Setor produtivo de Minas critica Selic em 15% e cobra ajuste fiscal do governo
A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano foi criticada pelo setor produtivo em Minas Gerais, que alerta para os efeitos da política monetária restritiva sobre os negócios no Estado. Entidades cobram também uma contenção de despesas por parte do governo federal para reduzir a pressão inflacionária.
Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Cledorvino Belini, a manutenção dos juros em patamar elevado reforça uma estratégia que já demonstra claros sinais de esgotamento. “O Brasil segue preso a uma política monetária restritiva que, apesar de necessária em momentos de forte pressão inflacionária, hoje já não entrega os resultados esperados sobre o comportamento dos preços. O custo dessa insistência recai diretamente sobre o setor produtivo, que enfrenta crédito caro, investimentos represados e enfraquecimento da confiança empresarial.”
O presidente também cobrou mais responsabilidade e ação do governo federal no lado fiscal. “O Brasil não pode continuar delegando ao Banco Central a tarefa de corrigir, sozinho, os desequilíbrios de um Estado que gasta mais do que pode. Sem controle das despesas, sem reformas e sem previsibilidade, manter juros elevados se torna uma muleta que já não sustenta mais a economia.”
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), Frank Sinatra, também teceu críticas à manutenção da taxa básica de juros. “E essa é a quarta vez consecutiva que o Banco Central mantém a taxa no maior patamar em quase 20 anos, reforçando um cenário de aperto monetário que, embora busque conter pressões inflacionárias, acaba mantendo obstáculos ao dinamismo da economia. A pergunta que fica é: até quando vamos esperar as tão sonhadas reduções, que darão um novo rumo para a nossa economia?”, questionou.
“A manutenção limita a reposição de estoques, a expansão das operações e novos investimentos no varejo. Bens duráveis e semiduráveis também sofrem, já que o parcelamento fica mais caro para o consumidor. Além disso, a inadimplência das famílias segue elevada, reduzindo a oferta de crédito e pressionando o fluxo de caixa das empresas”, explica o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva.
Com as projeções de mercado apontando para a Selic em 12,25% ao final de 2026, o dirigente destaca que o alívio esperado com a redução dos juros é fundamental para o setor de comércio e serviços crescer. “Este ciclo de cortes reduziria gradualmente as taxas de juros para pessoa jurídica e física, liberando capital para investimentos em ampliação de lojas, reposição de estoques e melhoria da liquidez comercial. A diminuição do custo de capital é condição essencial para que o varejo cresça.”
Indústria
Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a Selic em patamares elevados é consequência direta de uma política fiscal considerada desequilibrada, marcada por sucessivas expansões de gastos públicos. Para a entidade, enquanto o governo não contiver suas despesas, o Banco Central permanece sem condições de reduzir os juros – situação que mantém o País em um ambiente econômico restritivo e altamente prejudicial ao setor produtivo.
“Isso é consequência de uma política fiscal equivocada, em que há um ciclo contínuo de expansão de gastos. O governo precisa parar de gastar e fazer como fazemos na casa da gente: se está apertado, você aperta o cinto. Não expande o gasto. Essa conta não fecha desse jeito”, afirma, em nota.
Roscoe destaca que os juros nesse patamar praticamente inibem a atividade produtiva, pressionando empresas que se endividaram para investir e famílias que financiaram casa, carro ou bens duráveis. “A taxa básica de juros deprime todos aqueles que estão endividados, porque faz o compromisso com o juro ficar muito mais alto. E, dessa maneira, falta dinheiro para outras finalidades.”
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