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Criação de vacina da Covid avança em MG

Expectativa é de que o imunizante, que recebeu investimentos de quase R$ 500 mi, esteja disponível em 2024
Criação de vacina da Covid avança em MG
Com aportes de R$ 80 milhões, o CTVacinas da UFMG será transformado no primeiro Centro Nacional de Vacinas | Crédito: Foca Lisboa

Com investimentos próximos de R$ 500 milhões, a primeira vacina 100% brasileira está sendo produzida no Centro de Tecnologia de Vacinas (CTVacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O imunizante, que combate a Covid-19, acaba de entrar na etapa de testes clínicos em humanos e a expectativa é a de que esteja disponível para o público a partir do primeiro semestre de 2024.

Até lá, os testes clínicos seguem em três etapas. As duas primeiras fases, que ocorrem em Belo Horizonte, envolvem 432 voluntários. Mais de mil pessoas se inscreveram para participar dos ensaios clínicos e os participantes serão acompanhados por um ano.

Após a conclusão das fases 1 e 2, o grupo que desenvolve a SpiN-Tec MCTI UFMG enviará os relatórios do estudo para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e solicitará autorização para a terceira e última etapa dos testes, que reunirá de 4 a 5 mil voluntários de várias partes do Brasil. Somente após esses procedimentos é que o imunizante chegará ao mercado e à população.

“Esperamos terminar as fases 1 e 2 no meio do ano que vem. A fase 3 vai até o primeiro semestre de 2024 e, aí assim, trabalhar com a Funed (Fundação Ezequiel Dias) e setores privados para ela entrar no mercado já em 2024”, explicou o coordenador do projeto e do CTVacinas da UFMG, professor Ricardo Gazzinelli, durante a solenidade que marcou a aplicação da primeira dose em humanos, na última sexta-feira (25).

Segundo a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, o suporte financeiro para o desenvolvimento da vacina veio de diferentes frentes, a começar pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no início da pesquisa, em 2020. Ela também citou a importância da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na interlocução com o governo do Estado para o apoio ao CTVacinas, as emendas parlamentares das bancadas federal e estadual e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), de onde veio a maior parte dos recursos.

Sandra Goulart acrescentou que o investimento em vacinas contribui para a soberania nacional, uma vez que países que desenvolvem seus próprios imunizantes conseguem, de um lado, proteger sua população e, de outro, exportar as vacinas e os insumos necessários à sua fabricação. “É uma condição que possibilita a esses países influenciarem os rumos da geopolítica internacional de forma decisiva e colaborativa”, disse.

Apenas o empenho do MCTI soma R$ 447 milhões, conforme o ministro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Paulo Alvim. Segundo ele, em um primeiro momento, foram cedidos R$ 5 milhões. Na atual fase, mais R$ 15 milhões. Outros R$ 105 milhões compreendendo as fases 1 e 2 e ainda terão outros R$ 310 milhões para a fase 3.

“Estamos falando de cerca de R$ 500 milhões para termos uma vacina do Brasil, gerando impostos e emprego no País. Enquanto as vacinas produzidas lá fora custaram bilhões de dólares ou euros. Isso foi possível graças à capacidade técnica, à criatividade e à competência, que são diferenciais do pesquisador brasileiro que desenvolve muito com pouco. Se tiver previsibilidade de recursos, faz ainda mais”, afirmou.

O ministro, bem como o secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales, enalteceu os esforços da comunidade científico-acadêmica na obtenção desta que é a primeira vacina 100% desenvolvida no Brasil.

“A vacina traz um legado muito significativo que extrapola a UFMG. E isso foi possível graças ao engajamento de todos os envolvidos. A pandemia mostrou o papel nobre e único da ciência. E para chegarmos a esse marco histórico, que é a vacina produzida por brasileiros, tivemos qualidade e excelência científica. Tivemos competência em fazer acontecer. E prontidão e velocidade. Tudo isso com recursos bem inferiores ao que vimos mundo afora para o desenvolvimento das vacinas que temos no mercado”, disse Paulo Alvim.

“É a primeira vacina da história do Brasil. Produzida por brasileiros, com financiamento brasileiro e por instituições brasileiras. E agora ela começa a ser testada em seres humanos”, reforçou Morales, que fez a aplicação da dose no primeiro voluntário.

Pesquisas e ensaios clínicos da vacina

As pesquisas para o desenvolvimento da vacina foram iniciadas em novembro de 2020. O antígeno da SpiN-Tec MCTI UFMG inclui duas proteínas do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19. Uma é a proteína Spike (S) e a outra é o nucleocapsídeo (N), o que explica o nome SpiN. Por essa particularidade, os pesquisadores acreditam que o imunizante será mais efetivo contra novas variantes.

“As vacinas de Covid-19 em uso geram respostas de anticorpos neutralizantes. Já a SpiN-Tec MCTI UFMG foi desenvolvida para induzir resposta dos linfócitos-T, ou seja, ela gera uma resposta contra várias partes da molécula do vírus, e não apenas contra um de seus segmentos, como ocorre com as vacinas atuais”, explicou o coordenador do CTVacinas.

Centro Nacional de Vacinas

O Centro de Tecnologia de Vacinas (CTVacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) será transformado em Centro Nacional de Vacinas. Este será o primeiro do tipo do País e, com obras já iniciadas, deverá ser inaugurado em até dois anos. O desenvolvimento ocorre por meio de uma parceria entre a Federal e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com recursos que chegam a R$ 80 milhões.

Segundo a UFMG, a ideia é que o local seja um hub para o desenvolvimento de projetos de inovação nas áreas de imunizantes – incluindo novas plataformas vacinais, de kits diagnósticos e de fármacos, com foco na transferência tecnológica para empresas e instituições que atuem no mercado de saúde. Pesquisadores que trabalham com o desenvolvimento de imunizantes em todo o território nacional poderão utilizar a estrutura.

“A obra já foi iniciada, a terraplanagem deve ser concluída na próxima semana. O recurso já está disponível e a previsão é de que seja inaugurado em 2024. Foram R$ 50 milhões destinados pelo MCTI e R$ 30 milhões pelo governo do Estado. Não teremos nenhuma dificuldade na condução do projeto”, disse uma das coordenadoras do CT Vacinas, Ana Paula Fernandes, durante a solenidade que marcou o início dos testes clínicos da vacina SpiN-Tec MCTI UFMG em humanos.

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