Legislação

Auditores do Mapa são investigados por propina

Auditores do Mapa são investigados por propina
Agentes da PF cumpriram 68 mandados de busca e apreensão, que foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Ponta Grossa - Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

Curitiba – A Polícia Federal do Paraná deflagrou ontem a 4ª fase da Operação Carne Fraca, denominada Romanos. Os mandados de busca e apreensão miram principalmente auditores fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que teriam recebido propina para atuar em favor de empresas.

A investigação tem como base a colaboração da BRF, que indicou ao menos 60 auditores agropecuários que teriam recebido cerca de R$ 19 milhões. Os pagamentos ocorreram mesmo antes da fusão de Perdigão e Sadia, que originou o grupo, até 2017, segundo a PF. A BRF teria interrompido a prática em 2017.

Os valores eram transferidos em espécie e até custeavam planos de saúde para alguns dos fiscais, de acordo com a investigação. Em um caso citado pelo delegado da PF Maurício Boscardi Grillo uma auditora teria chantageado a empresa para contratar o marido dela em troca da atuação em benefício do grupo.

Dos 60 fiscais alvos da operação, 39 ainda estavam na ativa, mas foram afastados das funções por ordem judicial expedida juntamente com os mandados desta fase. Segundo o delegado, o Mapa também vai apurar a conduta dos funcionários administrativamente.

Empresas conveniadas à BRF seriam utilizadas para pagar e esconder a propina de forma que não prejudicasse a imagem do grupo. “Ela (BRF) não se expunha para os ficais, quem apareceria era outra empresa, mas [o grupo] fazia o acerto de contas depois com a empresa que fazia os pagamentos», explicou Boscardi.

As evidências foram entregues à PF pela própria BRF, que resolveu colaborar espontaneamente a partir da 3ª fase da Carne Fraca, em março do ano passado, quando o ex-presidente da empresa, Pedro de Andrade Faria, foi um dos alvos de prisão. O grupo teria interrompido os pagamentos já em 2017, quando passou por uma reestruturação interna.

Uma das investigadas é a União Avícola, ligada ao ex-senador Cidinho Santos (PR-MT). “A gente precisava confrontar as provas, procurar saber se essa empresa toma ainda esse tipo de postura. É possível que isso venha a acontecer”, afirmou o delegado.

Em troca da propina, os fiscais teriam facilitado ou “deixado de atrapalhar” a atividade das empresas. “(A intenção era) conseguir operar com agilidade no sistema em razão do lucro, sem ser atrapalhado pelo grupo de fiscais que atuavam na empresa”, disse Boscardi.

Além de confirmar as provas apresentadas pela BRF, a intenção dos policiais é investigar se os auditores continuam recebendo propina de outras empresas.

Ao todo, foram cumpridos 68 mandados de busca e apreensão em nove estados: Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Ponta Grossa, no interior do Paraná. O nome da operação, Romanos, faz referência a passagens bíblicas que tratam de confissão e justiça.

Defesa – O Ministério da Agricultura diz, em nota, que “a Operação Romanos diz respeito a desdobramentos de investigações relativas a fatos ocorridos até 2017” e que “as informações sobre os servidores alvos dessa etapa da operação foram enviadas hoje ao Mapa, que já tomou e continuará tomando todas as providências e sanções legais cabíveis”.

A pasta afirma ter confiança “em sua área de fiscalização agropecuária, já reestruturada, e entende que essa situação é uma exceção à regra e não compromete a efetiva atuação de seus 2.500 fiscais”.

Em nota, a União Avícola afirmou que o fiscal citado na investigação nunca trabalhou ou foi responsável pela inspeção na empresa. Diz também que tomará as medidas cabíveis quando os fatos forem esclarecidos.

A BRF confirmou que tem colaborado com as autoridades para esclarecer os fatos apurados e afirmou que está atuando em conformidade com as regras vigentes. A empresa não foi alvo de buscas nesta fase da operação. A última fase da Carne Fraca foi deflagrada em março do ano passado, mirando a BRF. Na ocasião, o ex-presidente da empresa, Pedro de Andrade Faria, foi um dos dez alvos de prisão. (Folhapress)

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