Legislação

Braga Netto é preso pela PF sob suspeita de interferir em investigação de trama golpista

Militar foi ministro de Bolsonaro e também compôs chapa com o ex-presidente, nas eleições de 2022
Braga Netto é preso pela PF sob suspeita de interferir em investigação de trama golpista
Crédito: Isac Nóbrega/PR

Brasília – A Polícia Federal prendeu na manhã deste sábado (14) o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL) e também candidato a vice na chapa derrotada de 2022. Endereços ligados ao general também foram alvo de buscas e apreensões.

Ele estava em sua casa no Rio de Janeiro e ficará detido no quartel da 1ª Divisão de Exército, também no Rio -a organização é subordinada ao Comando Militar do Leste, órgão que foi chefiado pelo próprio Braga Netto de 2016 a 2019.

A Polícia Federal ainda fez buscas contra o coronel da reserva Flávio Peregrino, principal auxiliar de Braga Netto desde o governo Bolsonaro. Ele foi alvo de uma cautelar diversa de prisão e está proibido de falar com os outros investigados.

A operação deste sábado foi pedida pela PF e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), com aval da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Uma audiência de custódia está marcada para 14h deste sábado, por videoconferência.

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Segundo o chefe da PGR, Paulo Gonet, a representação da Polícia Federal traz “provas suficientes de autoria e materialidade dos crimes graves cometidos pelos requeridos”. Ele diz ainda que somente a prisão preventiva de Braga Netto seria suficiente para mitigar riscos à ordem pública e à aplicação da lei penal.

As suspeitas relacionadas à tentativa de interferir nas investigações vêm sendo acumuladas desde setembro de 2023, quando o tenente-coronel Mauro Cid teve homologado seu acordo de colaboração premiada no STF.

O próprio Cid relatou Moraes, durante depoimento no Supremo, que Braga Netto usou auxiliares para ter acesso a detalhes de seus depoimentos. O delator também disse que o general procurou diretamente seu pai, Mauro Lourena Cid, para pedir detalhes do que havia falado na colaboração premiada.

A Polícia Federal ainda apreendeu na sede do PL em fevereiro, em mesa usada pelo coronel Peregrino, um documento com perguntas e respostas sobre a delação. Segundo os investigadores, esses elementos indicam uma tentativa de Braga Netto e Peregrino conseguirem detalhes sigilosos sobre o acordo de colaboração de Mauro Cid.

A operação estava prevista para ocorrer na quinta-feira (12). Braga Netto, porém, estava com a família em viagem de férias a Alagoas, com retorno previsto para o fim da tarde. A Polícia Federal decidiu prender o general da reserva no sábado, quando ele já estava de volta à casa que mantém em Copacabana.

A defesa do general da reserva não se pronunciou até o momento. Em manifestação anterior, o militar afirmou que “nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém”.

Em nota, o Exército afirmou que acompanha as diligências realizadas por determinação da Justiça e colabora com as investigações em curso. “A Força não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”, completa o texto.

Braga Netto foi ministro da Casa Civil e da Defesa na gestão Bolsonaro e só deixou o governo para se filiar ao PL e compor, como vice, a chapa presidencial na campanha pela reeleição.
Ele fazia parte do círculo mais íntimo de Bolsonaro e, segundo a PF, atuou em dois núcleos do grupo suspeito da trama golpista.

De acordo com as investigações, ele teria participado do “Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado” e do “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio a Outros Núcleos”.

Entre os indiciados, estão suspeitos de articular um plano para matar em 2022 o então presidente eleito, Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e Moraes. Esse plano teria sido discutido na casa do general da reserva em Brasília.

Nos últimos dias, a defesa de Bolsonaro passou a trabalhar com a tese do “golpe do golpe”, segundo a qual militares de alta patente usariam a trama golpista no fim de 2022 para derrubar o então presidente e assumir o poder -e não para mantê-lo no cargo.

A estratégia para livrar Bolsonaro do enredo golpista implica os generais da reserva Augusto Heleno e Walter Braga Netto como os principais beneficiados por uma eventual ruptura institucional.

Aliados dos dois militares afirmaram à reportagem, sob reserva, que a divulgação dessa linha de defesa causou quebra de confiança. O movimento é visto como um oportunismo do ex-presidente na tentativa de se livrar das acusações de que conhecia os planos golpistas.

A base para essa tese é um documento elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes, um dos principais suspeitos de arquitetar a trama golpista revelada pela PF. Esse texto previa a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de Estado.

As reações de militares sobre a linha de defesa se intensificaram após Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos advogados de Bolsonaro, dizer em entrevista à GloboNews que o ex-presidente não se beneficiaria com um eventual golpe.

“Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do ‘Plano Punhal Verde e Amarelo’ e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro”, disse Bueno.

O advogado voltou a dizer que Bolsonaro não tinha conhecimento do plano identificado pela PF que definia estratégias para matar Lula, Alckmin e Moraes.

“Não tem o nome dele [Bolsonaro] lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, reforçou o advogado.

Braga Netto entregou dinheiro em sacola de vinho para plano de matar autoridades, diz Moraes

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a prisão do general Walter Braga Netto, relata que ele “obteve e entregou os recursos necessários” para a organização e execução do plano de matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio Moraes.

O ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) foi preso na manhã deste sábado (14) pela PF (Polícia Federal) sob a suspeita de interferir nas investigações sobre a trama golpista em 2022. General de quatro estrelas do Exército, ele também foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro na eleição de 2022.

A decisão afirma que o novo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid a Moraes, em 21 de novembro, associado a documentos obtidos na investigação, indica que “foi Walter Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários para a organização e execução da operação ‘Punhal Verde e Amarelo’ – evento ‘Copa 2022′”.

O Plano Punhal Verde Amarelo previa matar as autoridades, e o evento Copa 2022 era a operação, abortada de última hora, para sequestrar Moraes no dia 15 de dezembro de 2022.

A defesa do general foi procurada, mas não se manifestou até o momento. Quando o plano veio à tona, Cid disse que não tinha conhecimento dele. Depois, o tenente-coronel prestou novo depoimento no âmbito de sua colaboração, diretamente a Moraes.

No relatório final do caso, divulgado em novembro, a PF havia listado uma série de atividades e mensagens de suspeito teor golpista que tiveram início a partir da reunião em 12 de novembro de 2022 na casa do general, que foi vice na chapa de Bolsonaro.

Cid apresentou, segundo a decisão de Moraes divulgada neste sábado, novos elementos sobre as circunstâncias desse encontro, ocorrido na residência de Braga Netto em 12 de novembro.

Em uma versão anterior apresentada à PF, Mauro Cid disse que o encontro de militares das Forças Especiais com Braga Netto em novembro de 2022 ocorreu porque os militares queriam tirar fotos e cumprimentos o general.

No local, segundo Cid, eles haveriam discutido sobre a “conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militares […], se as manifestações podiam estar lá [em frente aos quartéis]”.

Já o termo de audiência do depoimento de Cid ao Supremo, em 21 de novembro, diz que o tenente-coronel levou os militares ao apartamento de Braga Netto para falar sobre a “indignação com a situação do país e a necessidade de ações concretas”.

O documento do Supremo diz ainda que o tenente-coronel Rafael de Oliveira se encontrou com Braga Netto dias depois da reunião de 12 de novembro de 2022. Na ocasião, o general entregou a Oliveira dinheiro em espécie, guardado em uma “sacola de vinho”, para a “realização da operação”.

Os valores, segundo a delação de Cid, teriam sido obtidos com o “pessoal do agronegócio”.
O trecho do termo de depoimento de Cid no STF não deixa claro se o dinheiro havia sido repassado com o objetivo de financiar o plano de assassinar autoridades. Em trechos anteriores da delação, Mauro Cid disse que o tenente-coronel Rafael de Oliveira pediu R$ 100 mil para levar bolsonaristas de outras regiões do país ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

As conclusões da Polícia Federal e de Alexandre de Moraes, porém, são de que os valores foram utilizados para viabilizar o plano de executar autoridades.

Moraes ressalta na decisão que há “fortes indícios e substanciais provas” de que Braga Netto “contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente” para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, e cuja consumação incluía o plano de detenção e possível execução do próprio Moraes, além de Lula e Alckmin.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, concordou com a operação. Ele disse que a representação da Polícia Federal traz “provas suficientes de autoria e materialidade dos crimes graves cometidos pelos requeridos”.

Para Gonet, somente a prisão de Braga Netto seria suficiente para mitigar “riscos à ordem pública e à aplicação da lei penal”.

A Polícia Federal prendeu Braga Netto na manhã deste sábado (14) em sua casa no Rio de Janeiro. Endereços ligados ao general também são alvo de buscas e apreensões. O general já foi indiciado pela trama golpista.

A Polícia Federal ainda faz buscas contra o coronel da reserva Flávio Peregrino, principal auxiliar de Braga Netto desde o governo Bolsonaro. Ele foi alvo de uma cautelar diversa de prisão.

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