Lojas de atacarejo puxam o crescimento do varejo nacional

O formato de atacarejo, que mescla os modelos atacado e varejo, tem ganhado força nos últimos anos no setor varejista brasileiro. De acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), esse avanço foi consequência do recente cenário macroeconômico, com restrições ao crédito causadas pelos juros altos e elevada inadimplência.
A busca por ofertas de produtos mais baratos tem se tornado prioridade entre os consumidores. É o que revela um estudo realizado pelo instituto de pesquisa de mercado QualiBest. Em um cenário como este, os atacarejos têm se tornado a opção mais procurada por muitas pessoas, devido a oferta de uma grande quantidade de produtos a baixo custo.
Dentre os principais itens adquiridos, estão os alimentos básicos, produtos de limpeza e descartáveis. De acordo com a pesquisa, o setor ainda possui uma grande oportunidade de ampliar essa penetração em outras categorias.
A SBVC destaca que o atacarejo tem se tornado o motor do crescimento da venda de alimentos no mercado nacional nos últimos anos. O cenário segue sendo favorável às redes com foco em valor. Grande parte das redes com os maiores faturamentos por loja tem operações no modelo de atacarejo.
O presidente executivo da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Antônio Claret Nametala, destaca que o modelo de atacarejo tem ganhado muita força no setor supermercadista. “Juntamente com as lojas de vizinhança, são os formatos que mais crescem no setor varejista”, pontua.
Ele acredita que o atacarejo já está fortemente estabelecido, porém, segue se desenvolvendo e oferecendo novos serviços, assim como ocorre nos demais modelos do setor. Claret ressalta que esse segmento vem se diversificando e oferecendo mais serviços e mais seções, sem perder a sua característica de atender aos diversos portes de clientes.
Já o consultor de varejo, Wagner Donegatti, avalia que o atacarejo ainda deve manter uma tendência de crescimento nos próximos três anos. “Ainda tem fôlego pela frente, mas eu acho que dentro de dois ou três anos eles começam a estabilizar e só vai restar os bons”, analisa. Ele destaca que esse segmento tem como sua principal característica o preço mais baixo na comparação com os supermercados, além de atingir diferentes públicos.
Um levantamento realizado pela empresa especializada em inteligência de dados para o setor varejista, Scanntech, aponta para um crescimento de 7,8% no faturamento das redes regionais de atacarejo em 2023, contra 6,5% dos supermercados convencionais. O atacarejo regional ainda registrou um incremento de apenas 3,5% no quesito preço, enquanto os supermercados registraram alta de 5,2% no período.
Donegatti lembra que há alguns anos, as redes de atacado tinham como público alvo as pessoas jurídicas. No entanto, essa situação tem mudado, com algumas redes buscando contar com até 70% de clientes do varejo.
Para o especialista, o fechamento dos hipermercados pode ser apontado como um dos principais fatores que alavancaram esse crescimento do segmento de atacarejo. Ele reforça que esse movimento de mudança de modelo tende a crescer ainda mais, isso porque muitas redes regionais também estão começando a adotá-lo.

Conforme o estudo realizado pela NielsenIQ, em parceria com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), o atacarejo apresentou um aumento de 9% no número de lojas em 2023, contra uma redução de 4,5% nas unidades do formato de hipermercados.
Já o relatório divulgado recentemente pelo banco de investimentos BTG Pactual aponta para um aumento da penetração dos atacarejos entre os consumidores brasileiros de 11 pontos percentuais (p.p.) nos últimos quatro anos, passando de 62%, em 2019, para 73% atualmente. No caso dos hipermercados, foi observada uma redução na mesma magnitude, de 46% para 35% em 2023.
Donegatti aponta que quando um hipermercado migra para o atacado e atacarejo ele tende a vender, pelo menos, o dobro do que estava acostumado. Esse aumento nas vendas ocorre sem gerar uma elevação nas despesas, o que beneficia o lucro bruto da loja.
“Os atacados aumentam as vendas significativamente, baixa sua despesa, e aí, certamente, o lucro aumenta. Então essas lojas do hipermercado, no mesmo metro quadrado, irão vender muito mais por causa do preço baixo”, explica.
Ele ainda ressalta que um dos fatores que influenciaram nos resultados apresentados por estas unidades convertidas em atacarejo foi sua boa localização. “A localização deles são localizações privilegiadas, onde tem um grande público ao lado”, completa.
Para manter o número de vendas do local, muitas redes estão apostando na oferta de serviços, como açougue e padaria. Porém, o consultor de varejo alerta para os riscos que essa estratégia pode gerar para o negócio.
Apesar de melhorar as vendas, essa ação pode gerar alguns resultados negativos para as redes de atacarejo, como o aumento das perdas e a dificuldade em contratar mão de obra qualificada para os serviços. Essa aposta tem mais chances de dar certo se a unidade estiver mais próxima do centro da cidade.
“Quando a rede está muito bem localizada com uma loja dessas, está tudo bem. Mas se ela tiver a premissa de um atacado, que não é tão próximo dos grandes centros, ela é um pouco afastada, aí ela já não vai vender tão bem”, afirma.
Apesar da pujança, atacarejo tem futuro incerto no setor varejista
Donegatti também ressalta o risco de muitas empresas acabarem falindo no decorrer do tempo, já que o mercado de atacarejo exige uma renda muito elevada e baixas despesas. Saber lidar com essa demanda enquanto o número de concorrentes cresce será fundamental para sobrevivência dessas redes.
“Se você não tiver um preço baixo e competitivo o cliente não vai, ele tem que sentir a diferença. Quando a concorrência aumenta, a renda por metro quadrado diminui e aí o negócio começa a se complicar. Porque são lojas com superfícies grandes, no mínimo cinco ou seis mil metros quadrados, e para pagar aluguel sobre isso não é fácil e conseguir pontos comerciais para abrir novas lojas é muito difícil”, explica.
Ele pontua que o custo do atacarejo só se mantém baixo se as vendas continuarem boas. No entanto, se esse número for próximo ou igual ao registrado pelos hipermercados, essa vantagem na margem tende a diminuir com o passar do tempo. “Quando a venda por metro quadrado desses negócios parar de crescer, vai virar um problema muito sério”, analisa.
Caso isso ocorra, Donegatti acredita que as redes com grandes lojas acabarão tendo que dividir seu espaço com empresas parceiras, como as redes de academia e demais serviços. “Talvez, no futuro, o atacado terá que se reinventar para virar praças de alimentação, porque o metro quadrado não será mais suficiente para vendas. Além disso, o aluguel e as despesas serão altos. Tem que navegar na onda agora, o futuro vai ser complicado”, pontua.
Já Claret avalia que as redes de atacarejo costumam enfrentar as mesmas dificuldades que todos os demais formatos do segmento supermercadista. No entanto, ele também aponta para as dificuldades geradas pelas grandes lojas. “Por ser um formato que requer grandes terrenos, essa é também uma dificuldade adicional: conseguir espaços adequados especialmente nas regiões mais valorizadas”, explica.

Assaí Atacadista em Minas Gerais
Minas Gerais possui um dos mercados mais atrativos do varejo nacional. De acordo com o diretor regional da rede Assaí Atacadista no Estado, Murilo Coelho, a diversificação da economia mineira e os bons resultados econômicos apresentados têm contribuído para tornar a região uma das mais importantes para a empresa. A companhia é uma das maiores do segmento de atacarejo, com faturamento de R$ 59,7 bilhões, conforme o último ranking da Associação Brasileira dos Atacarejos (Abaas).
“Um exemplo da importância que destacamos para o Estado é que Minas Gerais possui uma estrutura administrativa do Assaí própria e 100% focada na região. Atualmente, são mais de 30 pessoas trabalhando exclusivamente com foco aqui”, revela.
Coelho ainda aponta para o fato de Minas Gerais apresentar total aderência para um modelo de negócio que busca atender diversos públicos e que oferece mais economia tanto no abastecimento das residências quanto para o comércio, como é o caso do atacarejo.
O diretor regional lembra que a empresa sempre foi muito bem recebida pela população mineira desde sua primeira inauguração no Estado em 2017, na cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Desde então, a rede passou por uma forte expansão em Minas, passando de três unidades, em 2021, para as atuais oito operações.
Essas operações são responsáveis pela geração de cerca de 4 mil empregos, entre diretos e indiretos. Para este ano, o Assaí Atacadista ainda prevê a inauguração de mais uma loja em Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Coelho ainda destacou o compromisso da companhia com os produtores locais. “Temos uma preocupação muito forte com a valorização dos fornecedores locais. Para se ter uma ideia, cerca de 90% das empresas que fornecem frutas, legumes e verduras para as lojas de Minas Gerais são de produtores e agricultores locais”, revela.
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