Finanças

Venda da SAF do Cruzeiro para dono do Supermercado BH agitou o mercado

Negociação pode estimular novos modelos de transações, chegando até a bolsa; entenda
Venda da SAF do Cruzeiro para dono do Supermercado BH agitou o mercado
Crédito: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

A venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro na última semana agitou o mercado dos negócios do futebol. O grupo do ex-atacante e tetracampeão brasileiro Ronaldo Nazário oficializou a venda dos 90% do controle acionário do clube ao empresário Pedro Lourenço, dono da rede Supermercados BH. A negociação pode incentivar novos modelos de transações comerciais no segmento, chegando até mesmo ao mercado de capital aberto como a bolsa de valores.

A opinião é do advogado especializado em direito desportivo do Ambiel Advogados e membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD), Felipe Crisafulli. Na sua avaliação, a transação bem-sucedida pelo clube mineiro é um pontapé inicial para uma mudança de paradigma dos negócios no esporte, especialmente após a Lei das SAFs (14.193/2021).

“Era algo esperado de acontecer após a consolidação da lei. Primeiro veio o boom, com diversas SAFs sendo constituídas. Umas do zero, outras por meio da transformação de sua roupagem jurídica, deixando de ser associações e passando a ser SAFs. Agora, até antes do esperado, já assistimos as negociações”, comenta.

De acordo com o advogado, o amadurecimento gerencial oferecido pelo modelo de SAF, reduz ou até elimina a falta de credibilidade e de segurança que o futebol brasileiro tinha no cenário econômico. No Brasil já são 45 clubes adotando o modelo de constituição de empresas e o número só tende a crescer.

Em Minas Gerais, são seis clubes de futebol que já viraram SAF (América, Cruzeiro e Atlético-MG de Belo Horizonte; Atletic Club, de São João del-Rei e o Boston City, de Manhuaçu). “Os clubes constituídos como empresa, tendem a ter um melhor olhar do mercado. Quando um clube quer contrair um empréstimo numa instituição financeira, por exemplo, ele tem dificuldade porque as instituições financeiras veem os clubes como maus pagadores”, exemplifica Crisafulli.

Outras vantagens pontuadas pelo especialista são as questões de governança. “Em um negócio quando é gerido como empresa, os responsáveis tendem a ser mais sérios, os modelos organizacionais, mais competitivos e a gestão, mais organizada, dando mais credibilidade”, argumenta.

Entretanto, para chegar até o mercado de ações – formato que já acontece na Europa com clubes como Ajax, Benfica, Celtic, Juventus e Manchester United – Crisafulli ressalta que “os clubes vão precisar estar muito bem estruturados, coisa que com um ou três anos ainda não é o suficiente. O momento é muito inicial, mas pode ser um caminho”.

Agora, a expectativa é que o mercado dê um passo adiante, com negociações diferenciadas e envolvendo até terceiros. “No caso do Cruzeiro, a empresa do grupo do Ronaldo poderia ter vendido só 30%, ou vendido 60% e ficado com 30%. São diversas possibilidades que surgem com a novidade”, explica.

A longo prazo, ele sugere cenários diversificados em que os clubes possam pensar desde emissões de debêntures voltadas para o futebol a financiamentos coletivos para a compra de um atleta. “São movimentações econômicas diversas que se tornam possíveis e que poderemos ver no futuro, aumentando as possibilidades de negociação”, completa.

Em formato de empresa, com maior segurança jurídica, a SAF pode atrair mais investidores, mas o advogado pondera. “Ela não deixa de ser um negócio de risco e, quando um investidor opta por empresa X, quer que ela seja rentável e financeiramente sustentável, o que é mais possível em formato de SAF”, finaliza.

Relembre a negociação SAF Cruzeiro

Em 2021, a compra do Cruzeiro SAF pela empresa de Ronaldo foi acertada pelo valor de R$ 400 milhões. À época, o cenário de dívida do clube era de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. Porém, com a valorização do time no mercado, especialmente após o retorno à série A do Campeonato Brasileiro em 2023, o ex-jogador vendeu a SAF por R$ 600 milhões.

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