Inovação é gargalo para crescimento do Brasil

Realizado pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), a pesquisa “Futuro do Crescimento” mostra o Brasil em cima da média mundial e com uma dificuldade preocupante em inovação. O estudo tem como objetivo analisar, de forma multidimensional, o andamento e a qualidade do crescimento econômico dos países, assim como os caminhos de desenvolvimento tomados por diferentes nações.
O crescimento é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) per capita e sua variação nos últimos cinco anos. A escolha do indicador tem relação com adoção de uma medida que realmente traga um resultado mais adequado para os ganhos de produtividade, uma vez que países populosos podem ter PIB alto, mas que não resultam em riqueza para os cidadãos.
Para analisar o potencial de crescimento, o relatório observa quatro pilares: inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência, segundo os aspectos talento, recursos financeiros, pesquisa e tecnologia e institucional como subitens. Os indicadores são combinados para formar uma pontuação geral em uma escala de 0 a 100 pontos.
O Brasil, com PIB per capita PPP (paridade poder de compra) de USD$ 16.402 (cerca de R$ 81.000) considerado no relatório como um país do grupo de renda média alta, registrou, durante o período de 2018 a 2023, um crescimento de 1,22% no PIB. Em termos de qualidade desse crescimento, o País obteve pontuações de 41,8 em Inovação, 55,3 em Inclusão, 55 em Sustentabilidade e 52 em Resiliência.
Segundo o diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, Hugo Tadeu, o resultado brasileiro não destoa muito da média mundial, porém precisa ser aprimorado por meio de políticas públicas e estratégias organizacionais que enfrentem os principais desafios atuais.
“Durante muito tempo entendemos crescimento apenas com base nos resultados econômicos, mas diante dos desafios atuais, precisamos pensar na qualidade desse crescimento. Avaliar como ele alcança as pessoas e se estamos construindo a base para um crescimento futuro sustentável. As médias mundiais nos pilares analisados ficaram em torno de 50, indicando um grande espaço para crescimento e desenvolvimento. O Brasil fica mais ou menos nessa média, mas o mais preocupante é a baixa qualidade dos investimentos em inovação que, para nós, deve ser o motor para os outros três pilares”, explica Tadeu.
Recursos naturais suportam crescimento do Brasil, mas País deixa inovação escapar

Na pesquisa “Futuro do Crescimento”, o Brasil apresenta alguns destaques positivos que podem potencializar um crescimento promissor frente a macrotendências, como, por exemplo, a disponibilidade de recursos hídricos (100) e a maior concentração de oferta de alimentos (100). A forte produção agrícola do País amplia a resiliência a eventos que impactam o suprimento desses recursos básicos.
A infraestrutura de telecomunicações é outro elemento que se sobressai e pode apoiar o desenvolvimento de negócios e a promoção de inclusão e sustentabilidade no País. O 5G habilita ganhos de produtividade e o estabelecimento de novas tecnologias. Os resultados do País indicam boa presença de capital e custo reduzido em tecnologias da informação e comunicação (TICs), bem como boa cobertura de rede móvel.
Por fim, a matriz energética brasileira, seja pela sua diversificação relativa bem como pelo investimento em energia renovável, coloca o Brasil em uma posição vantajosa frente a tendências crescentes de transição energética e descarbonização.

Do outro lado, a construção de uma agenda para o futuro de crescimento do Brasil, deve considerar alguns pontos de atenção que precisam ser endereçados nos próximos anos, considerando os esforços de instituições públicas e privadas:
Propriedade intelectual: para avançar no tema, além das publicações científicas que se destacam frente à média global é necessária a produção de conhecimento em forma de patentes e marcas comerciais, fomentando a aplicação e proteção de ativos capazes de gerar riqueza para empresas e o País.
Além disso, o maior desenvolvimento de patentes verdes, associado a tecnologias que minimizem impactos ambientais e promovam a sustentabilidade, são essenciais para o crescimento brasileiro futuro no contexto de transição energética e crises climáticas.
Maior inclusão no sistema financeiro: o Brasil precisa melhorar a distribuição de riquezas e renda e ampliação do acesso a contas bancárias pela população. Relacionado à desigualdade de renda, o investimento em educação se apresenta como ação indispensável para reverter esse cenário.
Além disso, a redução da desigualdade financeira também está associada ao percentual da população adulta que ainda não possui acesso à conta bancária no Brasil. Apesar de avanços inovadores do Banco Central com a homologação do Pix e desenvolvimento da nova moeda digital brasileira Drex, essas novas soluções e outros serviços financeiros não são acessados por parte da população.
Qualificação e requalificação: as macrotendências digitais estão transformando de maneira significativa as habilidades necessárias para que as empresas permaneçam competitivas e operem efetivamente no cenário de transformação digital.
A pesquisa previu que 44% das habilidades dos trabalhadores no Brasil devem sofrer alterações nos próximos cinco anos e que 60% da força de trabalho atual vai necessitar de treinamentos. Por isso, é imperativo que as empresas adotem uma agenda para o aperfeiçoamento de competências existentes (upskilling) e de aquisição de competências totalmente novas para se adaptarem ao novo ambiente da transformação digital (reskilling).
“Estamos andando de lado, sem gerar valor. Um país não se desenvolve pelo PIB, mas pela renda per capita. Por sorte temos um mercado interno pujante porque as nossas exportações não são suficientes. O volume de investimento em inovação não é proporcional ao tamanho do Brasil. Não adianta ter publicações científicas se elas não viram patentes e produtos. O País precisa urgentemente discutir um plano estratégico de longo prazo para termos um crescimento que nos sustente”, alerta o professor da FDC.

Política pública de inovação ainda não tem maturidade no Brasil
Quando analisados transversalmente – não com base nos quatro pilares de crescimento (inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência), mas nos cinco ecossistemas estruturantes (ecossistema de talentos, ecossistema de recursos, ecossistema financeiro, ecossistema tecnológico e ecossistema institucional – os indicadores brasileiros mostram que o País enfrenta significativas fragilidades no ecossistema tecnológico, com pontuação média de 37,1.
A fragilidade no ecossistema tecnológico, que se reflete nos indicadores de impacto, como percentual de exportações de serviços avançados (com apenas 1,5% do PIB ou 8,1 pontos), no registro de patentes (2,4 pontos) ou de marcas (com 13 pontos), não faz jus aos significativos investimentos em P&D realizados no país (1,2% do PIB). É certo que esse volume ainda é baixo quando comparados com os países mais desenvolvidos (Coreia do Sul 4,8%, EUA 3,4%, Japão 3,3% Suíça 3,2%), mas são importantes na comparação com outras nações latino-americanas (Chile 0,3%, México 0,3%) e mesmo com as grandes economias emergentes (Índia 0,7%, África do Sul 0,6%), refletindo o empenho e a continuidade das políticas de fomento e investimento em PD&I no País.

Outros mecanismos podem ser utilizados, como o estímulo à cooperação internacional do setor de tecnologia, promovendo a participação de pesquisadores, empreendedores e empresas brasileiras em eventos e feiras internacionais, estabelecendo parcerias estratégicas com outros países e a criação de programas de incentivo para a adoção de tecnologias emergentes, como inteligência artificial e descarbonização, em setores estratégicos da economia. O foco destas ações deve ser a abertura de novos negócios e geração de riqueza para o Brasil.
“Se não fizermos investimentos em inovação, não vamos crescer. Ainda não temos o nível de profundidade técnica adequado. Isso tem a ver com o estado indutor, que discute ciência para gerar riqueza: patentes e negócios. Ainda pensamos em quantidade e não em qualidade. Países que crescem são os que têm reservas cambiais. E isso vem de uma agenda baseada em produção e crescimento. A Coreia cresceu porque investiu em educação de qualidade. Precisamos estimular um ambiente de negócios baseado em setores em que somos competitivos como o agro, mineração, energia, financeiro, por exemplo. Não dá para fazer tudo. Devemos entender em que somos bons, aumentar o nosso nível de poupança e criar uma política de longo prazo que permita transformar nossas potencialidades em diferenciais competitivos”, destaca o diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.
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