Negócios

Indústria do antienvelhecimento em alta

O mercado global de suplementos para saúde das articulações e dos ossos atingiu a marca de US$ 10 bilhões
Indústria do antienvelhecimento em alta
Crédito: Freepik

Presidente Epitácio, SP – “Gente que come mocotó é puro mocotó”, anunciava uma conhecida marca desse produto industrializado nos anos 1970 e 1980. Mas a receita tradicional do tempo do Brasil Colônia feita à base da canela e do pé do boi, considerada uma das mais nutritivas refeições, não saiu de moda. Apenas deu lugar ao colágeno hidrolisado.

O novo pote da “fonte da juventude” hoje é facilmente encontrado à venda em forma de pó ou cápsulas.

Conhecida por ser um suplemento antienvelhecimento, responsável por fornecer estrutura, firmeza e elasticidade à pele e fortalecer os ossos, tendões e ligamentos, essa proteína concentrada, considerada essencial ao corpo humano, por ser considerada alimento, é comercializada sem a necessidade de receita médica.

Como cadeia de fornecimento de matéria-prima, o Brasil hoje já tem 15% mais bois do que gente, e os rebanhos crescem rapidamente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, divulgados no último mês de setembro.

E como do boi até o berro é aproveitado em trilhas de filmes, novelas e festas de peão, o país não ficou de fora de um dos mercados mais rentáveis dos últimos anos: o de colágeno concentrado.

Soluções à base de colágeno

O valor comercial dessa proteína não era novidade aqui nem na Europa do século 19. A Rousselot, por exemplo, hoje braço da Darling Ingredients, uma das grandes do mundo em soluções à base de colágeno, já trabalhava industrialmente com a molécula do produto desde ao menos 1891, na produção de gelatina a partir da pele, do couro e de ossos de bezerros, aves, porcos e até de peixes.

Aqui no País, quando ainda pertencia à Vion, a Rousselot comprou em 2008 as fábricas da Rebiére Gelatinas, em Amparo, na região de Campinas, e em Presidente Epitácio, extremo Oeste de São Paulo, na divisa com o Mato Grosso do Sul.

Atualmente pertencente à norte-americana Darling, a antiga multinacional europeia se juntou agora à Gelnex, que tinha fábricas em Goiás, no Tocantins, em Mato Grosso, no Paraguai e nos Estados Unidos. A empresa catarinense foi comprada pela multinacional por cerca de R$ 6 bilhões, em negócio finalizado neste ano.

A JBS, gigante mundial de produção de proteína animal, também entrou nessa corrida pela “fonte da juventude”. A empresa começou a produzir no segundo semestre do ano passado peptídeos de colágeno e gelatina a partir da pele de bovinos da cadeia de produção da empresa.

O investimento no negócio foi de R$ 400 milhões, de olho em um mercado que movimenta US$ 4 bilhões e que cresceu acima de 15% anualmente nos últimos cinco anos, segundo a consultoria americana Allied Market Research.

A nova planta fabril, reformada a partir de um antigo frigorífico em Presidente Epitácio, produz peptídeos e gelatina para as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Os peptídeos de colágeno são minúsculas partículas de proteína que agregam amionoácidos e ajudam na hidratação da pele, redução de rugas, regeneração de cartilagem e combate à perda de massa muscular.

“É uma empresa que já nasce grande, se posicionando entre os três maiores players do mercado, com 10% do mercado global de peptídeos e gelatina de pele bovina”, contou Claudia Yamana, diretora da nova empresa do grupo, a Genu-In. As maiores concorrentes da brasileira são a alemã Gelita e a própria Rousselot. Todas têm operações no Brasil.

Segundo a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), Thaise Mendes, “é interessante observar como o colágeno ganhou protagonismo na busca por saúde e bem estar nos últimos anos”.

“O mercado de suplementos de colágeno está em ascensão. As pessoas estão cada vez mais conscientes dos benefícios que a proteína pode trazer para o bem-estar geral do corpo, com impacto positivo na saúde óssea e na prevenção do envelhecimento precoce.”

“Outro ponto importante é que, à medida que o interesse pelo envelhecimento saudável continua a crescer, o mercado se adequa para atender a essa demanda. Isso representa um momento importante para a indústria, pois vemos mais pessoas priorizando a saúde e bem-estar à longo prazo. O colágeno, nesse contexto, integra-se a essa tendência.”

Mercado

De acordo com dados do IBGE, no ano passado em comparação com 2021, o setor registrou um crescimento de 2,4% na produção, o que representa o valor total de R$ 3 bilhões.

Segundo o Euromonitor International, em 2022, o mercado global de suplementos para saúde das articulações e dos ossos atingiu a marca de US$ 10 bilhões, cerca de R$ 50 bilhões. Existe ainda uma projeção de aumento de 20% nas vendas de suplementos nos Estados Unidos para os próximos três anos.

Nos últimos anos, o mercado de suplementos alimentares com um todo experimentou um crescimento notável, mesmo durante e após a pandemia de Covid-19, a tendência de alta demanda persistiu.

Segundo pesquisa de mercado “Hábitos de Consumo de Suplementos Alimentares”, da Abiad, o colágeno é amplamente procurado no Brasil. “Entre a variedade de suplementos alimentares disponíveis, o colágeno se destacou com um crescimento de consumo de 167%”, completa Thaise Mendes. (Emerson Voltare)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas