Legislação

Número de empresas em recuperação judicial em Minas Gerais cresce 34,8% em um ano

Fatores como a alta da taxa de juros e a restrição de acesso ao crédito contribuíram para o resultado
Número de empresas em recuperação judicial em Minas Gerais cresce 34,8% em um ano
Foto: Reprodução Adobe Stock

A quantidade de empresas em recuperação judicial (RJ) em Minas Gerais cresceu 34,8% no segundo trimestre de 2025, ante igual intervalo de 2024. De acordo com dados do Monitor RGF da Recuperação Judicial, o montante de CNPJs nessa situação subiu de 250 para 337.

Segundo o advogado e presidente da Comissão de Direito Empresarial da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Marcelo Marçal, o salto no total de negócios com processos ativos reflete um conjunto de fatores estruturais e conjunturais.

Ele explica que o alto patamar da taxa de juros (Selic) – atualmente, em 15% ao ano – torna empréstimos e financiamentos mais caros e inacessíveis para muitas empresas. Além disso, as instituições financeiras estão mais restritivas, dificultando o acesso ao crédito.

Marçal também aponta que houve uma queda no consumo, devido à perda de poder aquisitivo da população em um cenário de inflação persistente, impactando diretamente setores como varejo e serviços. Outro ponto é que boa parte das companhias possui uma gestão financeira deficiente, o que agrava a vulnerabilidade empresarial.

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Roberta Gonzaga
Roberta Gonzaga atribui o aumento da quantidade de empresas em recuperação judicial a fatores como alta dos juros e restrição ao crédito | Foto: Divulgação Vivian Koblinsky

Reforçando o que o advogado diz, conforme a consultora da RGF e especialista em reestruturação, Roberta Gonzaga, o aumento do volume de empresas em recuperação judicial no Estado não ficou restrito a um único setor, se espalhando por serviços, comércio, indústria e agropecuária. Isso indica que não houve um fator isolado responsável pela alta, mas, sim, uma combinação de elementos que vêm pressionando a economia como um todo.

Ela cita a elevação das taxas de juros, a restrição de crédito, enquanto diversas empresas carregam dívidas da pandemia, e a contenção da demanda – pelo controle, através da Selic –, que comprime as margens ao longo de várias cadeias. Exemplo de atividade impactada por esse cenário é o transporte rodoviário de cargas, que registrou alta de 41% nos processos – o segmento tem o maior número de CNPJs em recuperação judicial, com 24.

“Por se tratar de um elo entre a produção, seja industrial ou agrícola, e o comércio, esse segmento sofre pressão dos dois lados, tanto com a crise produtiva, causada por fatores como aumento de custos, variação do preço das commodities e desvalorização do real, quanto com o controle do consumo pelo governo, por meio da taxa Selic, visando conter a inflação”, afirma Roberta Gonzaga.

Tendência é de que os números continuem subindo até 2026

Conforme a consultora da RGF, a expectativa para até meados de 2026 é de continuidade no aumento do número de processos de RJ, não só em Minas Gerais, como no Brasil inteiro.

A estimativa decorre, principalmente, do fato de não haver perspectiva clara de queda de juros ou maior abertura para acesso ao crédito. Ela também menciona que, até o fim de 2025, espera-se a retração da economia brasileira, que deve se acentuar até o próximo ano, que ainda é marcado por eleição e tende a gerar incertezas de acordo com o desempenho dos candidatos que têm melhor ou pior aceitação do mercado.

Em linha com o que Roberta Gonzaga afirma, Marçal diz que os sinais apontam para a manutenção do quadro atual, com a expectativa da Selic alta até 2026, encarecendo o crédito e, consequentemente, dificultando a reestruturação de dívidas pelas empresas.

“Acreditamos que possa ter um crescimento moderado nos pedidos de recuperação judicial nos próximos trimestres, mas haverá aumento, especialmente se não houver uma queda significativa na taxa de juros ou se não houver estímulos fiscais regionais”, avalia.

Tarifas dos EUA devem agravar a situação

Além dos fatores internos, aspectos externos podem contribuir para que mais empresas entrem em processo de recuperação judicial no Estado e no País. A consultora da RGF ressalta que o cenário deve ser agravado com a contribuição das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que impactam diretamente setores como o agro.

“Apesar das ações do governo para conter os impactos e das empresas já buscarem se reorganizar nesse novo cenário de tarifas, o efeito negativo sobre o caixa deve acontecer”, diz. “Muitas companhias provavelmente terão de recorrer à recuperação judicial para viabilizar sua reestruturação e tentar atravessar esse cenário de crise”, salienta.

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