Dólar dispara a R$ 5,50 com risco fiscal e ameaça tarifária de Trump à China

O dólar disparou no Brasil nesta sexta-feira (10) e encerrou o dia acima dos R$ 5,50, com as cotações refletindo o mal-estar do mercado com a política fiscal do governo Lula e as novas ameaças tarifárias dos Estados Unidos à China.
A moeda norte-americana à vista encerrou a sessão com alta de 2,39%, aos R$ 5,5038, maior valor de fechamento desde 5 de agosto, quando atingiu R$ 5,5057. No ano, porém, a divisa acumula baixa de 10,93%.
Às 17h06, na B3, o dólar para novembro — atualmente o mais líquido no Brasil – subia 2,31%, aos R$ 5,5310.
A sexta-feira foi no geral um dia negativo para os ativos brasileiros, com queda do Ibovespa, disparada do dólar e avanço das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
Um dos motivos para o movimento foi o desconforto dos agentes com a política fiscal do governo — algo que desde a semana passada vem pressionando os ativos.
A derrubada pelo Congresso, na quarta-feira, da Medida Provisória 1303, que tratava da taxação de aplicações financeiras, seguia dando suporte à curva, devido ao desfecho negativo para o esforço do governo de equilibrar as contas.
A MP teria impacto fiscal de R$ 14,8 bilhões em 2025 e de R$ 36,2 bilhões em 2026, considerando as novas receitas previstas e os cortes de despesas, conforme o Ministério da Fazenda.
Durante a manhã, o mau-humor dos investidores se intensificou após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indicar que o pacote de medidas do governo para 2026 poderia somar R$ 100 bilhões, sem que as receitas estejam garantidas. Na conta entram medidas como a da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, a distribuição de gás de cozinha e isenção nas contas de energia para uma parcela das famílias, e o pagamento de bolsas para estudantes — todos programas já anunciados anteriormente pelo governo.
Ainda que não haja novas medidas, os agentes demonstravam preocupação de que o ano de 2026 seja marcado por ações para impulsionar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com impacto negativo para as contas públicas.
“Daqui para frente só vai piorar”, opinou o diretor da assessoria FB Capital, Fernando Bergallo. “Mês que vem já vem aquela demanda forte por dólares, sazonal… E aí 2026 com o cenário político, que já tem permeado o mercado, entra em cena de vez”, acrescentou.
No início da tarde a pressão aumentou, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar aumentar as tarifas comerciais contra a China e cancelar uma reunião planejada com o presidente chinês, Xi Jinping.
Ele acusou a China de manter a economia global refém, depois que o país asiático expandiu drasticamente seus controles de exportação de terras raras, na quinta-feira (9).
No pior momento do dia, às 14h08, o dólar à vista atingiu a máxima de R$ 5,5188 (+2,67%), com a moeda norte-americana também com fortes ganhos ante divisas emergentes no exterior.
“A combinação entre a deterioração fiscal doméstica e o aumento das tensões geopolíticas globais formou um cenário indigesto para os mercados”, resumiu Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. “Foi um dia típico de flight to safety (fuga para segurança).”
No exterior, essa busca por segurança se refletiu na alta do iene ante o dólar, após dias em que a moeda japonesa vinha sendo penalizada pela turbulência política em Tóquio, e pelo avanço da libra e do euro. Às 17h13 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes, entre elas o iene, a libra e o euro — caía 0,43%, a 98,963.
Na outra ponta, moedas pares do real eram penalizadas — entre elas o rand sul-africano, o peso chileno e o peso mexicano.
Pela manhã, o Banco Central vendeu 40.000 contratos de swap cambial para rolagem dos vencimentos de novembro.
Conteúdo distribuído por Reuters
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