Em período de guerra, investidores buscam por opções seguras

Os conflitos mundiais e os impactos no mercado são desafios para os investidores. Diante das incertezas, agravadas pela guerra entre Israel e Hamas, além do conflito na Ucrânia e Rússia, investidores buscam opções mais seguras para o dinheiro. Entre as opções estão os títulos do governo, ouro e dólar. Quanto aos investimentos na bolsa, os mesmos precisam ser muito bem planejados e ações de empresas de utilities costumam ser boas opções. A dica dos especialistas é diversificar os investimentos para reduzir os riscos.
Conforme o especialista da Valor Investimentos, Charo Alves, as incertezas têm pesado bastante no Brasil. Apesar dos bons números do último semestre, os números de inflação seguiram em uma zona de conforto, reforçando a tese de juros menores nas próximas duas reuniões do Copom. Avaliando o cenário de incertezas com os conflitos globais, Alves explica que o principal ponto que pode impactar o mercado nacional é a possibilidade de uma inflação maior.
“Os conflitos envolvendo o Oriente Médio tendem a trazer o preço do barril do petróleo a patamares mais elevados. Então, isso reflete em toda a cadeia de logística de serviços, alimentos e transportes. Esse impacto pode ser levado em conta nas próximas reuniões do Banco Central. Assim, o BC pode adotar uma postura mais conservadora e não concretizar as duas quedas esperadas de 0,5% nos juros por conta, justamente, de um cenário de dólar mais elevado e de uma inflação, principalmente, por causa da cadeia do petróleo, também mais fora do controle”.
Investimentos em ações de empresas de utilities são interessantes
Diante do cenário de incertezas externas e internas, em relação aos investimentos em renda variável, Alves explica que o mercado sempre busca utilities para se proteger. “Neste momento, as empresas do segmento de energia elétrica e de saneamento são bons cases. São empresas que têm, geralmente, uma sensibilidade menor ao movimento de juros”.
Ainda conforme Alves, de alguma forma, no Brasil, tem algumas commodities que o País pode se proteger. “Isso porque se o preço do barril do petróleo realmente subir, a gente tem empresas com exposição direta à commodity e, nas linhas de empresas privadas, você tem uma blindagem contra eventuais intervenções do governo, como é o caso Petro. A Vale também pode ser beneficiada com esse movimento, porque o preço do minério tende a subir também”.
Quanto a opções que tendem a depreciar com o atual cenário de guerra, Alves destaca os títulos de empresas de crescimento, geralmente são as fintechs e as empresas de varejo são menos seguras. Neste caso, investidores precisam ter mais cautela.
“Empresas que têm uma expectativa de negociar a múltiplos maiores, quando o cenário de juros permanece elevado por mais tempo, elas tendem a sangrar, tendem a sofrer mais. As small caps, empresas do setor doméstico Brasil, com um foco maior em varejo, em importação, tendem a ser os veículos que mais sofrem nesse cenário”.
Investimentos mais seguros diante guerra
Com a guerra, investidores buscam por opções seguras. Assim, muitos investidores globais tendem a permanecer investindo em títulos de renda fixa do tesouro americano. “São títulos mais seguros, então, isso tende a gerar também uma pressão positiva por dólar, perante outras moedas. É outro investimento de segurança. A renda fixa americana é muito procurada em momentos de incertezas”.
Outra opção, segundo Alves, é o ouro. O metal precioso é um veículo de defesa, portfólio de carteiras e de fundos de investimentos globais. “Então, é um veículo utilizado justamente para momentos de tensão”.
Diversificação
Para os investidores, Alves explica que a diversificação da carteira é fundamental para evitar perdas. “Uma carteira saudável de investimentos envolve diversas categorias. Então, nesse momento, investidores que não têm dólar na carteira, é bom ter ativos com exposição em alguma medida a câmbio, ativos eventualmente com fundos de investimentos que tem alguma exposição também a ouro e a títulos de renda fixa do tesouro americano e do Brasil também”.
Segundo Alves, hoje, há boas taxas no mercado de renda fixa, tanto nos títulos soberanos como do governo, tesouro IPCA, tesouro Selic. “Então, acho que fazer uma diversificação na linha de renda fixa, buscar investimentos dolarizados e fundos que tenham exposição a ouro servem como bons ativos defensivos”.
Para quem prefere ações, a busca por utilities também são boas soluções para blindar um pouco mais a carteira.
Renda fixa é seguro
O CEO da Multiplike, Volnei Eyng, afirma que o investidor que quer segurança, em 2023, deve ficar na renda fixa. Ele leva em consideração o conflito Israel-Hamas, iniciado em 7 de outubro. Entre os principais produtos de renda fixa que o investidor deve analisar, conforme Eyng, está o Tesouro Direto, que são títulos do governo federal. “Quem compra os títulos do Tesouro, acaba emprestando dinheiro à União”.
Outra opção são os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). “Os CDBs são semelhantes aos títulos do Tesouro, mas quem emite os CDBs são os bancos. A rentabilidade dessas aplicações segue a taxa de depósito interbancário (DI), ou seja, 100% do CDI, 120% do CDI e por aí vai”.
As debêntures, que são títulos de dívida emitidos por empresas como forma de captação de recursos para suas atividades, expansões e fluxo de caixa, também podem ser interessantes.
Também são consideradas opções mais seguras em tempos de incertezas os Fundos de Renda Fixa, as Letras de Crédito Imobiliárias (LCI) e do Agronegócio (LCA), assim como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), que são títulos securitizados.
Ouro está entre as opções mais seguras de investimentos em períodos de guerra
O diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, ressalta que o ouro é considerado um dos melhores investimentos em tempos de crise global como, por exemplo, a guerra entre Rússia e Ucrânia, e o mais recente conflito entre Israel e o grupo Hamas.
“Os investidores procuram um porto seguro para o seu capital e o ouro está entre os três melhores, junto com o dólar e títulos do governo, pois tem liquidez imediata e segurança em seu valor intrínseco”.
Sendo um dos investimentos mais seguros, em outubro, quando começou o conflito entre Israel e o grupo Hamas, o metal precioso apresentou uma valorização considerável. Então, nos primeiros 30 dias de outubro, o preço do ouro subiu quase 9%.
“Por ser o melhor investimento em termos de retorno financeiro e segurança, por conta do conflito citado anteriormente, o ouro se valorizou. A tendência é que essa valorização continue, pois as reações, principalmente de Israel, não são pela paralisação dos ataques”, disse.
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