Saúde mental deve ser compromisso das empresas

Problemas de saúde mental têm causado prejuízos emocionais e financeiros. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2024. houve cerca de meio milhão de afastamentos por doenças mentais no País, o maior número em, pelo menos, dez anos. No último ano, os transtornos mentais chegaram a uma situação incapacitante com 472.328 licenças médicas concedidas, um aumento de 68% comparado a 2023.
Atento a isso, o Diário do Comércio, primeiro veículo de comunicação mineiro a aderir ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) – Rede Brasil, firmou um compromisso público com o Movimento Mente em Foco, um dos dez movimentos relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A adesão visa priorizar o ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, com ênfase no mental, começando de dentro para fora e engajando o setor privado nesta agenda.
A iniciativa é um chamado para que empresas e organizações brasileiras ajam em benefício de seus colaboradores e da sociedade como um todo no combate ao preconceito em relação à saúde mental.
Para o coordenador do Instituto Movimento Pela Felicidade, Benedito Nunes, o Brasil vive uma crise de saúde mental com impacto direto na vida de trabalhadores e de empresas. Para ele, o quadro é reflexo da situação das condições de trabalho precarizadas, do modo de vida contemporâneo e de falta de cultura organizacional comprometida com o bem-estar físico e mental de seus colaboradores.
Nunes chama atenção para a chamada “Sociedade do Cansaço”, definida pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han pela pressão constante por produtividade e desempenho, que levam ao esgotamento físico e mental. “O filósofo argumenta em sua teoria que, em vez de uma sociedade disciplinar de controle externo como na obra de Foucault, vivemos em uma sociedade de desempenho, onde o indivíduo se torna seu próprio patrão e se autoexplora no mercado de trabalho sem perceber que isso não é liberdade ou saúde. Apenas um deslocamento daquele que vigia, que passa a ser cada um de nós mesmos”, esclarece o especialista.

Ainda segundo Nunes, a “Sociedade do Cansaço e do Desempenho” valoriza a busca incessante por resultados e, por se tratar de uma autoexigência, favorece pelo menos cinco comportamentos adoecedores: a Violência Neuronal que leva a doenças mentais como depressão e burnout; a Positividade Tóxica que impede a capacidade de dizer não, levando ao esgotamento; o Cansaço como sintoma que deixa de ser problema e passa a ser uma característica; a Perda da Alteridade, já que fica difícil reconhecer o outro como diferente e de estabelecer relações autênticas e a Fragmentação da Atenção por meio da busca incessante por novas experiências e informações fragmentadas, que não informam e impedem a capacidade de concentração e contemplação.
Cuidado com o colaborador
Na Usiminas, a saúde mental vem sendo tratada como mais uma medida de atenção à saúde do colaborador. O Programa de Saúde Mental, implantado em todas as unidades da companhia, com ações voltadas para a equipe administrativa e operacional, inclui práticas preventivas e de acolhimento.
A proposta é combater o estigma, oferecer suporte psicológico e social acessível e desenvolver a sensibilidade interna para a identificação precoce de sinais de adoecimento emocional. Entre as iniciativas, destacam-se os acolhimentos humanizados, rodas de conversa, lives, grupos de apoio, videocasts, Diálogos Diários de Segurança (DDSs) temáticos, além da presença ativa de psicólogos e assistentes sociais em diversos pontos da operação.
“O cuidado com a saúde mental não é uma ação isolada, mas um compromisso contínuo com o ser humano. Criamos um ecossistema de escuta, acolhimento, disseminação de informações referentes a esse tema e o suporte adequado, que permite que o colaborador se sinta seguro para pedir ajuda. Segurança psicológica da empresa se tornou uma busca contínua de toda equipe de saúde”, afirma a médica e gerente de Serviços Médicos da Usiminas, Patrícia Salgado.
Siderúrgica mineira desenvolve outras ações
Outras ações que têm fortalecido a política de saúde mental da empresa são o Programa Assista, que oferece até seis sessões gratuitas de apoio psicológico para empregados e dependentes legais; o Projeto Buscar, voltado para beneficiários do plano Usisaúde, que oferece seis encontros em grupo, acolhimento individual com psicólogos da equipe +Atitude e oficinas terapêuticas; e o Projeto Alcançar, que oferece suporte emocional aos pais e demais cuidados de crianças neurodivergentes, também em parceria com Usisaúde.
Um dos colaboradores beneficiados é Fabiano Westphal. Ele buscou ajuda para tratar ansiedade e o apoio da empresa tem ajudado no tratamento. “Solicitei assistência psicológica quando tive a primeira crise de ansiedade, e, desde então, a equipe do serviço médico e psicólogos da Usiminas, em parceria com o Unisaúde, tem me apoiado bastante e o acompanhamento tem sido fundamental para o meu bem-estar.”
Já o eletricista de manutenção da Sinterização Wander Paixão precisou de apoio após a internação de um familiar. “Houve total apoio e interação constante da empresa com a minha família. Recebemos amparo tanto psicológico quanto emocional, favorecendo a recuperação do paciente”, destaca.
Ações integradas
A equipe de saúde da Usiminas também realiza uma série de ações integradas, como a avaliação sistemática de colaboradores que apresentam atestados com Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) (transtornos mentais e comportamentais), alterações em check-ups ou indícios de sofrimento psíquico identificados pelo questionário SRQ 20, teste que avalia o sofrimento mental, que é realizado durante o periódico dos colaboradores.
“Sabemos que não existe produtividade sustentável sem bem-estar emocional. Por isso, a saúde mental é parte estratégica da nossa gestão de pessoas. É nosso dever criar um ambiente em que todos se sintam respeitados e possam se desenvolver”, reforça o diretor de Recursos Humanos da Usiminas, César Bueno.
Ouça a rádio de Minas