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Pesquisa da UFMG sobre efeitos da ‘Covid longa’ revela consequências no trabalho

Uma das constatações do estudo é que até 47% das pessoas empregadas antes da fase aguda da Covid-19 não conseguiram regressar ao trabalho 
Pesquisa da UFMG sobre efeitos da ‘Covid longa’ revela consequências no trabalho
Estudo acompanhou trabalhadores atendidos pelo programa Telecovid-19 | Crédito: Reprodução/ Arquivo Faculdade de Medicina da UFMG

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou um estudo sobre a chamada Covid longa, quadro que apresenta uma variedade de sintomas físicos e mentais que impactam significativamente a vida diária do cidadão que já contraiu o coronavírus, incluindo atividades do trabalho e interações sociais. 

A pesquisa foi publicada em edição especial da Série Técnica Navegador SUS, da Rede Colaborativa Brasil de Pesquisa em Dados Clínicos Covid-19, Covid Longa e Mpox, organizada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em parceria com o Ministério da Saúde.

As sequelas da Covid-19 podem afetar a qualidade de vida de 10% a 20% dos pacientes que contraíram a doença. É o que aponta o estudo desenvolvido no programa de pós-graduação em Ciências da Saúde – Infectologia e Medicina Tropical, da Faculdade de Medicina, que monitorou trabalhadores da UFMG que tiveram quadro leve da doença.  

A análise também utilizou como fonte da pesquisa uma grande revisão sistemática de artigos publicados até junho de 2021.

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Este trabalho resultou em uma série de descobertas sobre os impactos da doença nos trabalhadores, como, a de que até 47% das pessoas empregadas antes da fase aguda da Covid-19 não conseguiram regressar ao trabalho. Além disso, de 8% a 39% dos monitorados relataram perturbações na sua vida profissional após contrair a doença, e relatos dão conta de que muitos não conseguiram atingir os níveis de emprego pré-Covid. 

“Os resultados indicam que indivíduos não recuperados, especialmente os mais velhos e com histórico psiquiátrico, apresentaram significativa diminuição na capacidade de trabalho”, conta a médica do Trabalho, Lívia Bonfim, autora do estudo.  

Segundo o trabalho científico, a permanência de sintomas neuropsiquiátricos e respiratórios, mesmo de forma leve, é particularmente alta entre adultos em idade produtiva, o que leva a esses impactos socioeconômicos. 

“A evidência sobre o impacto da Covid longa no ambiente de trabalho é limitada, mas sugere um expressivo ônus para a economia e para os sistemas de saúde em longo prazo”, completa.

Efeitos no mercado de trabalho

A síndrome pós-Covid-19, conhecida como Covid longa, pode ser definida como a ocorrência de sinais e sintomas clínicos que aparecem durante ou após o adoecimento e persistem durante 12 semanas, ou mais, depois do início da infecção aguda.

A pesquisa avaliou 672 adultos em idade produtiva, de 18 a 64 anos, infectados pelo vírus de agosto de 2020 a janeiro de 2021, para entender os aspectos que são afetados após a infecção. 

O número de sintomas registrados durante o episódio agudo da Covid-19, a gravidade do quadro e os altos níveis de marcadores inflamatórios, foram categorizados como indicadores para a maior propensão ao desenvolvimento da síndrome. 

covid longa doença
Crédito: Reprodução/ UFMG

Veja os principais sintomas associados à Covid longa elencados pela pesquisadora:

  • memória falha, 
  • ausência da palavra certa, 
  • dificuldades de concentração,
  • como fadiga, 
  • falta de ar, 
  • dor de cabeça e 
  • tontura.  

Um questionário associado à pesquisa foi feito com 290 trabalhadores da UFMG, com idade média de 43 anos, dos quais(61% eram mulheres e 43% atuavam na área da saúde. Os resultados mostram que os sintomas cognitivos estão entre as sequelas mais frequentes em pacientes com síndrome pós-Covid-19. Entre eles, se destacam:

  1. dificuldade para encontrar a palavra certa (18,6%); 
  2. problemas de memória (18,3%);
  3. problemas de concentração (17,2%);  
  4. dificuldade para pensar claramente (10,3%); 
  5. cansaço (11,7%); 
  6. ansiedade (10,3%); 
  7. lembrança negativa do episódio de covid-19 (8,6%); 
  8. desinteresse generalizado (7,2%);  
  9. falta de ânimo (7,2%).

A pesquisadora explica que não existe tratamento eficaz para melhorar os déficits cognitivos, uma vez que os mecanismos fisiopatológicos subjacentes não são muito claros. 

“Assim, a estratégia mais eficaz para prevenir as condições pós-Covid é evitar a própria Covid-19, por meio da adoção de medidas para prevenção da aquisição de infecções respiratórias, incluindo a vacinação”, defende Lívia.

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