Movimento Minas 2032

Dimensão continental do Brasil favorece desinformação social e política

Socióloga, antropóloga e integrante do GT Agenda 2030, Ana Nery analisa o quadro brasileiro no que diz respeito às políticas de sustentabilidade
Dimensão continental do Brasil favorece desinformação social e política
Crédito: Arquivo Pessoal / Ana Nery

A Agenda 2030 representa um compromisso global para alcançar o desenvolvimento sustentável até 2030. Os ODS propostos devem ser adaptados às realidades locais para que o cumprimento das metas seja efetivo.

Uma gestão e uma legislação municipais favoráveis e comprometidas com essas pautas são fundamentais para a redução das desigualdades.

Porém, incluir os ODS na vida dos eleitores e nos planos de governo da maioria dos candidatos ainda é um desafio, alerta, Ana Nery, socióloga, antropóloga e integrante do GT Agenda 2030, a primeira especialista convidada para falar sobre o assunto.

1) Os eleitores conhecem a Agenda 2030?

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Existe desconhecimento. Quando falamos de pessoas eleitoras, precisamos pensar também onde estão essas pessoas, quais seus níveis de escolaridade, de profissionalização, de acesso a direitos básicos e fundamentais e onde estão e a localização geográfica. Precisamos também compreender quais marcadores sociais da diferença compõem sua construção identitária e, assim, compreender qual seu letramento sobre política, sobre cidadania e sobre a Agenda 2030, olhando para o acesso que essas pessoas têm para acessar tais informações. Temos um País com grande dimensão geográfica e, muitas vezes, o acesso a informações é limitado ou negado. Porém, conhecer sobre a Agenda 2030 é reconhecer nossos direitos e saber que nossas escolhas diárias afetam o mundo, influenciam, elaboram e implementam políticas públicas. Por isso, é de suma importância que a gente melhore as condições de vida para todos e haja mais justiça social, que sejam criadas formas de garantir acesso à informação de qualidade e proporcionar espaços de diálogo que contemplem todas as pessoas. Isto está no cerne do que a Agenda 2030 considera para que tenhamos um mundo mais igualitário.

2) Os candidatos conhecem e contemplam a Agenda 2030 em seus planos de governo?

Menos que deveriam. Na agenda política brasileira, muito por conta da grande dimensão do País e dos complexos processos de alinhamento eleitoral para campanhas, das negociações e alianças que são feitas entre partidos políticos, não se pode falar de um letramento político adequado da Agenda 2030 no que se refere à elaboração de políticas de governos ou políticas públicas. Observando com uma lente mais aguçada sua inclusão nos planos de governo a partir dos ODS, isso se torna mais difícil de mensurar exatamente. Embora existam alguns pactos e acordos firmados a partir da intermediação de organizações do Terceiro Setor para pressionar e garantir que as cidades tenham aderência e assumam os compromissos, não temos garantias de que todos os governos municipais estejam alinhados com esse propósito. Precisamos fortalecer as iniciativas já existentes. Gestores devem aderir e a população, fiscalizar e acompanhar os que estão com esse desígnio em suas agendas políticas. De toda forma, é de suma importância que os ODS e suas metas sejam considerados em esfera municipal porque elas buscam garantir acesso aos direitos humanos a todas as pessoas, numa perspectiva integrada e interseccional, promovendo o equilíbrio nas três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Pensar que essas dimensões são fundamentais para atacarmos os principais problemas enfrentados pelas cidades no Brasil, que é um País de extrema potência, mas com muitos desafios pela grande desigualdade social que enfrenta.

3) Como minimizar a desinformação política e social sobre a Agenda 2030?

Os 17 ODS e suas 169 metas buscam garantir acesso aos direitos humanos a todas as pessoas. Eles devem estar na vida de todos e ser prioridade da nação porque são fundamentais para atacarmos os principais problemas enfrentados pelas cidades no Brasil, que é um País de extrema potência, mas com muitos desafios pela grande desigualdade social que enfrenta. Temos enfrentado nos últimos anos, cada vez mais, questões ligadas às crises climáticas e isso intensifica essa desigualdade, sobretudo quando falamos de grupos vulnerabilizados. O jornalismo propositivo como feito pelo Diário do Comércio, movimentos sociais e organizações do Terceiro Setor, com a Agenda 2030 e a Plan International Brasil, ajudam a informar e reforçar a luta por um mundo com mais igualdade. O Relatório Luz é um arcabouço de informações sobre o assunto e de livre acesso no link. E a mobilização social e a inquietude devem nos guiar para que ninguém seja deixado para trás.

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