Futuro da Musa ainda está indefinido
Entre os desafios do novo diretor-presidente da Mineração Usiminas (Musa), Carlos Hector Rezzonico, anunciado na última semana, está a definição do futuro da mineradora. Com a proximidade do esgotamento do minério friável na região de Serra Azul, no Centro-Oeste mineiro, a subsidiária da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) precisaria de decisões imediatas e estratégicas como novos investimentos ou até mesmo a venda total ou parcial dos ativos. Este cenário já tem sido especulado tanto internamente quanto pelo mercado, principalmente após a Musa sofrer mudanças na administração com saída do então diretor, Wilfred Theodoor Bruijn, em junho, e ter seu caixa reduzido em R$ 1 bilhão no ano passado, em prol do aumento de capital da Usiminas para negociação com credores. Conforme já publicado, o Projeto Friáveis, que elevou a capacidade das usinas de beneficiamento da Musa em quatro milhões de toneladas, se esgota em 2025. Até lá, Rezzonico e sua equipe precisam tomar uma série de decisões em relação ao futuro da empresa. “Ou se tira o projeto Compactos do papel ou se inicia um processo de venda dos ativos”, alertou uma fonte de mercado que preferiu não se identificar. Conforme a fonte, a principal questão sobre a retomada do projeto Compactos está relacionada ao nível de investimentos que demandaria. O Projeto Friáveis somou cerca de R$ 700 milhões em aportes em 2013, elevando a capacidade em quatro milhões de toneladas. Assim, o Compactos, que estima elevar a produção para 29 milhões de toneladas, certamente chegará à casa dos bilhões. “O problema é que a Musa teve que transferir R$ 700 milhões do seu caixa como condição dos credores da Usiminas para a renegociação das dívidas no ano passado. A empresa não chega a estar descapitalizada, tendo cerca de R$ 500 milhões e nenhuma dívida, mas não teria como arcar com um investimento desse porte”, avaliou. Procurada pela reportagem, mais uma vez a Usiminas se limitou a dizer que o Conselho de Administração da Musa mantém avaliações constantes de opções de otimização de suas reservas minerais, não havendo previsão de tomada de decisão no curto prazo. A empresa lembrou que, há algumas semanas, divulgou projeto para filtragem e empilhamento de rejeitos a seco, no qual serão investidos R$ 140 milhões em recursos próprios. “Atualmente, a Musa tem capacidade para a produção de 12 milhões de toneladas anuais de minério de ferro na forma de granulado, sinter feed e concentrado”, disse por meio de nota. Cenário – Desde que a produtora de aços planos lançou os projetos, em 2008, o cenário nacional e internacional do minério de ferro oscilou bastante. Naquela época, a demanda pela commodity era enorme e os preços altamente competitivos. A partir de 2013, no entanto, muita coisa mudou. Iniciou-se uma crise mundial no setor e começou a se observar uma maior volatilidade do preço do minério de ferro. Somado a isso, teve início a briga pública entre os sócios majoritários da companhia, Nippon Steel & Sumitomo Metal (NSSMC) e Ternium Techint. Sem contar o posterior endividamento da controladora Usiminas, que quase levou a siderúrgica a um pedido de recuperação judicial em 2016. De acordo com outros especialistas, na decisão pesam ainda outras particularidades. A primeira delas é que a Musa tem dificuldade para exportar de forma sistemática, por não ter porto, dependendo de leilão para uma janela de exportação, o que pode onerar o processo. Outro ponto é que o maior cliente da Musa é a própria Usiminas, mas com a paralisação dos altos-fornos de Cubatão (SP) a empresa está vendendo apenas para a usina de Ipatinga (Vale do Aço), em volume bem menor que anteriormente. “Daí vêm as dúvidas quanto ao investimento, seu prazo e proporção. Além disso, existem questionamentos se ainda vale a pena para a Usiminas, que é fabricante de aço, ter uma mineradora própria, se compensa mais atrair um novo sócio investidor ou se desfazer do ativo”, citou uma das fontes.
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