Legislação

Consignado da Caixa está na mira do MP

Ministério Público junto ao TCU pede investigação sobre mudanças nos critérios de empréstimo após as eleições
Consignado da Caixa está na mira do MP
Documento inclui “envolvimento” da presidente da Caixa | Crédito: José Cruz / Agência Brasil

Brasília – O Ministério Público (MP) junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou uma nova representação ontem pedindo que a Corte avalie as mudanças feitas pela Caixa Econômica Federal nos critérios para concessão de empréstimo consignado do Auxílio Brasil após as eleições.

O documento solicita também que, se confirmados os indícios de que a liberação de crédito tenha sido usada pelo banco com finalidade eleitoral, seja apurada a responsabilização dos envolvidos. O texto cita em especial a presidente da Caixa, Daniella Marques, e o “suposto envolvimento” do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O pedido foi feito pelo subprocurador-geral Lucas Furtado, que assina o documento. Foi requisitado ainda o envio de uma cópia da representação ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O subprocurador cita reportagem publicada pela “Folha de S.Paulo”, que mostrou que a Caixa passou a limitar a oferta de suas linhas de crédito depois de ter atingido os limites orçamentários para o ano e mudou a análise de renda para empréstimos do consignado do Auxílio Brasil.

Em novembro, o banco passou a liberar menos dinheiro nas concessões aos beneficiários do programa social, limitando o comprometimento da renda a 20%, ante 40% – teto permitido por lei e montante padrão antes das eleições.

A carteira total de crédito já somaria R$ 994 bilhões e ainda pode ultrapassar R$ 1 trilhão neste ano, enquanto o banco deveria ter emprestado R$ 892 bilhões para seguir os limites de liquidez.

A alta procura pelo consignado do Auxílio Brasil colaborou para o patamar alcançado. Do início da operação, em 11 de outubro, até o dia 21 do mesmo mês, o banco liberou R$ 4,29 bilhões nessa modalidade de crédito.

Segundo a Caixa, a concessão de crédito obedece a “critérios internos de governança, com base no contexto de mercado, no monitoramento de seus produtos e nas estratégias do banco”.

Caráter eleitoreiro

Na representação, o subprocurador escreveu que “a mudança de postura da Caixa apenas reafirma o caráter eleitoreiro da medida adotada pela Caixa Econômica Federal para a concessão de empréstimos consignados aos beneficiários do Auxílio Brasil”.

“Por que uma mudança tão brusca após a derrota do candidato Jair Bolsonaro às eleições? O que mudou no período das eleições e o período em que saiu derrotado? Os fatos falam por si! Não há como negar que os indícios se escancaram aos olhos da sociedade e desse Tribunal de Contas não merecendo, mais uma vez, o arquivamento”, questionou.

No início de novembro, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz negou um pedido do Ministério Público para que a Caixa deixasse de fazer novos empréstimos consignados para os beneficiários do Auxílio Brasil.

O pedido havia sido feito por Furtado antes do segundo turno das eleições. O subprocurador também havia solicitado avaliação dos critérios adotados pelo banco público para a concessão, com o objetivo de impedir a sua utilização com finalidade meramente eleitoral.

Cedraz determinou o arquivamento dos autos, afirmando que as informações apresentadas pela Caixa no processo “afastaram por completo a suposta irregularidade quanto à não-observância de procedimentos operacionais ou de análises de risco essenciais e prévios à decisão de ofertar o empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil». (Nathalia Garcia)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas