Consumidores têm mostrado sua força para escolher marcas com práticas de consumo consciente

Nos últimos anos, o consumo sustentável deixou de ser apenas uma tendência para se tornar uma demanda real dos consumidores. Segundo pesquisas recentes, cada vez mais brasileiros estão atentos ao impacto ambiental e social dos produtos que compram, exigindo transparência e responsabilidade das marcas. No entanto, apesar desse avanço, ainda há desafios, como a prática do greenwashing, em que empresas utilizam estratégias de marketing para parecerem sustentáveis sem, de fato, adotar práticas responsáveis.
Para entender melhor esse cenário, discutiremos o papel das empresas, do consumidor e da legislação na construção de um mercado mais ético e sustentável na entrevista com Julia Catão Dias, coordenadora do programa de Consumo Sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
- O consumidor tem preferido marcas que sinalizam as práticas de consumo consciente?
A pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mapeou o comportamento do consumidor em 2023 em relação a 2022. O número de brasileiros que se preocupam com hábitos sustentáveis sempre ou na maioria das vezes aumentou de 74% para 81%. De acordo com outro estudo sobre percepção de consumidores em relação à cadeia da carne, mais de 70% dos consumidores preferem ter informações sobre a rastreabilidade da carne nas embalagens e 91% disseram que boicotariam marcas envolvidas em questões ambientais, por exemplo. Isso mostra que o brasileiro preferido produtos que preservam as pessoas e o meio ambiente. Os consumidores têm mostrado sua força e exigindo, em muitos casos, que as empresas façam a sua parte. - E as empresas têm sido responsáveis de fato?
É o que se espera com as campanhas de informação em relação aos direitos do consumidor também em relação ao consumo sustentável. Porém, o que a gente observa é uma parcela considerável dos grandes negócios praticando o greenwashing, estratégia de marketing enganosa que visa dar a impressão de que uma empresa é amiga do meio ambiente quando ela apenas cumpre a lei ou nem isso. A gente tem uma pesquisa de 2019 que analisou mais de 500 rótulos e a metade desses rótulos tinham alegações abusivas ou enganosa. Ainda é comum encontrarmos no mercado produtos com símbolo de reciclável em embalagens que não podem passar por esse processo por causa de sua cor. Outra prática comum é o selo livre de clorofluorcarbono (CFC), proibido em vários países, incluindo o Brasil, por ser um gás que destrói a camada de ozônio. Outro selo mau utilizado é o livre BPA, em produtos para crianças. O BPA é um composto químico utilizado na fabricação de plásticos resistentes, comuns em embalagens e recipientes de alimentos e bebidas e proibido desde 2011 para lactentes e crianças de primeira infância. Esses apelos com falsas ações de são uma espécie de grilagem que causa danos a todos, inclusive aos empresários os praticam. - Como os empresários podem se comprometer mais com o consumo sustentável?
A gente vive numa sociedade que o valor máximo é o financeiro e precisamos urgentemente mudar esse paradigma pelo bem de todos. Os empresários precisam fazer seu papel em relação ao consumidor no sentido de fornecer informações certas, não mentir ou omitir sobre como produzem, distribuem e vendem os produtos. Já em relação ao meio ambiente, é primordial que haja investimentos em uma cadeia produtiva que preserve o meio ambiente. - E legislação atual ajuda?
Temos boas leis como o Código de Defesa do Consumidor que garante melhoria do direito à informação e tem uma série de critérios que mostram que as empresas têm que mostrar a procedência. A Lei nº 9.605/98 obriga organizações e empresas que utilizam propaganda sobre sustentabilidade ambiental de seus produtos ou serviços a explicarem-na a partir dos rótulos dos produtos e do material de publicidade e estabelece as sanções à prática da maquiagem verde. O que falta ainda é a regulamentação de algumas leis e a fiscalização para que se tornem mais efetivas. - Qual é o papel do consumidor?
Acredito que ele tenha duas dimensões: a dimensão individual que é da pessoa física que se informa e busca seus direitos e a dimensão coletiva que é favorecida pela força da união de um grupo em relação a uma ou mais práticas.
É fundamental que o consumidor tenha consciência dos seus direitos também acerca da sustentabilidade. Para isso, ações de enfrentamento da mentira são relevantes e isso se conquista com campanhas educativas como as que o IDEC promove. Temos o Guia de Enfrentamento ao GreenWhashing para mostrar como agir nesses casos. Produzimos o e-book Proteção e Sustentabilidade com 30 dicas sobre como fazer escolhas mais confiáveis, saudáveis e ecológicas nas suas compras do dia a dia. Para informar e esclarecer sobre os direitos do consumidor em situações que costumam gerar dúvidas.
Há, ainda, o Mapa de Feiras Orgânicas com endereços e oportunidade de cadastro em todo país já que incentivamos fortemente os negócios de pequeno porte.
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A gente sabe também que as campanhas de consumo no Brasil são muito desiguais, então, dependendo da sua classe e raça você não acessa certas informações ou tem possibilidade de muitas escolhas. Mas, quando possível, a gente defende que as pessoas se organizem em grupos como o Idec e exerçam seus direitos: Acesse o site do Idec.
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