Conheça a força do varejo regional no setor supermercadista

O varejo regional tem demonstrado uma tendência de crescimento tanto em Minas Gerais quanto em todo o Brasil. As maiores redes mineiras são empresas com operações concentradas no Estado ou em uma determinada região. Como podemos observar na última edição do ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a regionalização é uma característica marcante do setor de supermercados no País, com uma forte presença de empresas regionais ou locais. A entidade destaca que essas redes possuem um histórico de décadas de atendimento aos clientes e, assim, conquistaram posições relevantes no dia a dia de seu público.
Este tipo de empresa está presente em Minas Gerais e nos demais estados brasileiros e tem dificultado a criação de redes “verdadeiramente nacionais” em um território fortemente marcado por costumes e preferências diversificadas. A SBVC ressalta que o mercado nacional é complexo e apresenta um elevado grau de concentração demográfica e geográfica.
Esse cenário torna o varejo regional ainda mais relevante no setor, com 47% das empresas operando em apenas um estado e 65% presentes em até cinco estados. Segundo a SBVC, apenas 13% das grandes companhias contam com operações em todos os 27 estados brasileiros. Portanto, apesar de existirem muitas redes com presença nacional, o varejo brasileiro segue sendo dominado por empresas de atuação regional.
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O presidente executivo da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Antônio Claret Nametala, destaca a importância das redes mineiras se manterem próximas de seus clientes. “O atendimento de forma regionalizada, entendendo bem as demandas daquela população, é um ponto muito positivo. Conhecer bem a demanda local também é uma vantagem”, afirma.
Para ele, o setor supermercadista é muito concorrido e tem custos muito elevados. Portanto, quanto mais perto a rede estiver de seu cliente e de seu fornecedor, mais vantagens competitivas ela terá.
“Isso poderia nos levar a entender que as redes regionais têm essa vantagem, mas as redes de atuação nacional também têm expertise no atendimento a esse consumidor regional e conhecem bem as suas demandas. Como costumamos dizer de forma descontraída: elas também falam ‘uai’”, explica.
Para o presidente da rede Supermercados BH, Pedro Lourenço, a regionalização do varejo não só permite que as redes varejistas tenham maior compreensão das preferências e necessidades locais, como também fortalece sua identidade local. “Além da agilidade na tomada de decisões e implementação de estratégias adaptadas ao mercado regional”, completa.
De acordo com Lourenço, uma das principais vantagens das redes regionais é a flexibilidade e agilidade para se adaptar às mudanças locais. “É possível uma melhor compreensão da cultura e comportamento do consumidor regional”, afirma.
Já o gerente-geral de marketing, trade e CRM do Grupo Supernosso, Augusto Teixeira, destaca que as grandes redes nacionais contam com maior poder de negociação com os grandes fornecedores, se comparadas com as regionais. Isso possibilita a aquisição de um volume maior de produtos tornando, em muitos casos, essas companhias mais competitivas no quesito preço.
“A gente tem que ser competitivo de outras formas, entregar um bom serviço, uma proposta de valor melhor. Porque elas conseguem ter uma oferta de preço, algumas vezes, melhor que a nossa”, avalia.

Tendência de crescimento do varejo regional
O consultor de varejo, Wagner Donegatti, lembra que há pouco mais de uma década, as grandes redes nacionais estavam comprando todos os pequenos varejistas. No entanto, ele aponta para uma mudança nesse cenário, com o fortalecimento das redes regionais que, segundo ele, devem continuar crescendo nos próximos anos.
Para o especialista, algumas das grandes vantagens desse tipo de empresa, além da agilidade, são: o apoio dos fornecedores locais e o fato de conhecer o lugar onde está inserido. Ele ainda ressalta a importância de conhecer os produtos regionais que são consumidos pela população.
“A grande vantagem das regionais é realmente conhecer o terreno, além de sua agilidade, isso é muito importante. Quando você não conhece o terreno com profundidade e fica mais lento, certamente vai perder”, disse.
Já na visão de Teixeira, essa adaptação ao gosto da população e a relação com fornecedores regionais podem gerar impactos em várias outras áreas de atuação, como é o caso da interação via redes sociais ou demais canais das empresas.
“A gente sabe o jeito de o consumidor falar, o jeito que ele gosta de consumir conteúdo, quais influenciadores que ele mais gosta. A gente consegue usar isso em várias esferas, a gente consegue falar mais claro com o consumidor”, explica.
Ele ainda lembra que os executivos das redes do varejo regional costumam estar mais próximos das operações. Além disso, essa atuação mais focada em uma determinada região aumenta a possibilidade de a empresa captar novas oportunidades de expansão no mercado, como a abertura de novas unidades.
Teixeira relata que o supermercado regional passou a fazer parte do cotidiano das pessoas. Em sua opinião, a consolidação dessa relação é fundamental para as companhias que atuam no setor varejista. “A partir do momento em que essa relação é quebrada, ele passa a frequentar outra rede. Então, é muito importante manter essa relação de confiança”, completa.
Claret lembra que o cliente é a razão de ser de qualquer negócio, incluindo o setor varejista. “No setor supermercadista, pela sua capilaridade e alto grau de competitividade, é preciso estar próximo a esse cliente em todos os seus momentos de compra. O atendimento, a oferta de produtos de qualidade e de acordo com o perfil da demanda local são fatores extremamente decisivos na fidelização desse cliente”, aponta.
Já Donegatti ressalta o papel do avanço tecnológico e da internet para o desenvolvimento do setor varejista no País, facilitando o acesso a boas práticas de mercado para empresas de diferentes tamanhos. “No início, buscava-se profissionais em São Paulo para trabalhar em outros lugares. Hoje, Minas já tem um time excelente, o Nordeste também, então já se criou uma especialização do varejo em todos os estados”, relata.
Teixeira destaca o desempenho e o reconhecimento das redes mineiras no varejo nacional. “Todas têm o reconhecimento pela proposta de valor que elas entregam e pelos profissionais que elas têm”, afirma.
Assim como ele, o presidente da Amis também acredita na força do varejo supermercadista mineiro. “Tanto as redes sediadas na Capital, quanto às regionais, estão hoje no nível dos melhores supermercados mundo afora. Obviamente, cada uma com suas estratégias de atendimento e seu modelo de negócio”, avalia.

Expansão para fora do Estado
O Supermercados BH é a maior rede de Minas Gerais e uma das maiores do País. Em 2023, a empresa realizou sua primeira expansão para fora dos limites territoriais do Estado, com a aquisição de 34 lojas do grupo DMA, dono das bandeiras Epa e Mineirão Atacarejo, no Espírito Santo.
O presidente da rede varejista, Pedro Lourenço, destaca que a companhia experimentou uma resposta muito positiva dos novos clientes, acima do que era esperado. “Acreditamos que a aceitação pode ser atribuída à identificação eficaz e atendimento às demandas específicas da região, bem como à construção de relacionamentos locais”, avalia.
Para o executivo, a principal dificuldade enfrentada no novo estado está sendo a escassez de mão de obra. “A busca por profissionais para atender às necessidades operacionais e proporcionar um excelente atendimento ao cliente tem sido uma prioridade constante”, afirma.
Lourenço destaca que o público capixaba possui um perfil mais exigente que o mineiro. Essa característica tem criado novos desafios, mas também, oportunidades para que a rede mineira consiga superar as expectativas do consumidor local.
“As preferências alimentares podem variar, influenciadas pelos pratos típicos e ingredientes tradicionais específicos de cada local. Além disso, questões como sazonalidade e clima desempenham um papel crucial nas escolhas de compra”, relata.
O presidente da rede Supermercados BH também garantiu que a empresa não possui planos imediatos de expansão para fora da região Sudeste do Brasil, mantendo assim sua característica regional. “A estratégia de expansão concentra-se principalmente em fortalecer ainda mais a presença no Espírito Santo e em Minas Gerais”, completa.
De acordo com Lourenço, o foco da companhia está em sua consolidação e crescimento nesses mercados. A rede supermercadista quer aproveitar todas as oportunidades locais, compreendendo as demandas específicas dos consumidores e fortalecendo os laços com as comunidades desses dois estados.
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