Desafios que moldam o Brasil do futuro ganham foco na COP30
Em um momento em que o mundo volta seus olhos ao Brasil por conta dos debates da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que está sendo realizada entre 10 e 21 de novembro, em Belém (PA), o País se vê diante de um espelho histórico – especialmente neste 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. A reflexão é inevitável: os desafios da República brasileira são os mesmos que movem a Agenda 2030 e os 18 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil.
De diferentes maneiras, academia, empresas e organizações sociais mineiras demonstram que a efetivação dos ODS é também a consolidação dos princípios republicanos. Justiça, igualdade, desenvolvimento e sustentabilidade não são agendas distintas – são a mesma promessa histórica, atualizada pelos desafios do século XXI. É o que defende o professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Teo Armínio Teodósio. Para ele, os ODS oferecem uma oportunidade de repensar o significado da República e de construir um novo pacto de desenvolvimento econômico, social e ambiental.
“Nossa nação vive muitos desafios construídos historicamente, que não nos constituem ainda como uma república plena. O crescimento econômico é insuficiente porque a Justiça, a equidade, a cidadania plena e a sustentabilidade ambiental ainda precisam avançar muito”, analisa.
Ainda segundo o pesquisador, erradicar a pobreza e a fome, garantir educação de qualidade, igualdade de gênero, trabalho decente e cidades sustentáveis são caminhos que impulsionam a economia e fortalecem a cidadania.
“Erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, educação de qualidade ou igualdade de gênero – todos oferecem desafios essenciais para a República e são ODS com metas concretas. Pensar e agir para superá-los é o caminho para uma nação próspera, condição básica para que o Brasil possa se considerar, de fato, uma república plena e economicamente desenvolvida”, afirma Teodósio.
MG: arena local do desafio nacional
Teodósio contextualiza, ainda, que Minas Gerais sintetiza os contrastes e desafios brasileiros. Para o especialista, aplicar os ODS à realidade mineira exige articulação entre poder público, sociedade civil e setor privado. E reforça que há experiências no Estado que comprovam o sucesso da atuação intersetorial.
Um exemplo dessa convergência é o Projeto Manuelzão, criado em 1997 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que se tornou referência nacional. Mais do que um programa ambiental, o Manuelzão expressa o espírito republicano do bem comum ao unir universidade, poder público e comunidades locais em torno do direito coletivo à água limpa.
Do setor privado ao social: compromisso ético com a nação
No setor privado, empresas também têm ressignificado a responsabilidade social e ambiental como parte de um compromisso republicano. A Localiza&Co, com sede em Belo Horizonte, realiza avaliações constantes de suas operações e identificou que suas iniciativas em sustentabilidade poderiam contribuir para 13 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Atualmente, com mais de 600 mil carros na frota, o ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima) se tornou prioridade da companhia, que realiza inventário de gases de efeito estufa (GEE), possui iniciativas para redução das emissões próprias e de clientes e integrou a gestão de riscos climáticos à matriz de riscos corporativos.
Além de compensar, desde 2019, suas emissões diretas remanescentes por meio da aquisição de créditos de carbono de alta integridade e impacto socioambiental positivo, a empresa possui uma iniciativa chamada Neutraliza – um programa inovador no setor de aluguel de carros no Brasil, criado em 2022 para oferecer aos clientes a possibilidade de compensar as emissões de carbono geradas durante suas locações.
Desde sua implementação, o programa já compensou cerca de 350 mil toneladas de CO₂ e observou crescimento expressivo na adesão de clientes, com aumento de 335% na quantidade de quilômetros rodados com o Neutraliza entre 2022 e 2024. Desde o início do programa, o Neutraliza compensou 346 mil toneladas de CO₂.
“A Localiza&Co acredita em um futuro com múltiplas soluções, apostando fortemente na utilização do etanol – biocombustível que pode reduzir as emissões de CO₂ em até 90% em comparação com combustíveis fósseis – e segue aprimorando suas iniciativas, reafirmando seu compromisso com práticas sustentáveis e com a transparência na comunicação com seus clientes e demais stakeholders”, afirma o gerente de Sustentabilidade da Localiza&Co, Fernando Vilela.
O Terceiro Setor também tem papel transformador e de impacto econômico, destaca Teodósio. Uma iniciativa que mostra como a cultura de doação e o trabalho por meio de parcerias se torna primordial para o crescimento econômico sustentável é a Nova Atmosphera, Organização da Sociedade Civil (OSC) que acaba de completar 90 anos de atuação em Belo Horizonte.
Seus mais de 250 atendimentos por dia já impactaram centenas de milhares de crianças, adolescentes e seus familiares em nove décadas de entrega social que traduzem, na prática, os ideais da Agenda 2030. O reconhecimento vem dos assistidos e será concretizado em homenagem a ser realizada em novembro, pela Câmara Municipal, por sua contribuição histórica à educação e ao desenvolvimento humano.
Com expansão prevista em projetos de esporte e cultura, incluindo crianças de 4 e 5 anos a partir de 2026, a Nova Atmosphera acredita no investimento em uma infância saudável, em consonância com os ODS e com a proposta da República brasileira.
“Os ODS representam, para nós, mais do que metas globais: são compromissos éticos com a nação. Quando garantimos alimentação, educação e oportunidades iguais para nossas crianças e adolescentes, estamos entregando aquilo que a República sempre prometeu – justiça, equidade e cidadania plena”, defende o presidente da instituição, Maurício Brandi Aleixo.
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