Recuperação judicial: Minas é destaque na quantidade de empresas no 3º trimestre

Minas Gerais apareceu, pela primeira vez, como o Estado com maior aumento na quantidade de empresas em recuperação judicial no terceiro trimestre, ao longo dos 15 meses de existência do Monitor RGF da Recuperação Judicial. Foram 47 empresas a mais nessa situação no terceiro trimestre de 2024 comparado com o segundo trimestre do mesmo ano, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 35, e Paraná, com 19.
Em termos percentuais, o incremento foi 18,8%, já que as empresas nessa situação passaram de 250 no segundo trimestre para 297 no trimestre seguinte. A expansão de Minas superou o crescimento nacional, de 4,4% neste período.
No Estado, transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças, intermunicipal, interestadual e internacional, com 20 empresas, lidera o ranking dos setores com mais empresas nesta situação, seguido por holdings de instituições não financeiras, com 16 empreendimentos e comércio varejista de combustíveis para veículos automotores, com 11 empresas.
Outra atividade que se destaca é a de fabricação de laticínios, com dez representantes e incorporação de empreendimentos imobiliários, com nove empresas. Os cinco setores que lideram o ranking mineiro representam 22% do total de 297 empresas que estão passando por esse processo.
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O levantamento mostrou ainda que o número absoluto de empresas em recuperação judicial no País continua aumentando, sendo o maior já registrado em 2024, até o momento. No terceiro trimestre, a quantidade total de empresas em recuperação judicial aumentou em 185 (considerando entradas e saídas), passando de 4.223 para 4.408 nesse período.
Ao todo, 433 empresas entraram em recuperação judicial no terceiro trimestre no Brasil, enquanto 247 saíram do processo. Os dados referem-se a matrizes de empresas ativas de pequeno, médio e grande portes.

Juro elevado é problema – O consultor e professor de gestão e negócios do Centro Universitário UNA Uberlândia, Marcelo Cunha, explica que o aumento dos pedidos de recuperação judicial em 2024 está fortemente vinculado ao cenário econômico desafiador, que envolve taxas de juros elevadas e restrições de crédito, que dificultam o acesso aos financiamentos essenciais para empresas em situação financeira delicada.
O especialista destaca que o agronegócio, que é um importante setor do Estado, enfrenta também dificuldades relacionadas ao clima. “Fatores climáticos, como enchentes e secas, impactaram negativamente as atividades agrícolas em Minas Gerais, aumentando as dificuldades de pequenos e médios produtores em honrar compromissos financeiros. Essas dificuldades levam muitos produtores a recorrerem à recuperação judicial para renegociar dívidas e evitar a falência”, observa.

O coordenador e professor do curso de ciências contábeis do Ibmec, Walter Morais, também destaca os juros elevados vigentes no País como um dos dificultadores para a permanência dos negócios. “Outros fatores para o aumento da recuperação judicial incluem crescimento da concorrência (novas empresas sendo constituídas), necessidade de investimentos e busca por financiamentos, que nos últimos anos mantém taxas elevadas, contribuindo para o aumento da inadimplência”, diz.
Para Cunha, a recuperação judicial é o melhor caminho para tentar “salvar” uma empresa. “Diferente da falência, que visa à liquidação do patrimônio da empresa para quitar suas dívidas com os credores, encerrando as atividades empresariais, a recuperação judicial busca reestruturar a empresa para permitir sua continuidade, protegendo empregos, credores e incentivando a recuperação econômica, através da apresentação de um plano de recuperação, que deve ser aprovado pelos credores e homologado pelo juiz. O plano inclui medidas como renegociação de dívidas, venda de ativos e reestruturação operacional”, explica.
Perspectiva – Pela análise da consultoria RGF, o número de processos de recuperação judicial deve aumentar, em razão da taxa básica de juros (Selic) elevada no País. Na quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom), Banco Central (BC) decidiu pelo aumento de 0,5 ponto percentual da Selic, que passou de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano.
“Nesse cenário, as empresas com endividamentos mais altos continuam com forte aperto para conseguir honrar as despesas financeiras em um ambiente de escassez do crédito. Temos aí ‘a tempestade perfeita’ formada para desabar nos próximos meses”, destaca o sócio da RGF especialista em reestruturação e recuperação judicial, Rodrigo Gallegos.
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