Pesquisa da UFMG sobre efeitos da ‘Covid longa’ revela consequências no trabalho

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou um estudo sobre a chamada Covid longa, quadro que apresenta uma variedade de sintomas físicos e mentais que impactam significativamente a vida diária do cidadão que já contraiu o coronavírus, incluindo atividades do trabalho e interações sociais.
A pesquisa foi publicada em edição especial da Série Técnica Navegador SUS, da Rede Colaborativa Brasil de Pesquisa em Dados Clínicos Covid-19, Covid Longa e Mpox, organizada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em parceria com o Ministério da Saúde.
As sequelas da Covid-19 podem afetar a qualidade de vida de 10% a 20% dos pacientes que contraíram a doença. É o que aponta o estudo desenvolvido no programa de pós-graduação em Ciências da Saúde – Infectologia e Medicina Tropical, da Faculdade de Medicina, que monitorou trabalhadores da UFMG que tiveram quadro leve da doença.
A análise também utilizou como fonte da pesquisa uma grande revisão sistemática de artigos publicados até junho de 2021.
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Este trabalho resultou em uma série de descobertas sobre os impactos da doença nos trabalhadores, como, a de que até 47% das pessoas empregadas antes da fase aguda da Covid-19 não conseguiram regressar ao trabalho. Além disso, de 8% a 39% dos monitorados relataram perturbações na sua vida profissional após contrair a doença, e relatos dão conta de que muitos não conseguiram atingir os níveis de emprego pré-Covid.
“Os resultados indicam que indivíduos não recuperados, especialmente os mais velhos e com histórico psiquiátrico, apresentaram significativa diminuição na capacidade de trabalho”, conta a médica do Trabalho, Lívia Bonfim, autora do estudo.
Segundo o trabalho científico, a permanência de sintomas neuropsiquiátricos e respiratórios, mesmo de forma leve, é particularmente alta entre adultos em idade produtiva, o que leva a esses impactos socioeconômicos.
“A evidência sobre o impacto da Covid longa no ambiente de trabalho é limitada, mas sugere um expressivo ônus para a economia e para os sistemas de saúde em longo prazo”, completa.
Efeitos no mercado de trabalho
A síndrome pós-Covid-19, conhecida como Covid longa, pode ser definida como a ocorrência de sinais e sintomas clínicos que aparecem durante ou após o adoecimento e persistem durante 12 semanas, ou mais, depois do início da infecção aguda.
A pesquisa avaliou 672 adultos em idade produtiva, de 18 a 64 anos, infectados pelo vírus de agosto de 2020 a janeiro de 2021, para entender os aspectos que são afetados após a infecção.
O número de sintomas registrados durante o episódio agudo da Covid-19, a gravidade do quadro e os altos níveis de marcadores inflamatórios, foram categorizados como indicadores para a maior propensão ao desenvolvimento da síndrome.

Veja os principais sintomas associados à Covid longa elencados pela pesquisadora:
- memória falha,
- ausência da palavra certa,
- dificuldades de concentração,
- como fadiga,
- falta de ar,
- dor de cabeça e
- tontura.
Um questionário associado à pesquisa foi feito com 290 trabalhadores da UFMG, com idade média de 43 anos, dos quais(61% eram mulheres e 43% atuavam na área da saúde. Os resultados mostram que os sintomas cognitivos estão entre as sequelas mais frequentes em pacientes com síndrome pós-Covid-19. Entre eles, se destacam:
- dificuldade para encontrar a palavra certa (18,6%);
- problemas de memória (18,3%);
- problemas de concentração (17,2%);
- dificuldade para pensar claramente (10,3%);
- cansaço (11,7%);
- ansiedade (10,3%);
- lembrança negativa do episódio de covid-19 (8,6%);
- desinteresse generalizado (7,2%);
- falta de ânimo (7,2%).
A pesquisadora explica que não existe tratamento eficaz para melhorar os déficits cognitivos, uma vez que os mecanismos fisiopatológicos subjacentes não são muito claros.
“Assim, a estratégia mais eficaz para prevenir as condições pós-Covid é evitar a própria Covid-19, por meio da adoção de medidas para prevenção da aquisição de infecções respiratórias, incluindo a vacinação”, defende Lívia.
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