Pedidos de recuperação judicial crescem com juros altos e falta de crédito

Os juros altos e a falta de crédito no mercado nacional estão contribuindo para que muitas empresas entrem com pedido de recuperação judicial (RJ). No Brasil, ao longo do terceiro trimestre deste ano,131 empresas entraram em recuperação judicial. Ao todo, foram 49 empresas a mais que no segundo trimestre. De julho a setembro, em Minas Gerais três empresas ingressaram em recuperação judicial, duas a mais que no trimestre anterior. Ao todo, são 178.035 em RJ no Estado. Os dados são do Monitor RGF de Recuperação Judicial no Brasil.
Conforme os dados do Índice de Recuperação Judicial (IRJ-RGF), o número total de empresas em recuperação judicial no País aumentou em 49, subindo de 3.823, no segundo trimestre para 3.872. A base total de empresas cadastradas aumentou em aproximadamente 40 mil, de 2,12 milhões para 2,16 milhões.
Em Minas, 213 empresas entraram em recuperação judicial de julho a setembro, ante as 211 registradas no segundo trimestre. A base total de empresas cadastradas chegou a 178.035 companhias, ante as 174.584 registradas no segundo trimestre.
No terceiro trimestre, uma empresa entre as 211 registradas no Estado saiu da RJ, por falência. Com isso, o Índice de Recuperação Judicial (IRJ-RGF) – que indica a quantidade de companhias em recuperação judicial a cada mil empresas em Minas – encerrou o período em 1,20, ante 1,21 no segundo trimestre.
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Crédito escasso e juros elevados impulsionam pedidos de recuperação judicial
De acordo com o CEO da Quist Investimentos, Douglas Duek, as principais causas do aumento dos números de recuperações judiciais são os juros altos e a falta de crédito.
Duek explica que os juros subiram muito no ano passado para conter a inflação e, após os episódios da recuperação judicial da Americanas e outras, vários bancos perceberam que as empresas não iriam conseguir pagar suas dívidas com os juros altos.
“Os bancos puxaram o crédito, tiraram o crédito do mercado. Então, as empresas que precisavam de ajuda, que precisavam de crédito e mesmo que estivessem dispostas a pagar os juros altos, perderam o acesso ao crédito. Então, nesse ano, a falta de crédito e os juros altos estão fazendo com que várias empresas tenham uma única opção, que é um pedido de recuperação judicial, o que aumentou, realmente, drasticamente”, explica.
Ainda conforme Duek, hoje, o que vem comprometendo as empresas são os juros altos e a falta de crédito. “Necessariamente, o aumento dos pedidos de recuperação judicial não está ligado à gestão. Muitas empresas bem geridas no passado, com a mesma gestão, estão sofrendo esses fenômenos. A gente ainda vai sentir isso, pelo menos até junho do ano que vem”, prevê.
Empresas sem capital
O doutor e mestre em direito comercial pela UFMG e professor de falências e recuperação de empresas no Ibmec, Vinícius Gontijo, explica que os juros altos e a falta de crédito têm impactado nas empresas. Ao longo da pandemia, os empresários gastaram as reservas financeiras e, agora, sofrem com a falta de caixa, levando, então, à recuperação judicial.
“Nós temos identificado que, durante o período de pandemia, o número de pedidos de recuperações não aumentou como se imaginava em um primeiro momento. Isso aconteceu, muito provavelmente, porque os empresários foram gastando as reservas financeiras que haviam acumulado em períodos anteriores”, analisa..
O problema, segundo Gontijo, foi que, após a pandemia, houve um aumento expressivo nas taxas de juros e queda da oferta de crédito no mercado.
“Com o término da pandemia e o estrangulamento da economia, em razão de juros muito elevados, houve uma diminuição de acesso ao crédito. Levando, assim, a um estado de estrangulamento das sociedades empresárias. Em razão disso, temos visto o aumento de pedidos de recuperação judicial. Então, a gente tem observado que a principal razão é a ausência de capital. O capital que os empresários tinham foi desprendido durante a pandemia e eles não conseguiram repor, exatamente, pelo custo muito alto das taxas de juros do Brasil”, ressalta.
Professora de direito e gestão empresarial da UNA, a advogada Ana Gabriela Piantamar também ressalta que as altas taxas de juros impactam de forma negativa nos negócios das empresas. “As altas taxas de juros que são praticadas no Brasil e a desaceleração da economia são, sem dúvida, as mais importantes causas da disparada dos pedidos de recuperação judicial e falências. Estamos ainda no rescaldo de uma pandemia e o Brasil está retomando lentamente ações para o desempenho econômico no pós-pandemia”, pondera.
Burocracia
Outros fatores que impactam na saúde financeira das empresas, segundo Ana Gabriela, são as instabilidades macroeconômicas e a questão fiscal. “Verdadeiramente, não foram fixadas escolhas que asseguram o crescimento da produtividade no Brasil. Pelo menos, não como prioridade. Ainda como herança de uma economia e política fechada para o mundo, temos a alta burocracia, o custo do Estado elevado, baixa eficiência do Poder Judiciário, que é um dos mais lentos e caros de todo o mundo. Esses são desafios conjunturais que vêm comprometendo o desempenho das empresas, ao longo dos anos, e principalmente nesse momento delicado”, avalia.
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