Empreendedorismo sustentável: lucro e propósito também nas MPEs
Para os micro e pequenos empresários, o termo “empreendedorismo sustentável”, muitas vezes, pode parecer assustador por envolver dimensões – social, ambiental e governança– que, teoricamente, não têm relação direta com o negócio. Ser um negócio sustentável, porém, é uma questão de porte ou volume de investimento, mas sim, ser uma empresa que integra em suas operações e estratégias a responsabilidade ambiental, social e econômica. Isso significa que, além de buscar o lucro, a empresa também se preocupa em minimizar seu impacto negativo no meio ambiente e promover o bem-estar de pessoas e comunidades.
São pilares de um negócio sustentável
- Ambiental: Adota práticas para reduzir o impacto ecológico, como diminuir o consumo de recursos naturais, usar materiais reciclados ou de fontes sustentáveis, e gerenciar resíduos de forma eficiente.
- Social: Foca no bem-estar dos colaboradores, da comunidade local e de todos os envolvidos com o negócio. Isso inclui garantir condições de trabalho justas, promover diversidade e inclusão, e apoiar projetos na comunidade.
- Econômico: Busca ser lucrativo a longo prazo, garantindo sua viabilidade financeira. Muitas vezes, práticas sustentáveis levam a uma maior eficiência e redução de custos, como a economia de energia e a diminuição de desperdícios.
De acordo com o analista do Sebrae Minas, Agmar Abdon, a falta de letramento é um dos entraves para que os pequenos negócios sejam e se entendam sustentáveis.
“Muitas vezes os pequenos negócios já fazem muita coisa pela sustentabilidade mas não sabem disso. Cada vez que eles melhoram o produto ou o processo – quando trocam uma lâmpada, aderem à energia solar ou tratam os resíduos, por exemplo – na expectativa de reduzir os custos, já são passos importantes rumo ao empreendedorismo sustentável. Mas eles não conectam isso a uma ação sustentável. E quando adquirem consciência, podem fazer ainda mais. A sustentabilidade está ligada ao negócio. Temos que mostrar que a sustentabilidade ajuda a melhorar a eficiência do negócio. Esse deve ser o discurso, uma linguagem complicada não atrai”, explica Abdon.
Para ser um negócio sustentável existem alguns passos:
- Avalie seu impacto: Mapeie e analise os impactos ambientais e sociais de todas as etapas do seu ciclo de produção, desde a matéria-prima até a eliminação do produto.
- Melhore a eficiência: Invista em tecnologias e processos que reduzam o consumo de energia e água e diminuam o desperdício.
- Adote materiais sustentáveis: Dê preferência a materiais reciclados, recicláveis, biodegradáveis ou de fontes renováveis.
- Invista nas pessoas: Promova um ambiente de trabalho justo, com oportunidades de desenvolvimento e equidade para todos os funcionários.
- Engaje a comunidade: Estabeleça parcerias e apoie projetos que beneficiem a comunidade local onde a empresa está inserida.
No que diz respeito à consciência ambiental, as pequenas empresas brasileiras dão exemplo. De acordo com o Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024) – considerada a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo – há três anos o País lidera o ranking na categoria dos empreendedores iniciais (à frente de negócios com até 3,5 anos). Em 2024, 90,2% das empresas tomaram providências para minimizar o impacto ambiental do seu negócio. A economia de energia e a destinação adequada do resíduo sólido foram as medidas mais adotadas, seguidas pelo uso de material reciclável. A lista é composta por 120 países.
Os brasileiros também garantiram a terceira colocação global por priorizarem o impacto ambiental e social do negócio acima da lucratividade ou crescimento: o resultado de 86,2% foi o melhor desde 2021, ficando atrás apenas da Índia e da Guatemala.
Principais dados da pesquisa sobre impacto ambiental:
- O Brasil é o 1º do ranking dos empreendedores iniciais que, no último ano, tomaram alguma providência para minimizar o impacto ambiental (90,2%).
- Entre as ações adotadas, o item mais citado pelos empreendedores iniciais foi “economizar energia” (86,5%). Já os donos de negócios estabelecidos indicaram “cuidar dos resíduos sólidos gerados” (81,1%).
- O País ocupa a 3ª colocação dos empreendedores iniciais que “ao tomar decisões sobre o futuro do negócio, consideram os aspectos ambientais” (91,1%). Entre os empreendedores estabelecidos, fica em 4º lugar (89,5%).
- Também fica em 3º no ranking dos empreendedores iniciais e estabelecidos que priorizam o impacto ambiental e/ou social acima da lucratividade ou do crescimento (86,2% e 83,4%, respectivamente).
“As pequenas empresas que fazem parte de uma cadeia produtiva consolidada, como fornecedoras de grandes empresas, já têm esse acesso a esse tema da sustentabilidade porque as grandes para serem sustentáveis precisam de parceiros que também sejam. Para elas, temos ferramentas que aceleram a adaptação. No Sebrae Play temos uma linguagem mais prática e que mostra exemplos. Temos sistemas de gestão ESG e variáveis dentro de cada um. O ESG surgiu para as empresas se enxergarem e contribuírem para a sustentabilidade. É uma linguagem de negócios, mensurável e com indicadores, eu consigo fazer gestão, gerando valor para a empresa”, avalia.
Para o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva, os pequenos negócios podem exercer o papel de evangelizadores da sustentabilidade em Minas. Segundo ele, o Sebrae está presente em todos os 853 municípios do Estado e, por isso, tem uma visão muito clara de como o empreendedor mineiro pode ser um verdadeiro agente de transformação.

“Sem dúvida, os pequenos negócios têm um papel essencial como multiplicadores da sustentabilidade em Minas Gerais. Muitos pequenos negócios já praticam a sustentabilidade no seu dia a dia, ainda que, às vezes, sem usar esse nome. São empreendedores que reaproveitam materiais, economizam água e energia, priorizam fornecedores locais e mantêm relações justas com suas equipes e comunidades. Esse conjunto de atitudes, quando somado e replicado, tem um impacto enorme no território”, pontua Silva.
Desde 2021, o Sebrae Minas é signatário do Pacto Global da ONU e integrante da Rede Desafio 2030, reforçando o compromisso da Instituição com a Agenda 2030 e com o desenvolvimento sustentável. Critérios ESG foram incorporados nos próprios projetos do Sebrae que passou a incentivar os empreendedores a fazerem o mesmo — seja por meio de capacitações, consultorias tecnológicas ou do nosso portal Sebrae Play, que reúne conteúdos e ferramentas práticas sobre o tema.
“Acreditamos que, quando um pequeno negócio adota uma boa prática sustentável, ele inspira outros a fazerem o mesmo. É o exemplo que convence, e não o discurso. Por isso, sim: os pequenos negócios mineiros têm tudo para ser os grandes evangelizadores da sustentabilidade em Minas. E o Sebrae está junto deles nessa caminhada, ajudando a transformar propósito em resultado, e resultado em impacto positivo para todo o Estado”, afirma o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.
A sustentabilidade é um ativo para as empresas não só ao tornar processos mais eficientes ou produtos e serviços melhores, mas também por melhorar o relacionamento com os consumidores. O empreendedorismo sustentável gera boa reputação junto ao mercado financeiro e consumidor.
De acordo com uma pesquisa da OLX, feita em parceria com a MindMiners, em 2024, seis entre dez consumidores brasileiros se dizem bem informados sobre sustentabilidade. Os números apontam ainda que 88% dos entrevistados preferem marcas sustentáveis para consumir e que 49% já deixaram de comprar um item de alguma marca por considerar que ela não apoia a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente o suficiente.
“A empresa pode melhorar a imagem, trabalhar legados com os clientes que já estão mais antenados com isso. Cooperativas e bancos já têm linhas de crédito específicas para o empreendedorismo sustentável. O Brasil deve aproveitar a COP-30 que estamos preparados. Esse é um mercado que vai crescer cada vez mais e temos muitas oportunidades. Precisamos alinhar a sustentabilidade nos pequenos negócios com o plano de desenvolvimento do País, dando intencionalidade às ações”, destaca o analista do Sebrae Minas.
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