Terras-raras: oportunidade que demanda atenção
O futuro das terras-raras em Minas Gerais é promissor e demanda passos cuidadosos.
Estamos no centro de uma nova corrida geoeconômica, temos reservas relevantes de terras-raras, enquanto dominamos o mercado global de nióbio. Essa vantagem geológica pode se converter em desenvolvimento com refino local e cadeias industriais integradas para que a exportação de matéria-prima não repita padrões ultrapassados e contraproducentes de dependência.
Nos últimos anos, dados do Serviço Geológico do Brasil reforçam que o Brasil detém cerca de 23% das reservas mundiais de terras-raras – um potencial que clama por estratégia.
O nióbio, mineral no qual o País concentra a maior parte das reservas, ilustra a oportunidade: ter a matéria-prima não é o mesmo que dominar a tecnologia associada. Pensemos.
É muito bem-vinda a presença de investidores estrangeiros aportando capital em projetos no Sul de Minas, por exemplo. Porém, precisamos refletir se a maior parte do valor agregado continua fora do País – do beneficiamento fino à fabricação de ímãs e componentes.
Acredito que nós, mineiros, já temos know-how para conciliar atração de investimentos com proteção de um quinhão no que se refere à tecnologia envolvida e benefícios locais.
Entendo que os caminhos para isso passam por políticas públicas claras de incentivo, marcos regulatórios que condicionem licenças a contrapartidas industriais, transferência tecnológica e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Projetos de lei recentes e propostas de marco regulatório para terras-raras mostram que há debate e a convergência entre estados, União, pesquisadores e empresários é primordial.
Verticalizar é verbo central: do minério ao ímã, cada etapa agrega emprego qualificado e reduz vulnerabilidade externa facilitando as economias regionais.
O setor público deve assumir papel ativo, com fundos, parcerias quando necessário, além de instrumentos de controle sobre atividades estratégicas.
Isso não significa fechar portas ao investimento internacional. É regular sua participação garantindo cláusulas de conteúdo local e transferência tecnológica. Modelos mistos, ou seja, parcerias público-privadas com cláusulas robustas de conteúdo nacional, podem ser uma ponte, desde que bem desenhada.
A responsabilidade hoje é tanto ambiental quanto estratégica: garantir que a nova economia das terras-raras seja sinônimo de desenvolvimento sustentável e soberania.
Cabe ao Brasil e a Minas decidir se serão protagonistas estratégicos do salto tecnológico ou fornecedores de matéria-prima.
Leia a reportagem: Se não agregar valor, MG pode ter mais uma era extrativista
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