Dólar tem forte queda e volta para abaixo dos R$ 5,50 após fala de Powell

São Paulo – Depois de disparar na véspera quase 2% no Brasil, o dólar despencou outros 2% nesta sexta-feira (23), para abaixo dos R$ 5,50, acompanhando a queda generalizada da moeda norte-americana no exterior, após o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, defender o início dos cortes de juros nos EUA.
O dólar à vista fechou em baixa de 1,97%, cotado a R$ 5,47. Na semana, porém, a divisa ainda acumulou alta de 0,22%. Às 17h23, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 2,14%, a R$ 5,48 na venda.
Bastante aguardada pelos mercados globais, a participação de Powell no simpósio de Jackson Hole reforçou as apostas de que o Federal Reserve de fato começará a cortar juros em setembro.
Powell defendeu pela manhã que “chegou a hora” de o Fed cortar sua taxa de juros, uma vez que os riscos crescentes para o mercado de trabalho não deixam espaço para mais fraqueza e a inflação está a caminho de alcançar a meta de 2%. Na prática, foi um apoio explícito ao afrouxamento da política monetária.
“Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram”, disse Powell. “Chegou a hora de ajustar a política. A direção a ser seguida é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos.”
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Em reação à fala de Powell, investidores foram em busca de ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes, o que se traduziu na queda global do dólar.
No Brasil, após marcar a cotação máxima de R$ 5,58 (-0,10%) às 9h, na abertura da sessão, o dólar à vista atingiu a mínima de R$ 5,47 (-2,06%) às 16h24.
“As questões locais do Brasil foram praticamente deixadas de lado hoje em função das declarações de Powell, dizendo que chegou a hora de mexer nos juros”, pontuou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Isso tirou um peso do mercado e os investidores foram em busca de ativos de risco.”
Uma taxa de juros mais baixa nos EUA favorece o diferencial de juros para o Brasil, que se torna mais atrativo aos investimentos internacionais.
Além de Powell, o movimento do câmbio no Brasil foi resultado de certa recomposição de posições, conforme Rugik, após a disparada do dólar na véspera.
Internamente, a principal questão ainda é se o Banco Central elevará ou não a taxa básica Selic em setembro, como vem sendo precificado pelo mercado. A probabilidade de alta de 25 pontos-base da Selic em setembro está em 90%, conforme precificação da curva a termo brasileira. Há outros 10% de probabilidade de manutenção da taxa em 10,50% ao ano.
“Se ele (BC) não subir juros na próxima reunião, o real deve se desvalorizar mais e o juro longo deve subir”, pontuou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, em comentário enviado a clientes. “Se o BC não subir juros, o mercado sobe por conta própria”, acrescentou, em referência aos possíveis efeitos na curva.
Às 17h21, o índice do dólar – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – caía 0,78%, a 100,670.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024. (Reportagem distribuída pela Reuters)
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