Fiagros devem ter chance de novas ofertas no início de 2026

São Paulo – O mercado de fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagro) poderá ter chance de realizar novas ofertas subsequentes de cotas (follow-on) por volta do início de 2026, após o segmento ter sido impactado por inadimplências no ano passado, avaliou o diretor de investimentos da Suno Asset, Vitor Duarte.
Em entrevista à agência Reuters, Duarte disse que algumas narrativas de que haveria uma crise no agronegócio brasileiro parecem exageradas e que os problemas que atingiram os Fiagros em 2024 estão ficando para trás.
Segundo ele, ainda não é saudável emitir novas cotas dos Fiagros, mas a retomada é esperada para breve. “Já tem alguns meses sem problemas e tem voltado… Diria que no final do ano, início do ano que vem, eu acho que os fundos listados vão ter chance de fazer seus follow-on”, comentou.
O diretor da Suno destacou que demora um pouco para o mercado ter consciência de que o problema não afeta mais os Fiagros, que enfrentam uma seca de ofertas subsequentes desde 2024. “Os Fiagros da Faria Lima tomaram uma inadimplência porque se posicionaram em produtores alavancados no ano passado, mas este ano estão com carteira OK”, afirmou.
No caso da Suno, ressaltou Duarte, o Fiagro da gestora não registrou inadimplência.
O patrimônio líquido dos Fiagros listados no Brasil apresentou alta de 6% em junho de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024, somando cerca de R$ 6 bilhões, de acordo com dados da Quantum Finance.
Por meio do instrumento, pessoas físicas podem investir no agronegócio, enquanto empresas do setor utilizam o fundo como fonte de financiamento.
Além do Fiagro da Suno, com patrimônio integralizado de R$ 608 milhões e 120 mil investidores, a empresa também atua como gestora do Fidc Agro Paraná, que tem o objetivo de financiar o agronegócio do Estado.
“A gente está começando a fazer as operações de crédito agora”, disse Duarte, após a Suno ter sido selecionada pelo governo estadual como gestora no início deste ano.
Ele acrescentou que a companhia também está interessada em participar como gestora de outros Fiagros estaduais, como um já anunciado por Goiás, após vencer o processo paranaense, que inclui o modelo de blended finance, com recursos privados e públicos.
“Isso foi inédito… os outros Estados gostaram bastante. Tem bastante gente estudando para copiar e levar essa solução para os produtores de outros Estados também.”
Parece exagero
Questionado sobre os impactos da inadimplência rural no balanço do Banco do Brasil, Duarte disse que isso seria uma “notícia velha”, apontando a origem do problema na safra 2023/2024, quando as margens ficaram apertadas diante da queda de produção por clima adverso, em um período em que o setor ainda lidava com custos elevados de fertilizantes.
“Eu preciso sublinhar… não há uma crise no agro, os produtores mais alavancados é que tiveram problemas para honrar os seus compromissos”, comentou. Ele acrescentou que, no caso do Banco do Brasil, outros fatores podem ter influenciado os resultados, não apenas a inadimplência.
Já a safra 2024/2025, na qual o Brasil colheu recorde de grãos, teve preços de insumos mais estabilizados, o que, segundo Duarte, traz confiança para 2025/2026.
“Não tenho elementos para duvidar que o agro vai continuar bem. Esta coisa de crise no agro é uma narrativa que me parece exagerada”, ressaltou, citando inclusive o impacto do tarifaço de Donald Trump.
Ele lembrou, por exemplo, que o preço do café, um dos produtos taxados pelos EUA, disparou, aspecto compensatório para os cafeicultores que sofrem com as tarifas.
Reportagem distribuída pela Reuters
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