento na CPI da Covid e se tornou uma das principais vozes da divulgação científica no País.

Mas suas contribuições acerca do debate sobre saúde pública vão muito além. A começar por sua ação no Hospital Albert Einstein, onde conduz uma equipe que elabora e analisa dados da saúde, ancorando o serviço público e garantindo informações para a efetividade de políticas a serem aplicadas dentro e fora do SUS, ao lado de outros renomados profissionais.

“Há muitas lacunas de informação nessas políticas que fazem com que haja desperdício de dinheiro ou que as ações não atendam a todos que necessitam. Isso inclui desde a cobertura vacinal até aspectos que mal foram descobertos porque os dados não conversam entre si”, explica.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Luana Araújo também é professora e palestrante. E influencia pessoas dentro e fora das salas de aula. É que com toda a repercussão durante a pandemia de Covid-19 ela se tornou ainda mais conhecida e o crescimento de suas redes sociais foi exponencial. Houve também o lado não tão bom da exposição. Ela conta que recebeu ameaças de morte, teve dados particulares divulgados por vizinhos e precisou de proteção policial.

Mas o amor pela causa prevaleceu e hoje ela propaga conhecimento sobre saúde pública para todos por meio de suas redes sociais. Atuação que ela própria denomina como “grande achado”, argumentando que isso representa a possibilidade de traduzir a ciência em uma linguagem que todos entendam. “Saúde pública não tem esse nome à toa. É pública porque é do povo”, define.

Para a médica, antes da pandemia tudo funcionava quase que de forma hermética e as pessoas não tinham muito acesso às informações. A crise sanitária chacoalhou o mundo e as peças caíram em um ponto melhor. “Agora as pessoas querem saber mais e estão exercendo seu direito e dever ao questionar e cobrar, o que inaugura uma nova era na saúde pública. E envolve não apenas os profissionais da área, mas de muitas outras do conhecimento e da gestão. Para se ter um sistema mais inclusivo, o mais importante é que as pessoas tomem conhecimento e consciência de que ele é para todos nós”, defende.

Saúde pública como ameaça

Caso contrário, conforme a infectologista, ela se torna uma ameaça. Assim como tantas outras questões que permeiam esse assunto no Brasil. Neste sentido, Luana Araújo lembra que no início de novembro foi comemorado o Dia da Saúde Única – One Health, data celebrada desde 2016 com o objetivo de atuar pela disseminação do conceito que integra as saúdes humana, animal e o meio ambiente. Após a pandemia de Covid-19, o tema ganhou projeção, principalmente pela quase certa origem zoonótica do vírus Sars-Cov-2.

Para a especialista, por muito tempo a humanidade massacrou a saúde animal e planetária e continua massacrando. Com isso, mais cedo ou mais tarde, os avanços em saúde humana não seriam suficientes para mitigar os efeitos e as consequências se tornaram inevitáveis.

O futuro ainda vai nos trazer imensas dificuldades em termos de pandemia, não sabemos quando, mas vai. E é possível que o Brasil seja um lugar de provável origem da próxima. Primeiro porque a gente invade os biomas de maneira deletéria e desequilibra a natureza; e segundo porque a desigualdade socioeconômica do nosso País faz com que caso uma nova doença surja, não seja possível oferecer uma resposta rápida, adequada e equitativa que proteja nossa população e o restante do mundo”, alerta.

Visões modernas e inclusivas

Por essas e outras visões modernas e inclusivas sobre saúde pública, Luana Araújo foi eleita Personalidade 2022 do Prêmio José Costa. Criado em 2007, por meio de uma parceria entre o DIÁRIO DO COMÉRCIO e a Fundação Dom Cabral (FDC), o Prêmio José Costa nasceu para reconhecer empresas mineiras, entidades e personalidades que se destacam em seus setores e compartilham os mesmos valores e ideais do fundador do DIÁRIO DO COMÉRCIO, José Costa, que nomeia a premiação.

Segundo Luana Araújo, o exercício de seu trabalho nunca objetivou favorecer ou desfavorecer qualquer grupo, mas esclarecer e ajudar as pessoas, uma vez que defende a adoção de medidas para prover o conhecimento a todos.

“O juramento que fiz à minha profissão já seria suficiente para seguir. No entanto, reconhecimentos como esse e outros internacionais e de entidades fora da área científica que já recebi são propulsores para que eu mantenha esse trabalho e mostram a responsabilidade da posição que ocupo hoje. Mas esse – o Prêmio José Costa – tem uma alegria ainda mais especial, porque é de Minas Gerais, terra que adotei para minha vida e que me acolheu de tal maneira que não consigo deixar, mesmo diante de inúmeros convites. Acho que são as montanhas que me abraçam”, diz.

Este ano, em sua oitava edição, o Prêmio reconheceu empresas e iniciativas alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pela ONU, em 2015. A entrega dos prêmios, que também celebrou 90 anos do DIÁRIO DO COMÉRCIO, foi realizada no dia 17 de novembro.

Sob o tema “Liderança transformadora para os futuros da humanidade”, empresas, personalidades e entidades foram reconhecidas nas categorias: Qualidade da Cidadania; Qualidade da Democracia; Qualidade de Vida; Qualidade Ambiental; Qualidade da Inovação e Produção Tecnológica; Qualidade da Cultura e Educação; Geração e Distribuição de Riquezas; Produção Responsável e Competitividade e Personalidade 2022. A entrega dos prêmios, que também celebrou 90 anos do veículo, foi realizada no dia 17 de novembro.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas