Equidade racial e de gênero são cada vez mais urgentes

No dia 25 de fevereiro, o governo de Minas passou o comando da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) para Mila Corrêa da Costa, consultora de carreira da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e que ocupava a secretaria-adjunta de Governo.
Mila é a segunda mulher a comandar a pasta em toda a história da Sede. A gestora foi também subsecretária de Gestão de Imóveis na referida secretaria e diretora-geral da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. É com ela a entrevista especial da página do Movimento Minas 2032 pelo Dia Internacional da Mulher.
Ela falou sobre carreira, liderança feminina, desafios de gênero na carreira e política para equidade de oportunidades.
A sua trajetória política e de ativismo e liderança feminina é uma grande inspiração. Conte um pouco da sua jornada de liderança em Minas Gerais. Quais foram suas oportunidades e inspirações?
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Eu sou de Divinópolis, cidade onde reside minha família. Eu me mudei há 25 anos para Belo Horizonte para fazer faculdade, e aqui permaneci, aqui criei laços de afeto e de compromisso com a nossa Capital e com o nosso Estado. Meu desejo era ser diplomata, porque a diplomacia é arte, ciência e prática cotidiana de construção de relações humanas e num cenário institucional complexo. Para isso, eu me graduei em Relações Internacionais, mas, no meio do caminho, em razão do contato com a área, eu me voltei para a carreira jurídica, fiz graduação, mestrado e doutorado em Direito na UFMG, onde tive muito tutores e tutoras importantes. Além do investimento na carreira acadêmica, porque minha família é constituída por mulheres professoras e todas elas são minha referência de profissionalismo. Com seriedade e afeto, eu me tornei advogada, com atuação voltada para o Direito Administrativo, Urbanístico e Imobiliário. Sou também professora e, embora esteja mais afastada da produção acadêmica atualmente, ensino, pesquisa e extensão sempre foram meu tripé de atuação profissional e a publicação de trabalhos científicos é uma frente importante na minha caminhada.
Você assume uma pasta predominantemente comandada por homens. Como encara isso?
Estou em meu 7º cargo público e minha passagem por todas essas missões – porque serviço público é missão – tem sido uma oportunidade de aprendizado. E não é apenas a Sede que tradicionalmente é ocupada por homens. Sou, realmente, a 2ª mulher a assumir a titularidade da secretaria, antes, apenas, a secretária Dorothea Werneck; na Agência RMBH, fui também a 2ª mulher, anteriormente, somente Flávia Mourão. Fui a primeira mulher a exercer o cargo de secretária-adjunta de Governo. Marília Melo é a primeira mulher a assumir a Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Luisa Barreto é a primeira mulher a presidir a Codemge e foi também a primeira a presidir a Emater. Temos a coronel Jordana, primeira na história do Corpo de Bombeiros a se tornar comandante-geral e, assim, são inúmeros exemplos de mulheres que têm rompido a tradição de lideranças que antes eram restritas ao universo masculino.
Como a representatividade de mulheres em cargos de poder e na política impacta a formulação e a implementação de políticas públicas no Estado e Brasil?
Na ALMG, na atual legislatura, temos a maior bancada feminina da história, com 15 deputadas no escopo de 77 parlamentares. Em Minas, o aumento de lideranças femininas no processo de elaboração das normas, definidoras do desenho das políticas públicas, e, igualmente, em cargos estratégicos de tomada de decisão no Poder Executivo mineiro, posições responsáveis pela implementação e pela execução dessas políticas, torna nosso Estado mais includente e mais permeável a novos olhares e a novas dimensões da realidade.
A sua experiência é muito variada, com passagem pelos Três Poderes. Conte-nos sobre a experiência.
No governo de Minas, atuei na Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais como coordenadora do Núcleo de Apoio às Relações com os Poderes do Estado e Órgãos Essenciais à Justiça, como assessora do gabinete da pasta e como membro do Conselho de Política Cultural do Estado – Consec. Nesse último ciclo de gestão, assumi a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, fui secretária-adjunta da Secretaria de Governo, subsecretária de Gestão de Imóveis da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e diretora-geral da Agência de Desenvolvimento da RMB. Na Assembleia, sou consultora legislativa, uma carreira muito especial do Poder Legislativo em razão das oportunidades de aprendizado que a nossa rotina proporciona junto às comissões e às proposições que tramitam na Casa. Estou licenciada desde 2019, cedida para o Poder Executivo. E me sinto privilegiada por ter a oportunidade de trabalhar por Minas no âmbito desses dois poderes tão estruturantes da história do Estado. Tive uma passagem pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público Estadual, durante minha formação acadêmica, e a atuação concertada dos Poderes em Minas tem sido uma baliza importante para o cenário político nacional, como sempre foi a marca do nosso Estado, registrada, inclusive, no Manifesto dos Mineiros de 1943.
Como avançar na equidade de gênero?
Há muito o que avançar no tratamento da desigualdade de gênero, no combate à pobreza e ao preconceito; na maior oportunidade de termos espaços para mulheres, em especial, mulheres negras. É necessário um olhar mais ampliado para concretização da implementação dos ODS no Brasil, nomeadamente, na esfera da promoção da equidade racial e de gênero. Mas é muito gratificante perceber os espaços que vêm sendo ocupados pelas mulheres e poder mensurar as mudanças que decorrem desse esforço de acesso a funções estratégicas para o desenvolvimento de Minas.
Qual o papel da força feminina mineira no desenvolvimento de Minas Gerais?
A mulher mineira tem papel central no desenvolvimento do Estado e do País. E meu desejo é que as lideranças e as posições definidoras do futuro de Minas Gerais possam ser exercidas a cada dia mais por mulheres que tenham, nas palavras do mineiro Milton Nascimento, força, raça e gana, sempre.
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