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Tabacaria e Cafeteria Boca de Pito se adapta e conquista novos consumidores

Cafeteria e tabacaria mineira ajusta tradição ao consumo atual
Tabacaria e Cafeteria Boca de Pito se adapta e conquista novos consumidores
Meme já prepara 2ª geração para assumir o negócio | Foto: Diário do Comércio / Arquivo / Andrea Rocha

Criada em 1977, a tabacaria e cafeteria Boca de Pito se equilibra entre a tradição do bom cafezinho e produtos de tabaco, em um espaço que nasceu para ser moderno e agradar velhos e novos clientes. Instalado hoje no Shopping 5ª Avenida, na região Centro-Sul, o empreendimento caminha para completar meio século oferecendo cigarros, charutos, cachimbos e uma infinidade de acessórios, além dos cafés e outros itens relacionados.

De acordo com o proprietário da Boca de Pito, Geraldo Magela Meme, o negócio começou por causa da sua saudade do café feito pela mãe em sua casa no interior.

“Minha família tem origem turca e, quando vim para Belo Horizonte, senti muita falta do café da minha mãe. A ideia da Boca de Pito veio daí. A primeira loja foi na rua Antônio de Albuquerque, bairro Funcionários, na região Centro-Sul. Fomos a primeira cafeteria da cidade a oferecer café expresso e esterilizar as xícaras a vapor. Também tínhamos ar condicionado e uma porta de vidro que permanecia fechada. O resultado é que as pessoas não entravam na loja e eu quase fui à falência. Um dia o ar condicionado estragou e eu tive de abrir a porta, as pessoas começaram a entrar e nunca mais pararam”, relembra Meme.

Da rua Antônio de Albuquerque, a tabacaria e cafeteria se mudou pouco tempo depois para o Shopping 5ª Avenida, voltou a ter ar condicionado e nunca mais manteve a porta fechada. Há três anos, quando deixou uma loja de 45 metros quadrados para se mudar para outra duas vezes maior, passou a utilizar uma lona no lugar da porta.

Ao longo do tempo, além das intempéries políticas e econômicas vividas pelo Brasil e da pandemia, que fez com que ficasse fechada por um ano, a empresa enfrentou mudanças drásticas no padrão de consumo. Se de um lado a cafeteria ajudou a implantar o hábito de tomar café expresso, de outro a tabacaria viu a campanha antitabagista ganhar força no final do século passado e o surgimento dos cigarros eletrônicos.

“Além da porta de vidro fechada, as pessoas estranhavam o café expresso. No início quem frequentava a Boca de Pito eram os executivos da Fiat e o governador Francelino Pereira. Ao longo do tempo as coisas foram mudando. Enquanto o consumo de cachimbos diminuiu, o de charutos cresceu, especialmente entre as mulheres. Também passamos pela proibição do fumo dentro da loja. No início as pessoas reclamavam muito, mas hoje se acostumaram. Tomam o café aqui dentro, fumam lá fora e depois voltam”, explica.

Para atender às novas gerações, além de um espaço agradável em que seja possível carregar e usar dispositivos eletrônicos, é preciso oferecer cafés especiais e manter sempre uma coleção de cigarros de palha. Tabaco e acessórios para a produção própria dos cigarros de palha também estão na lista de compra dos jovens.

Produção forte, mercado aquecido e boas histórias

O Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial de tabaco, com cerca de 95% da produção concentrada na região Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De acordo com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a produção de tabaco no País para a safra 2024/2025 foi de aproximadamente 719,891 mil toneladas. A indústria de exportação projeta superar a marca de US$ 3 bilhões em 2025.

A qualidade do tabaco brasileiro é reconhecida internacionalmente devido a fatores como o clima e o solo favoráveis e o controle de qualidade do Sistema Integrado de Produção de Tabaco (SIPT).

“Os jovens redescobriram o cigarro de palha e muitos gostam de eles mesmos enrolarem o cigarro. Temos todos os produtos para isso e uma grande variedade de tabaco. Hoje o Brasil produz o melhor tabaco e os melhores charutos do mundo, embora a fama ainda seja de Cuba. Temos muita tecnologia aplicada à produção, isso se reflete na sofisticação dos terroirs e na qualidade dos blends. O charuto oferece aos seus consumidores uma experiência completa e sofisticada, como os vinhos, cafés especiais e azeites”, ensina o empresário.

Para o futuro, Meme já prepara a segunda geração para assumir o negócio e espera que boas histórias continuem a ser vividas na Boca de Pito, como a de um famoso empresário, que teve o nome preservado, que nos anos 1980 entrava na tabacaria e cafeteria, cantava uma ária e distribuía dinheiro para os funcionários.

“Ele colocava o pé sobre o balcão, cantava uma ópera e dava um dinheiro equivalente hoje, acredito, a R$ 50 reais para cada funcionário. Resumindo: ele pagava a plateia para ouvi-lo”, diverte-se o fundador da Boca de Pito.

Ao longo de quase 50 anos, a Boca de Pito atravessou mudanças de comportamento, crises econômicas, novas tecnologias e transformações profundas no hábito de consumo. Mesmo assim, manteve algo essencial: a capacidade de criar vínculos. A tabacaria e cafeteria virou ponto de encontro, lugar de histórias improváveis, espaço onde gerações diferentes se reconhecem no aroma do café ou no ritual de acender um charuto. Agora, enquanto a segunda geração se prepara para assumir o comando, o negócio segue apoiado na mesma ideia que deu origem à loja nos anos 1970, a saudade de um café feito em casa, servido com cuidado. É esse fio que sustenta o passado e aponta para o futuro da Boca de Pito.

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