Futuro do transporte demanda olhar mais sistêmico

Durante uma semana, entre os dias 22 e 30 de outubro, Belo Horizonte e Nova Lima sediaram o “Ampere: Ecossistema de Mobilidade Elétrica do Brasil”. O evento híbrido apresentou novidades e soluções sustentáveis e tecnológicas voltadas para a emissão de carbono neutro no País.
Com o objetivo de discutir soluções sustentáveis e tecnológicas para o grave problema que o planeta vem enfrentando, como, por exemplo, o alto nível de emissão de CO2, e apresentar soluções para melhorar a mobilidade urbana, o Ampere esteve em consonância com a Conferência da ONU sobre o clima – COP26, que teve início, em Glasgow, na Escócia, no dia seguinte.
De acordo com o diretor-executivo do Ampere, Leonardo Veloso Brandão, além de apresentar práticas tecnologicamente desenvolvidas por empresas na área ambiental e matrizes energéticas que já vêm sendo utilizadas nas cidades do futuro, o evento foi um grande encontro de negócios.
“Foi uma oportunidade ímpar para gerar networking e novos negócios focados nas melhores práticas de ESG e para o público mergulhar nesse universo por meio de palestras, exposições, apresentação de projetos e grupos de discussão sobre o uso das energias renováveis como carros elétricos, energias solar e eólica, além de fomentar a indústria de carbono neutro no País”, explicou Brandão.
Uma determinação importante do encontro foi mostrar a mobilidade elétrica como algo que já começa a fazer parte do nosso cotidiano e que vai afetar a vida de todos, mesmo aqueles que não puderem utilizar dispositivos eletrificados, como os carros elétricos, por exemplo, em um curto espaço de tempo.
No painel “As implicações da mobilidade elétrica no cotidiano”, o coordenador-geral da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) do Laboratório de Mobilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Victor Andrade, falou sobre “O futuro da mobilidade elétrica no Brasil”.
“Sabemos que o transporte é responsável por 73% dos gases de efeito estufa (GEE) lançados e o Brasil é o sétimo maior emissor. Temos que responder a esse grande desafio de evitarmos tal aporte de emissões. Já temos capacidade para escalar a tecnologia de eletrificação. Ela, em si, não vai ser a solução para a mobilidade sustentável nas nossas cidades, mas é parte dela. O futuro demanda um olhar mais sistêmico para a nossa sociedade. Parte da solução é uma eletrificação onde a gente pense e valorize mais o transporte público e a mobilidade ativa, que inclui, por exemplo, a bicicleta. Devemos repensar o desenho das cidades. A eletrificação precisa vir com essa transição na forma como damos infraestrutura para as nossas cidades”, explicou Andrade.
Para o professor, a eletrificação dos ônibus é uma decisão urgente e que pode gerar bons negócios, visto que eles são os maiores responsáveis pelo transporte coletivo nas grandes cidades brasileiras e seguem sendo movidos a diesel. O caminho, porém, ainda é longo. São apenas 350 ônibus elétricos rodando no País.
Belo Horizonte é uma das cidades interessadas na tecnologia e vem sediando testes nos últimos anos. Ainda sem data fechada, está em planejamento mais um teste capitaneado pela Viação Torres em parceria com a BHTrans para os próximos meses.
O especialista em Smart Cities e Mapeamento das Cidades para Planos Diretores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bráulio Magalhães, participou do webinar sobre Cidades Inteligentes e os Desafios do Urbanismo para a Mobilidade Elétrica.
“Trabalho com um novo conceito de geodesign, que une planejamento participativo e tecnologia, que também são pilares da construção de cidades inteligentes. Mas como fazer um planejamento sem dados? Apenas 10% dos municípios brasileiros têm bases cartográficas digitalizadas. O nosso desafio e dever é trazer soluções mais interessantes com a tecnologia que temos. Perguntar se o planejamento hoje tem lastro com a realidade das pessoas. Propor inovações pensando no zoneamento das cidades no sentido de atração de investimentos. A mobilidade elétrica não é a eletrificação do que está aí, é algo novo. Para que aconteça é preciso estar escrito em lei, nos instrumentos de gestão territorial, como o plano diretor das cidades, por exemplo”, analisou Magalhães.
O lançamento do Verde – hub de inovação em energia limpa e renovável -, antecipado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, foi um dos painéis mais concorridos. Sediado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec), no Campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na região da Pampulha, o Verde é um projeto capitaneado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), como empresas parceiras.
“Tivemos um evento muito produtivo que falou não só de mobilidade elétrica, mas também de energia limpa. Empresas que buscam se tornar carbono neutro encontraram experiências, inclusive internacionais, e soluções muito promissoras dentro do evento para a descarbonização das frotas, por exemplo. Também sobre as oportunidades de negócios em torno de uma fábrica de veículos elétricos e a partir do lançamento do Verde. Já estamos formatando a edição de 2022 com bastante aprendizado nessa primeira edição”, completou o diretor-executivo Ampere.
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