Agenda 2030 deve estar entre as cobranças aos candidatos nessas eleições

Em um ano marcado por queimadas, seca extrema e possibilidade de crise hídrica, a Agenda 2030 deveria figurar entre os temas centrais nos debates das eleições de Minas Gerais em 2024. Além disso, a estrutura macroeconômica do Estado, com atividades econômicas concentradas na mineração, agricultura e indústria, exige ainda mais consciência e foco nas metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, essas reflexões não estão presentes nas pautas dos candidatos nem dos eleitores.

É o que explica Robson Sávio Reis, doutor em Ciências Sociais e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC/MG. O especialista defende que há tempo ainda de se informar e escolher representantes capazes de construir cidades melhores para todos.
Como você avalia o entendimento e compromisso dos candidatos às câmaras municipais e prefeituras em relação aos ODS em Minas Gerais?
Desconheço planos de governo com foco nos ODS em Minas Gerais. O Estado tem 853 municípios e avalio que o pleito de 2024 traz propostas genéricas que tangenciam questões como o combate à fome, algumas medidas de enfrentamento das desigualdades sociais, além de abordagens superficiais sobre o meio ambiente e outros assuntos. Infelizmente, no que diz respeito aos ODS, não há um debate ou plano de governo sólido para estas eleições municipais em Minas Gerais.
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Por que isso acontece em pleno século XXI?
Essa é uma realidade generalizada no Brasil, com apenas alguns políticos ou partidos específicos tratando a Agenda 2030 de maneira efetiva. Percebo que as questões relacionadas aos ODS, muitas vezes, são apresentadas apenas como uma plataforma de propaganda e não de execução. A sociedade contemporânea é muito individualista, e os ODS são pautas que visam o bem comum. O eleitor, muitas vezes, busca resultados imediatos e benefícios próprios. Comprometer-se com os ODS não tem sido do interesse da maioria dos candidatos, que prefere pautas com resultados eleitoreiros mais rápidos e práticos. É muito lamentável que isso ocorra.
Qual é o impacto disso para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental nas cidades mineiras?
O Brasil está entre os países com menos metas dos ODS implementadas no mundo. O último governo federal não tinha comprometimento com essas causas e, hoje, há um grupo refratário às temáticas sociais e ambientais, que demandam ações urgentes. Isso demonstra claramente a necessidade de políticas públicas de proteção ambiental e de reparação, além de ações que previnam o agravamento de problemas ambientais e sociais, o que afeta, sobretudo, os grupos mais vulneráveis. Minas Gerais reflete essa realidade. Aderir à Agenda 2030 exige que vereadores e prefeitos se posicionem diante do poder econômico clássico e articulem de maneira diferente com grandes segmentos. Isso demanda intenção política e essas não parecem ser plataformas atraentes para a maioria dos nossos candidatos. Esse cenário de desconhecimento e desinteresse político faz com que seus mandatos não estejam comprometidos com políticas para a Nova Economia, redução das desigualdades sociais, defesa do meio ambiente e outros temas prioritários para a construção de cidades potentes e diversas.
Qual a orientação para o voto consciente no pleito de 2024 em Minas Gerais?
Ainda há tempo para o eleitor cobrar de seus candidatos maior envolvimento com os temas da Agenda 2030, de modo que elejamos representantes capazes de construir cidades mais resilientes, sustentáveis, acolhedoras e que compreendam a diversidade das pessoas. Para isso, é essencial obter informações seguras sobre os candidatos e seus planos de governo, avaliando se o que propõem é viável em termos de políticas públicas que atendam às múltiplas demandas da sociedade, visando à melhoria da qualidade de vida de todos nós. Dois movimentos são primordiais neste momento de escolha dos futuros vereadores e prefeitos: o primeiro, dos candidatos, para que compreendam e se comprometam com a construção de cidades inclusivas para todos; o segundo, dos eleitores, para que cobrem de seus candidatos a inclusão de plataformas voltadas ao desenvolvimento sustentável e acompanhem sua implementação, caso seus representantes sejam eleitos.
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