Afastamentos por transtornos de saúde mental aumentam 40% e preocupam empresas

Passados mais de quatro anos desde o início da pandemia da Covid-19 e quase um ano desde que deixou de ser considerada uma emergência de saúde global, seus efeitos ainda são sentidos até hoje e merecem atenção especial das empresas. O principal deles é o aumento dos problemas relacionados à saúde mental das pessoas.
Dados do Ministério da Previdência Social mostram que o número de benefícios concedidos por incapacidade temporária (ex-auxílio-doença) em decorrência de Transtornos Mentais e Comportamentais aumentou 40% em todo o Brasil em 2023.
Ao longo de todo o ano passado, foram concedidos 283.384 benefícios por incapacidade temporária em decorrência de Transtornos Mentais e Comportamentais, o que representa uma alta de mais de 80 mil casos em relação a 2022, quando 201.851 benefícios foram concedidos.
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A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Eliane Ramos, observa que vários estudos científicos alertam que, “após uma pandemia, uma grande guerra ou traumas maiores, os reflexos na sociedade podem perdurar por vários anos“.
Ela relembra que a pandemia trouxe muitas mudanças, como os hábitos de higiene, de interação social, na forma de trabalhar, de nos relacionar e de consumir. “Estamos num período de adaptação e reconstrução, que pode levar anos e provocar estresses”, diz.
De acordo com a especialista, não há uma previsão de até quanto tempo esses impactos emocionais podem durar. Ela orienta que as pessoas e empresas fiquem atentas e mantenham um diálogo aberto sobre o emocional e a saúde, buscando formas saudáveis de se adaptar às consequências emocionais desses momentos.
Aumento de novas enfermidades, como Burnout
Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, observa um aumento significativo de novas enfermidades, como transtornos de ansiedade, depressão, crises de pânico e a síndrome de Burnout.
Para ela, identificar e tratar adequadamente essas condições são passos fundamentais para evitar afastamentos nas empresas e até casos mais graves, como tentativas de suicídio.
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“Há duas décadas, a maioria dos afastamentos estava relacionada a acidentes de trabalho, lesões ortopédicas ou problemas de trajeto. Agora, além desses, estamos testemunhando um crescimento expressivo dos problemas psiquiátricos nas empresas, o que é preocupante e exige ações preventivas”, enfatiza Tatiana Gonçalves.

A presidente da ABRH orienta que o equilíbrio é a melhor forma para combater esses problemas de um mundo que é cada vez mais frágil, ansioso, não-linear e incompreensível.
“Para viver neste mundo e continuar crescendo é preciso que as pessoas encontrem o equilíbrio físico e mental. Sendo capaz de continuar aprendendo, de forma resiliente, adaptável e eficiente”, diz ela.
A saúde emocional, na visão de Eliane, nunca foi tão necessária e ao mesmo tempo nunca esteve tão frágil.
“A tecnologia vem para ajudar, mas pode impactar nesse momento. As pessoas precisam ter mais tempo para conectar com colegas de trabalho, amigos e famílias, por exemplo. Estar realmente presente”, diz.
Ela alerta para a importância da escuta ativa e da necessidade de aliar a alta performance sem atropelar as pessoas.
“O bem-estar é tão importante que está entre as 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU. Não podemos esquecer disso”, ressalta.
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Trabalho pode potencializar quadros depressivos
De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), o Brasil é o quinto País mais depressivo do mundo e uma a cada três pessoas têm a síndrome de Burnout.
“Esse cenário pode piorar se as empresas não estiverem atentas às culturas organizacionais tóxicas, com lideranças tóxicas, ou seja, não sadias. Não estarem atentas aos relacionamentos abusivos no trabalho, à discriminação que as pessoas possam estar sofrendo e a uma falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, recomenda.
No mundo corporativo, na visão da especialista, outros pontos importantes podem contribuir com o adoecimento psíquico como:
- a insegurança psicológica,
- a falta de instruções claras,
- as condições ruins de trabalho,
- prazos irreais,
- pressão exorbitante,
- ausência de tomadas de decisão,
- entre outros problemas que desencadeiam quadros indesejáveis na saúde mental.
“A forma da gente trabalhar pode estar adoecendo as pessoas. O trabalho é o elemento central, dignifica o homem, é onde passamos nossa maior parte do tempo. Então, se ele não for importante para a saúde da pessoa, ele pode ser um acelerador dos problemas de saúde mental”, ressalta.
Em função disso, ela mostra que a liderança tem uma responsabilidade grande.
“Os líderes precisam estar de olho no bem-estar da equipe e valorizar a prática de um esporte, de um lazer, de ter um hobby, do descanso. É preciso perceber quais são os cenários que hoje enfrentamos nos desafios pessoais e profissionais, quais são os gatilhos que geram estresse, quais batalhas podemos enfrentar agora, e o que nos leva à exaustão”, diz.

Trabalhador pode ter benefícios do INSS
Quando impossibilitados de trabalhar, os trabalhadores afetados por transtornos decorrentes da saúde mental possuem direitos a benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Porém, a concessão desses benefícios está sujeita a critérios específicos.
Para o trabalhador receber o benefício por incapacidade temporária ou permanente, é necessário ter qualidade de segurado e ter carência mínima de 12 meses de contribuição previdenciária.
De acordo com informações do INSS, nos dois casos é necessário apresentar laudo e exames médicos que comprovem a existência da doença mental e a incapacidade (temporária ou permanente) para o trabalho com a respectiva Classificação Internacional de Doenças (CID).
Como requerer o pedido no INSS?
Para pedir o benefício no INSS, o trabalhador deve passar por uma perícia médica para comprovar a incapacidade para trabalho. Caso o exame comprove a incapacidade para o trabalho, o benefício será concedido.
Para fazer o pedido, o trabalhador precisa agendar uma perícia médica no aplicativo ou site Meu INSS ou pelo telefone 135. No dia do atendimento, é necessário apresentar documentos médicos (atestados, relatórios, exames) e documentos pessoais que comprovem o estado de saúde da pessoa. O INSS ressalta que é o perito médico quem irá avaliar se o trabalhador tem direito ao benefício ou não.
Caso o benefício seja concedido, o trabalhador receberá uma carta de concessão e começará a receber na agência bancária que o INSS depositar o valor do pagamento. Após receber o primeiro pagamento, o beneficiário poderá alterar a agência.
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