Bolsa de valores acumula queda com cenário adverso
A atual conjuntura econômica não tem estimulado os investimentos em ações. Com isso, a B3 tem registrado resultados negativos, como o de fevereiro, quando o Ibovespa fechou o mês com queda de 7,49%. No ano, o recuo é de 4,38%. Para março, fatores como a manutenção dos juros em alta, crise em grandes empresas varejistas e a incerteza em relação à política de preços a ser adotada na Petrobras fazem com as previsões sejam pessimistas para o desempenho da bolsa de valores.
O executivo e professor da Fundação Vanzolini, entidade ligada à USP, Michel Roubicek, explica que apesar da alta de 3,4% na B3 em janeiro, em fevereiro o resultado foi muito negativo. “Fevereiro foi um desastre, encerrando com uma queda de mais de 7%. Eu imagino que a bolsa vai andar de lado em março também”.
Ainda segundo Roubicek, são vários os fatores que têm impactado na B3. “As ações da Petrobras caíram com a notícia da redução de preços e uma incerteza muito grande sobre qual vai ser a política de preços a ser adotada pela nova administração. Existe o temor de que os preços sejam reduzidos artificialmente e, isso, certamente vai derrubar o valor da ação, mas por enquanto tem muita especulação. Outro fator é a situação das Americanas, que nas semanas anteriores derrubou o preço da ação não só dela, mas também de outros ativos ligados ao varejo”.
A manutenção da taxa de juros elevada e a falta de previsão de quando ela pode começar a cair, também afasta os investimentos em ações. “A taxa de juros continua elevada e não há previsão de queda nos próximos meses. Então, não deve ter muito dinheiro sendo encaminhado para bolsa. A maior parte dos investimentos novos está indo para a renda fixa, que tem uma rentabilidade boa e nada indica que essa rentabilidade vai cair. Então, as perspectivas para a bolsa, em março, não são das mais animadoras”.
Para o especialista e sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, março será um mês conturbado para a bolsa. Um dos principais fatores é a inflação ainda elevada nos Estados Unidos, o que tem feito com que o Fed mantenha a taxa de juros elevada.
“A gente terá, possivelmente, mais três aumentos de 0,25%, podendo chegar em torno de 5,25% e 5,50% de taxa de juros, o que é bem elevado em um país com os Estados Unidos”.
No Brasil, Meira destaca que existe uma grande preocupação com o imbróglio do Banco Central com o governo.
“Possivelmente, o Banco Central não vai ceder nas taxas de juros, principalmente, porque a inflação no Brasil, apesar de ter cedido, ainda demonstra sinais de que não vai ser tão fácil chegar próximo à meta. A gente já tem um boletim Focus estimando em 12,75% uma taxa de juros para o final do ano, com alguns agentes de mercado já falando que isso não deve ser provável. Então, o que a gente vê em relação à B3 é uma perspectiva ainda negativa para o mês de março, se não ficar negativa, no máximo lateralizada”.
Entre os setores que podem gerar resultados mais favoráveis, Meira explica que em qualquer momento de estresse e de taxa de juros mais elevada é mais interessante optar por empresas que têm uma geração de caixa constante, que são empresas mais defensivas e que facilitam a locação de portfólio.
“Então, dentro dessas empresas, desses setores mais defensivos, a gente vai falar do setor de financeiro, os bancos basicamente, a gente vai falar dos setores de saneamento e energia, que tendem a se manter mais seguros dentro de um cenário volátil”, disse.
Segundo o especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, as incertezas são fatores predominantes neste início de março e devem impactar novamente no desempenho da B3.
“Após um mês muito ruim para a bolsa brasileira, que encerrou fevereiro com queda de mais de 7% e muito puxada por fatores internos – riscos macro políticos – e, também, uma aversão global do investidor estrangeiro, à medida em que o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos deve seguir forte, acho que o mês de março se inicia com a essas incertezas ainda pautando o mercado, de até quando o banco central americano deve continuar com essa política monetária receptiva”
Novas regras
No que se refere ao Brasil, Luives explica que um fator de incerteza é se a nova regra fiscal – que vai ser divulgada, pelo governo, em março – vai trazer as expectativas do mercado de juros para baixo.
“Ou seja, se essa âncora fiscal vai dar previsibilidade para o mercado de que endividamento público deve se manter controlado para os próximos anos. Isso pode trazer um arrefecimento nas taxas de juros longas e curtas e também trazer um balanço positivo para bolsa”.
Caso isso não ocorra, Luives explica que outros fatores podem impulsionar a bolsa brasileira, como a abertura da China. “O mercado vem operando desde dezembro, mas ainda assim a gente entende que esse é um processo que, ao longo do ano, deve trazer um impacto positivo para o Brasil. Até porque a China é o nosso maior parceiro comercial e as exportadoras acabam tendo uma participação relevante das suas receitas atrelada à economia chinesa. A expectativa para esse ano é de um crescimento acima de 5% do PIB da China, o que pode ser um catalisador positivo para as ações no Brasil”.
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