Até final do ano, cotação do dólar tende a estabilizar na casa dos R$ 5
A política fiscal do Brasil é um dos fatores que afastam os investidores do País e impacta no câmbio. Para o fim de 2023 e início de 2024, a tendência é que a cotação do dólar fique praticamente estabilizada em R$ 5. A estimativa é que a moeda norte-americana possa variar pouca coisa para cima ou para baixo.
De acordo com o economista, empresário e doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, Igor Lucena, se por um lado os recordes de exportações do Brasil favorecem o ingresso de muitos dólares no País, por outro lado, a política fiscal é desafiadora e afasta investimentos estrangeiros no País.
“Diante deste cenário, a tendência para o câmbio, inclusive para o ano que vem, é continuar por volta dos R$ 5,00. É importante lembrar que deve haver uma flutuação, entre R$ 4,85 até R$ 5,10. Acho que esse pode ser o programado para o ano, porque a gente deve ter sim o mesmo comportamento deste ano no ano que vem”, prevê.
Para Lucena, a meta de déficit zero do governo federal dificilmente vai existir, o que também vai interferir na cotação. Ele relembra que para este ano o déficit previsto é de US$ 170 bilhões e para o ano que vem o déficit pode ser maior. Isso porque não estão sendo computados mais de US$ 90 bilhões de precatórios a serem pagos em 2024.
“Vamos ter ainda aquela regra de diminuição de operações da máquina criada pelo próprio governo, que é o novo arcabouço fiscal. Então, na prática, apesar da manutenção do déficit zero de alguma maneira segurar, ela começa a não ser mais crível. Assim, os agentes financeiros no mercado não acreditam que isso vai acontecer, então, vamos esperar déficits talvez acima de 1%. Esse déficit maior do governo, na realidade, não na meta, tende a desvalorizar a moeda”, avalia.
Ainda segundo Lucena, se a gente tiver uma desancoragem e o governo não falar mais em déficit zero e colocar um déficit real nas contas, então, o déficit vai ser maior ainda do que se imagina e isso pode prejudicar o câmbio.
“Talvez a manutenção do déficit zero seja um indicativo para tentar manter essa estabilidade do câmbio em torno de R$ 5, quando a gente analisa meramente pelo ponto fiscal. Então, o que pode melhorar isso aí é o aumento das nossas exportações. Isso vai depender também muito de como vai ser o comportamento da China”, pondera.
Aumento do déficit
O economista e CEO da Multiplike, Volnei Eyng, acredita que a cotação do dólar no fim do ano fique em torno de 5% menor. “Assim, teria uma pequena desvalorização porque o déficit que saiu essa semana saiu de US$ 141 bilhões para US$ 170 bilhões, o que piora um pouco o cenário. Já está precificado um déficit, para este ano, em torno de 1,5% a 2% do PIB. Para o ano que vem, está precificado um déficit em torno de 0,5% do PIB. Como não deve haver alteração fiscal maior, deve se manter na projeção do Focus em 5%”, argumenta.
Ainda segundo Eyng, como já estamos na reta final de 2023, há pouco espaço para grandes manobras e para problemas no cenário econômico de desvalorização do real.
“O Brasil tem situações que vem se mantendo positivas. O País vem com superávit comercial na balança, com exportação de commodity muito forte, com uma balança comercial positiva em superávit, com um aumento de 36% nos gastos dos estrangeiros neste ano. Há ainda o maior controle da inflação, levando ao melhor controle dos juros”, aponta.
Eyng considera também que a estabilidade recente do Banco Central norte-americano, que anunciou que não vai aumentar os juros, garante uma estabilidade de que o dólar, já precificado nas situações econômicas para o final do ano, fique, então, em torno de R$ 5.
Indefinições internas e externas irão interferir na cotação do dólar
A economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, ressalta que o mercado ainda projeta câmbio próximo de R$ 5 para o fim deste ano. “Acho que tem um cenário de bastante incertezas e há ainda algumas questões que não estão totalmente definidas. Então, a principal delas é a questão do Banco Central americano, se vai subir ou não os juros. Essa incerteza traz volatilidade para o câmbio. Acho que, por isso, o mercado mantém as projeções aí em R$ 5”, afirma.
Além dessa questão, segundo a especialista, internamente a questão fiscal é o principal fator de aversão ao risco aqui no Brasil. Segundo ela, se, por acaso, houver a manutenção da meta de déficit zero para o ano que vem, isso tende a beneficiar a moeda nacional. Caso contrário, não.
“A gente pode ver alguma pressão adicional por conta desse tema. Acho que a grande preocupação do mercado aqui é, de fato, a questão fiscal. Então esse é um ponto que deve acabar acarretando mesmo em mais aversão ao risco para o mercado local”.
Estabilização do dólar
Para o gestor de Negócios da Ourominas, Sandro Francioli, uma das maiores empresas de ouro e câmbio do País, a tendência, no momento, é de estabilização do dólar até o fim do ano. “Claro que isso pode mudar em função de vários fatores, mas, no geral, a tendência é para termos sim uma estabilidade. Fatores como a política monetária, as decisões do FED e o risco político podem trazer influências sobre a moeda norte-americana”, observa.
Ainda segundo Francioli, o compromisso de manter a meta de equilíbrio fiscal pode melhorar a confiança do mercado e do investidor estrangeiro e beneficiar o câmbio, mantendo o real mais forte em relação a outras moedas.
“Já quando falamos das previsões da moeda americana entramos em uma pauta delicada, pois como mencionado, isso depende de muitos fatores, mas acredito que há forças no mercado que apontam para um dólar estável no valor atual. Um fato que pode colaborar com isso é a melhoria das expectativas do mercado no que tange ao cenário econômico global”, explica.
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