Finanças

Mercado de ações em compasso de espera: veja os desafios e vantagens das empresas na Bolsa

Enquanto o mercado de capitais segue restrito, uma boa opção para as empresas obterem recursos são operações de fusões e aquisições
Mercado de ações em compasso de espera: veja os desafios e vantagens das empresas na Bolsa
Foto: Divulgação B3

O mercado de capitais brasileiro não registra uma oferta pública inicial (IPO, sigla em inglês) desde 2021, devido a questões macroeconômicas, como a alta da taxa Selic, que transferiu grande parte dos investimentos para a renda fixa. No entanto, ainda assim, existem algumas vantagens de atuar no mercado de capitais. Dentre elas está o acesso aos recursos, por meio da venda de ações.

O gerente de estratégia e relação com investidores do Banco Mercantil, Leonardo Ferraz, explica que os recursos obtidos podem ter diversas finalidades, como a melhoria dos serviços, investimentos em tecnologia de ponta, financiamento de novos projetos e expansão das operações.

“Esses recursos foram uma das fontes que permitiram ao banco, em 2024, iniciar seu plano de expansão. Somente em 2025, inauguramos 25 novos postos em 24 novas cidades nas regiões Sul e Sudeste”, relata.

Já o CEO da Cedro Textil, Fábio Mascarenhas Alves, explica que as companhias de capital aberto também podem, além de lançar novas ações e captar recursos junto aos acionistas, emitir alguns tipos de papéis de dívida, que só empresa de capital aberto tem acesso.

Empresa listada na bolsa de valores tem exposição positiva

Outra vantagem de estar listado na Bolsa de Valores, segundo Alves, é a exposição positiva da companhia no mercado, demonstrando robustez, porte, estrutura e qualificação. “Reunindo todas as condições para ter suas ações negociadas na B3”, completa.

Já Ferraz aponta para a conquista de maior credibilidade, já que o setor é regulamentado e há uma exigência maior por transparência e governança, aumentando a confiança dos investidores e dos clientes, garantindo boas parcerias estratégicas para a empresa.

O gerente de estratégia do Banco Mercantil afirma que esses valores são extremamente importantes para a instituição, pois contribuem para a sustentabilidade do negócio. Segundo ele, são fatores que ajudam a explicar os resultados financeiros trimestrais recordes obtidos desde o final de 2022. “No último trimestre, o lucro líquido de R$ 241 milhões foi 46% maior do que o do mesmo período de 2024”, relata.

Principais desafios para as empresas de capital aberto

Espaço B3.
Foto: Divulgação B3

Para o CEO da Cedro Textil, um dos maiores desafios enfrentados por uma empresa de capital aberto é ter que praticar um nível de transparência elevado que as companhias de capital fechado não são obrigadas a atender.

O gerente de estratégia e relação com investidores do Banco Mercantil, por sua vez, destaca a necessidade de manter uma governança corporativa robusta, em conformidade com as normas e regulamentos do mercado de capitais. “Isso exige altos investimentos não só em equipe, mas em sistemas, processos e auditorias independentes”.

Outra dificuldade são os custos associados ao fato de ser uma empresa listada na bolsa de valores. Alves enfatiza a necessidade de contratar uma auditoria externa independente para opinar sobre a demonstração financeira da companhia. “A periodicidade da divulgação dos resultados, além de rígidos prazos para cumpri-los, a cada trimestre, também é um desafio para as companhias”, afirma.

Leia também: Fraudes em empresas de capital aberto trazem riscos ao investir em ações

Além disso, o empresário também lembra a questão envolvendo a oscilação do valor das ações da empresa, que pode ser motivada pelo desempenho operacional ou por eventos externos como o cenário econômico ou político. “Em outras palavras, a empresa é avaliada pelo mercado, diariamente”, completa.

Para Ferraz, o desafio constante de encontrar um ponto de equilíbrio estratégico entre as expectativas dos acionistas e os investimentos necessários para o crescimento da empresa também é algo para observar. Já que as expectativas dos investidores tendem a ser de resultados a curto prazo, enquanto o avanço do negócio, muitas vezes, só é alcançado no longo prazo, sem imediatismo.

“Isso acontece em um cenário que joga muita pressão sobre as empresas, o que requer uma cultura organizacional resiliente e adaptável”, explica.

Futuro promissor das empresas mineiras no mercado de capitais

Quanto ao futuro do mercado de capitais no País, o diretor-executivo da Excelia Consultoria, Eduardo Campos, acredita que haverá, nos próximos anos, um aumento de empresas mineiras na bolsa de valores brasileira puxado, principalmente, pela aproximação do setor de mineração, fundamental para a economia do Estado, com o mercado de capitais brasileiro.

O especialista lembra que o setor sempre esteve distante desse mercado no Brasil e que o investidor da B3 nunca foi um bom entendedor do mercado de capitais no segmento de mineração. Por esse motivo, muitas empresas do setor abriram capital na bolsa de Toronto, no Canadá, visando ao acesso a recursos no mercado de capitais mundial para projetos de mineração.

No entanto, Campos relata que a B3 assinou, no ano passado, um memorando de entendimentos de cooperação com a bolsa canadense.

“Desta forma, acredito que, nos próximos três a cinco anos, vamos ver um número muito maior de empresas mineiras da cadeia de mineração acessando o mercado de capitais através dessa parceria da B3 com a Toronto Stock Exchange. Essa é uma notícia muito interessante para Minas Gerais”, diz.

Fusões e aquisições como opção para as empresas

O executivo da Excelia ressalta que, enquanto o mercado de capitais segue restrito, uma boa opção para as empresas mineiras são as operações de fusões e aquisições (M&A, sigla em inglês). Ele destaca que esse mercado está bastante aquecido, com o interesse de grupos internacionais por empresas mineiras.

Campos ressalta que o segmento é uma boa alternativa para o acesso à capital. “A empresa se associa a um grande grupo global que tem capital de sobra para financiar o crescimento”, completa.

Outro ponto apontado pelo especialista é que essa estratégia acaba sendo uma alternativa muito interessante para resolver questões financeiras e também de sucessão. “É uma forma de garantir a perenidade do negócio sem depender de uma sucessão dentro da família”, indica.

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