Boeing terá 80% em parceria com Embraer
São Paulo – A Embraer assinou memorando de entendimento com a Boeing para formação de joint venture contemplando os negócios e serviços de aviação comercial da fabricante brasileira, informaram ontem as companhias. Pelos termos do acordo não vinculante, a Boeing deterá 80% da companhia resultante da transação, enquanto a Embraer ficará com os 20% restantes, de acordo com o comunicado. A nova empresa deve tornar a Boeing a líder de mercado para jatos menores de passageiros, criando competição acirrada para o programa de aeronaves CSeries projetado pela canadense Bombardier e apoiado pela rival europeia Airbus. A transação avalia a totalidade das operações de aviação comercial da Embraer em US$ 4,75 bilhões, com a Boeing desembolsando US$ 3,8 bilhões pelos 80% de participação no negócio, informaram as companhias. Para a Embraer, o anúncio da Airbus de que assumiria o controle do CSeries da Bombardier colocou peso real de marketing por trás do concorrente frágil, enquanto para a Boeing, o acordo transatlântico ameaçou expandir a base de receita e o potencial de geração de caixa de seu arquirrival europeu. Os dois acordos representam o maior realinhamento no mercado aeroespacial global em décadas. O novo duopólio, colocando a Airbus e a Bombardier de um lado contra a Boeing e a Embraer do outro, fortalece fabricantes de aviões ocidentais estabelecidas contra novos concorrentes como a China, apontam analistas. Às 12h30 de ontem, as ações da Embraer negociadas no Brasil caíam quase 13%, diante da decepção com os termos financeiros do tão aguardado acordo. Valor abaixo – A transação coloca um valor abaixo do esperado na unidade de aviação comercial da Embraer, disse o analista do BTG Pactual Renato Mimica, em nota a clientes. No entanto, ele ainda vê potencial de alta para as ações da empresa, destacando a potencial economia de custos com a parceria com Boeing. As ações da Boeing, que buscava expandir a atuação no ramo de jatos de menos lugares, subiam 0,27%. A Boeing deve pagar por sua participação em dinheiro, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. O comunicado não trouxe indicação sobre como será feito o pagamento dentro do acordo. Em documento enviado separadamente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a fabricante brasileira ressalta que as divisões de Defesa & Segurança e Jatos Executivos, entre outras, não serão segregadas para nova sociedade e seguirão sendo desenvolvidas pela Embraer. Além disso, as ações da Embraer continuarão listadas na bolsa paulista B3, e a União manterá os direitos decorrentes das golden shares na companhia. Sinalizações recentes do presidente Temer e de autoridades militares indicavam que o governo estaria satisfeito com a nova estrutura do acordo, uma vez que os empregos brasileiros seriam mantidos e que a Embraer seguiria desenvolvendo nova tecnologia. A finalização dos detalhes financeiros e operacionais da parceria estratégica e a negociação dos acordos definitivos devem prosseguir nos próximos meses, mas a expectativa é que a transação seja fechada até o fim de 2019, caso as aprovações regulatórias e de acionistas ocorram no tempo previsto, informaram as empresas. O comunicado conjunto ainda destaca que a operação não terá impacto nas projeções financeiras de Boeing e Embraer para 2018 nem no compromisso do grupo norte-americano de retornar cerca de 100% do fluxo de caixa livre aos acionistas. A parceria deve ser contabilizada nos resultados da Boeing por ação, no início de 2020, gerando sinergia anual de custos estimada em cerca de US$ 150 milhões – antes de impostos – até o terceiro ano. “Esta importante parceria está claramente alinhada à estratégia de longo prazo da Boeing de investir em crescimento orgânico e retorno de valor aos acionistas, complementada por acordos estratégicos que aprimoram e aceleram nossos planos de crescimento”, disse Dennis Muilenburg, presidente da Boeing, no comunicado. Serviços de defesa – O acordo ainda prevê a criação de outra joint venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390. O acordo tomou forma mais de dois anos depois que a ideia foi apresentada internamente ao conselho de administração da Boeing e reflete uma antiga afinidade entre as duas fabricantes de aeronaves, disse uma fonte familiarizada com a negociação. No entanto, a pressão por um acordo se intensificou quando a Airbus anunciou, em 2017, que assumiria o controle do programa de jatos CSeries da rival Bombardier, que vinha enfrentando sua longa batalha com a Embraer no segmento de 70 a 130 assentos. “O anúncio Boeing-Embraer confirma o forte potencial do mercado na categoria de 100 a 150 assentos”, considerou a Airbus por meio de um porta-voz. “A Boeing e a Embraer estão seguindo a Airbus e a Bombardier.” BNDES É ACIONISTA, MAS NÃO PARTICIPA Brasília – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira, disse que o BNDES continuará sendo acionista da Embraer, mas não terá participação na nova empresa que será formada após acordo com a Boeing. “A Embraer terá uma participação nessa nova empresa, mas os acionistas não terão participação direta”, afirmou. Segundo Dyogo, não foi colocada a opção de que os acionistas da Embraer tivessem participação na nova empresa. O BNDES tem 5% das ações da Embraer e é o maior financiador das exportações da empresa. Perguntado sobre se tem intenção de vender participação na Embraer, Dyogo afirmou que não fala sobre esse tipo de operação antes de ser concluída para não afetar o mercado. O presidente reforçou que o banco não participou das negociações com a Boeing, mas apenas assessorou o governo em questões relativas à golden share, ação da União que dá direito a veto em questões como transferência de controle acionário. “As informações que temos enquanto acionista são semelhantes ao que tem o mercado, há uma separação de funções. Participamos até certo ponto nas discussões com o governo, mas não tínhamos conhecimento prévio dos detalhes”, afirmou. Dyogo disse ainda que o acordo com a Boeing é uma solução positiva para uma questão “inexorável”, que é o acirramento da competição nesse mercado após a compra da Bombardier pela Airbus Ele apontou que a operação representou “sérios riscos” à continuidade das atividades comerciais e tecnológicas da Embraer e que a associação da Boeing preserva a capacidade de ter desenvolvimento de aeronaves no Brasil. “A aquisição da Bombardier pela Airbus desequilibrou o mercado e deixou pouco espaço para uma empresa do tamanho da Embraer competir isoladamente. A associação com a Boeing nos parecer muito positiva para permitir a continuidade dos trabalhos da Embraer e da produção de aeronaves e desenvolvimento de tecnologia no Brasil”, completou. Para o presidente, a golden share e o poder de veto do governo estão “plenamente preservados” com o acordo, que foi desenhado para garantir isso, deixando de fora os negócios militares e de jatos executivos. Posição de caixa – A Embraer espera melhorar sua posição de caixa em US$ 1 bilhão assim que a Boeing concluir a aquisição da participação majoritária em sua unidade de jatos comerciais, segundo uma nota do presidente-executivo da empresa brasileira, Paulo Cesar Silva, enviada a funcionários. Em teleconferência com analistas, executivos da fabricante brasileira de aviões disseram esperar que cerca de 20% do pagamento de US$ 3,8 bilhões da Boeing pela nova joint venture de aviação comercial iria para impostos e o restante poderia ser dividido entre recompra de ações, desalavancagem, dividendos especiais e investimento em projetos futuros de defesa e aviação executiva.
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