Movimento Minas 2032

Lideranças ampliam diálogo com setores de alto impacto

Iniciativas lideradas por mulheres em Minas Gerais ampliam diálogo com mineradoras em busca de tentativas reais de transformação
Lideranças ampliam diálogo com setores de alto impacto
Foto: Reprodução Adobe Stock

Muito mais do que conduzir empresas e profissionais para caminhos ecoconscientes, a liderança em prol da sustentabilidade também convive com dilemas éticos e morais, especialmente ao lidar com setores de alto impacto, como a mineração. Apesar de haver conflitos, lideranças mineiras fazem a diferença ao ampliar o diálogo em busca de soluções conjuntas para a construção de um futuro mais responsável, alinhado às premissas do ESG (Ambiental, Social e Governança).

Apenas em 2024, as mineradoras em Minas Gerais faturaram R$ 108,3 bilhões, correspondendo por 40% do faturamento nacional, e empregaram diretamente cerca de 223 mil pessoas no País, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A partir desse cenário, a aproximação com empresas de atuações consideradas ambientalmente controversas, parte da perspectiva da importância de conciliar a relevância do setor para o desenvolvimento econômico com responsabilidades socioambientais.

Após atuar durante anos em empresas mineradoras, a idealizadora e diretora da Bridge Gestão Social, Liliane Lana, decidiu imergir em serviços voltados para comunicação e desenvolvimento social. O setor que trabalhou por anos voltaria a procurar a profissional após o rompimento da barragem de Fundão, que ocorreu em 2015 na cidade de Mariana – tragédia que intensificou preocupações de mineradoras quanto à responsabilidade socioambiental.

Com o fortalecimento de comunidades locais em oposição aos serviços prestados nas cidades mineradoras, a diretora conta que executivos começaram a entender que precisariam responder a isso em outro nível de profundidade. “As comunidades ficaram muito mais conscientes quanto aos respectivos papéis e direitos. A partir de então, houve uma ruptura da postura passiva dos grupos diante do poder das organizações”, explica.

A partir de 2021, embalada pela conscientização observada na perspectiva da sustentabilidade, a profissional optou por ocupar o lugar do “S” do ESG, adotando a comunicação social coerente com a proposta do olhar de “ponte”: entendendo a perspectiva das lideranças, da comunidade e do negócio, o que até hoje tem favorecido a construção de diálogos bem-sucedidos. “Quando não contemplamos as necessidades da sociedade, a iniciativa tende a não ser positiva para as empresas”, destaca.

Atualmente, maior desafio citado é a atuação na construção de sentido para diferentes públicos em um mercado que ainda aprende a colocar em prática os conceitos ambientais, sociais e de governança. Na comunicação com acionistas, por exemplo, Liliane Lana destaca que o caminho é ainda mais longo, já que o grupo necessita primeiro entender o resultado gerado no negócio para que se sintam dispostos a investir.

Liliane Lana
Liliane Lana: trabalho de engajamento baseado na escuta | Foto: Divulgação Brigde Gestão Social

Internamente, o cenário também exige atenção, tendo em vista que a formação tradicional ainda não prepara os profissionais para esse novo modelo de atuação. “Nosso desafio com os colaboradores dessas empresas é quebrar resistências e paradigmas. É preciso romper blindagens para que esse olhar também faça sentido no nosso trabalho”, explica.

Já nas comunidades impactadas por setores controversos, o obstáculo passa pela construção de confiança. Em muitos casos, a empreendedora relata que a desconfiança nas instituições, como prefeituras, secretarias, Ministério Público e organizações, é alta – reflexo de um longo histórico de desgaste. “Nesses territórios, o trabalho de engajamento precisa ser baseado na escuta, na presença contínua e, principalmente, na construção de vínculos verdadeiros com a população local”, argumenta.

A partir dessa necessidade, a empresa atua no desenvolvimento diagnósticos sociais, relatórios e recomendações, pautados nas ODS ligadas ao desenvolvimento local, oportunidades de trabalho e renda, preservação ambiental, construção de residência nas cidades, dentre outros. “Percebemos que as empresas olham cada vez mais para os riscos sociais dos projetos. A partir do momento que sensibilizam quando reconhecem o risco, nós construímos essa conexão”, acrescenta.

Como liderança à frente dos projetos, Liliane Lana deseja que o trabalho realizado em prol de empresas e sociedades mais responsáveis inspire outros profissionais a agirem em busca de um futuro melhor para as próximas gerações. “Vejo que muitas empresas estão falhando em tomar decisões que preservem futuro do planeta. O minério não é renovável, os recursos são finitos e se usamos se forma desmedida, haverá escassez”, destaca.

Além de lideranças ativas frente ao diálogo com mineradoras, a gestora reforça a necessidade de cobranças por novos olhares e investimentos que minimizem impactos. Dentre as alternativas mais viáveis, estão a implantação de novas tecnologias para minimizar os impactos, como a reciclagem e o reaproveitamento de materiais nos processos produtivos.

“É preciso que lideranças invistam em práticas melhores, ambiental e socialmente, que podem reduzir margem, mas vão sustentar negócios que queiram estar apoiados às premissas ESG”, reforça.

À frente do MM2032, Adriana Muls reforça urgência de debates rumo à nova economia

Desde 2017, a presidente e diretora editorial do Diário do Comércio, Adriana Muls, também passou a se dedicar à ampliação do diálogo com setores de alto impacto. Naquele ano, foi idealizado o Movimento Minas 2032, que nasce a partir da urgência de uma articulação entre os diversos setores da sociedade, com foco no futuro e tendo como premissa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“O Movimento Minas 2032 parte, antes de tudo, de uma proposta de diálogo. Ele se propõe a dialogar e segue fazendo esse convite, especialmente às mineradoras, chamando-as para essa conversa em busca de mudanças e tentativas reais de transformação”, destaca Adriana Muls.

A partir dessa premissa, o projeto em ESG capitaneado pelo Diário do Comércio, em parceria com o Instituto Orior, propõe encontros com membros e lideranças em prol do bem comum. A articulação entre diferentes segmentos é vista como fundamental, integrando setores como indústria, comércio, agronegócio e mineração que buscam por avanços para se manterem competitivos.

Hoje, o Movimento Minas 2032 segue consolidado como um dos mais importantes e plurais indutores de conscientização do Estado. No entanto, o caminho rumo aos objetivos desejáveis continua desafiador e requer uma mobilização ainda mais comprometida por parte das empresas.

Passados dez anos desde que os ODS foram instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), e com apenas cinco anos até o prazo estabelecido, apenas 7% das 169 metas estão em situação satisfatória. “Isso mostra o quanto ainda temos a percorrer. É possível que os objetivos sejam revistos antes mesmo do prazo final, mas independentemente disso, o caminho a ser trilhado ainda é longo”, pontua Adriana Muls.

Os resultados, ainda aquém do esperado, reforçam a necessidade de novas reflexões, especialmente para lideranças quanto ao papel exercido na contribuição para contornar esse cenário. Questionamentos como: que tipo de contribuição a empresa oferece, que cultura dissemina dentro da organização e de que forma está alinhada com essa agenda, são apontados pela executiva como essenciais para uma liderança transformadora, especialmente em setores controversos.

Além de fomentar reflexões, a proposta do Movimento Minas 2032 faz um convite à ação, à mudança de culturas enraizadas e a transparência na construção de novos modelos, principalmente em setores estratégicos – não apenas como uma resposta ao compliance ou ao marketing, mas como um compromisso genuíno com o futuro. “Esses temas precisam ser ditos, discutidos, enfrentados e essa transformação só será verdadeira se vier de dentro, se a liderança compreender realmente o seu papel”, acrescenta Adriana Muls.

Por ser uma vocação econômica histórica de Minas Gerais, a executiva reforça ainda a necessidade de entendimento da mineração como um setor importante: que gera empregos, movimenta cadeias produtivas e fornece insumos essenciais para as pessoas. Como serviço essencial, a ampliação do diálogo com o segmento a partir da agenda 2030 também considera fatores como economia, gestão e negócios e encara a sustentabilidade, não como uma proposta externa, e sim, uma condição para a longevidade dos negócios, inclusive para evitar que tragédias como as de Mariana e Brumadinho se repitam.

Nesse percurso rumo a um futuro melhor para as atuais e próximas gerações, o trabalho promovido por lideranças em ESG como Liliane Lana e Adriana Muls se encontram e constroem pontes para reflexão, compartilhamento de análises, disseminação de informações relevantes com diferentes setores da economia mineira. “Quero usar minha voz para sensibilizar outras lideranças, mulheres, gestores e profissionais a olharem para essas pautas com mais profundidade. Estamos buscando novos modelos para uma nova economia e isso é urgente, complexo e exige articulação”, conclui Adriana Muls.

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