Mercado Central completa 95 anos de história no comércio mineiro; conheça personagens marcantes

O Mercado Central de Belo Horizonte celebra, neste sábado (7), 95 anos de história. O local é um dos principais cartões postais da capital mineira, e recebe milhares de turistas. Ao longo dos anos, o centro comercial passou a exercer um papel fundamental tanto no comércio quanto no turismo da cidade, além de contribuir para a preservação da tradicional gastronomia mineira.
Fundado em 1929, o Mercado Central passou por muitas mudanças, se desenvolvendo e se adaptando às novas demandas, sem perder as características culturais. O que começou com algumas barracas em um espaço a céu aberto, hoje, conta com mais de 400 lojas espalhadas pelo terreno de aproximadamente 14 mil metros quadrados (m²).
O comerciante e ex-presidente do Mercado Central, José Agostinho Oliveira Quadros, também conhecido como Nem do Mercado, ressalta o papel do centro comercial como incentivador da chegada de turistas à cidade. “Hoje, ele já é o principal ponto turístico de Belo Horizonte”, pontua.
O proprietário da loja Café Dois Irmãos, Sidney Gonçalves, também destaca o caráter turístico do espaço. Segundo ele, o turismo é um dos principais fatores que contribuem para a movimentação de pessoas nos corredores do Mercado Central. Inclusive, um dos melhores meses do ano para o comércio ali, na visão de Gonçalves, é julho, devido às férias. “Dezembro também é mês de férias, mas o comércio só melhora depois do dia 15”, explica.
Ele também relata que desde quando a loja foi inaugurada, em 1985, o Mercado tem se transformado em um centro gastronômico. De acordo com o comerciante, o espaço era ocupado por muitas lojas de frutas e legumes, mas, atualmente, esses produtos têm dado espaço para outros itens.
Já o proprietário da Andrade Artesanato, Geraldo Antônio de Andrade, destaca a qualidade do atendimento prestado pelos comerciantes do Mercado Central e a relação entre os colaboradores. “Nós estamos sempre buscando melhorar”, afirma.
Para a dona do Bar Mané Doido, Fátima Drumond, o Mercado se transformou em um ponto de referência da melhor gastronomia mineira. Segundo ele, a qualidade dos produtos comercializados no espaço fortalece o comércio e a posição de Belo Horizonte como referência no setor gastronômico.
“O mercado fortalece inclusive o comércio em torno dele e valoriza até os imóveis que estão em volta do próprio Mercado Central”, aponta.
Na visão da proprietária do Armazém Dona Lucinha, Heloisa Nunes, o Mercado é o “coração da história da culinária mineira”, uma vez que todos os fornecedores de diversos ingredientes estão localizados no local. “O Mercado Central é cultura, porque é uma referência nacional e é o terceiro maior mercado do Brasil”, completa.
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O presidente da Drogaria Araujo, Modesto Araujo Neto, define o Mercado como um ícone da cidade e de Minas Gerais, além de um patrimônio cultural e comercial. “Ele representa, com muita verdade, a alma mineira, a diversidade de nossos produtos e a força do nosso empreendedorismo”, disse.
Na visão de Modesto, o espaço é fundamental para o comércio, não só pela representatividade cultural, mas também por impulsionar a economia local, gerando empregos e atraindo milhares de turistas do mundo todo. “É um lugar onde a tradição e a inovação se encontram, onde pequenos produtores e grandes empresas convivem em harmonia”, completa.


Cuidado com a limpeza
Dentre os principais avanços ocorridos ao longo dos anos está a questão da limpeza do local. Conforme o dono da Barraca do Pautureba, Antônio Julião, o Mercado, no passado, chegou a ter ruas sujas e com a presença de ratos e baratas.
Porém, segundo ele, o Mercado Central passou por melhorias na estrutura, o que beneficiou todos os frequentadores do espaço. “Isso foi bom para nós que trabalhamos aqui. Melhorou 100% em termos de limpeza e de higiene”, completa.
Quadros ressalta o trabalho que é realizado no local para manter a boa aparência. “Não existe no País um mercado limpo igual este, onde se lava o piso, o entorno e o estacionamento todos os dias”, garante.

Lojas tradicionais
Dentre as inúmeras operações presentes no Mercado Central, algumas se destacam como as mais antigas. É o caso da Loja do Nem, comandada por José Quadros, da Loja do Heraldo, da Loja Ananda, e também da Barraca do Patureba, Andrade Artesanato e o Café Dois Irmãos.
Uma das primeiras operações do Mercado Central foi a unidade da Drogaria Araujo. De acordo com Modesto Araujo Neto, presidente da empresa, a história da rede varejista farmacêutica no local começou em 1931, com a abertura da terceira loja da companhia.
“Desde então, somos a loja mais antiga, em atividade, do Mercado. Somos testemunhas e participantes ativos da evolução deste espaço, compartilhando momentos de alegria, desafios e conquistas”, completa.


Modesto ainda ressalta que a Araujo cresceu junto com o Mercado Central de Belo Horizonte e a unidade da marca se tornou um ponto de referência no centro comercial. Ele também pontua que o Mercado passou por transformações significativas ao longo dos anos, com a modernização da estrutura e a ampliação da oferta de produtos e serviços.
“Lembro-me de quando era criança e visitava a Araujo junto com o meu avô, o ambiente era mais simples, mas a essência do Mercado sempre foi a mesma: a paixão pelo comércio, a valorização dos produtos locais e o calor humano dos comerciantes. Hoje, vemos um Mercado mais dinâmico, conectado às novas tecnologias, mas que preserva sua alma e sua tradição”, relata.
De acordo com o presidente da Drogaria Araujo a loja da varejista mineira localizada no Mercado Central também passou por uma reforma recentemente. “Em outubro de 2022 fizemos uma ampliação e revitalização do espaço, para reforçar a nossa tradição e a parceria com o Mercado”, pontua.
Essa reforma, segundo ele, proporcionou mais conforto e uma oferta de produtos ainda mais completa, além da ampliação dos serviços farmacêuticos.
Capela do Mercado
O espaço também possui uma capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima, santa padroeira do Mercado Central. Segundo informações divulgadas pelo próprio mercado, a primeira missa ali ocorreu em 1954, na primeira comemoração da Páscoa dos Comerciantes.

Desde então, o evento foi crescendo e uma comerciante portuguesa doou uma imagem de Nossa Senhora de Fátima como forma de agradecimento, que passou a ser exposta para visitação dos devotos.
Já em 1972, o presidente do Mercado, à época, e alguns comerciantes solicitaram o reconhecimento da capela e, ainda naquele ano, foi celebrada a Missa Inaugural da Capela de Nossa Senhora de Fátima. A partir da década de 1980, o local obteve uma autorização especial para receber as atividades que compõem um trabalho pastoral paroquial.
O padre Elias Floriano dos Santos, vigário da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida do Alto Vera Cruz, atua como capelão na Capela do Mercado desde 1993. Atualmente, a missa na Capela Nossa Senhora de Fátima é realizada todos os domingos, às 7h.
Personagens marcantes do Mercado Central
Além das lojas tradicionais, a história do Mercado Central também conta com personagens importantes que deixaram sua marca ao longo dos anos; como é o caso de Manoel Penido Drumond, também conhecido como Mané Doido, e Maria Lúcia Clementino Nunes, a Dona Lucinha.
Esta última chegou a ser homenageada com uma estátua de bronze lançada no ano passado. A escultura de tamanho real está localizada em uma das entradas do centro comercial. Dona Lucinha foi uma das grandes embaixatrizes da culinária mineira.
Ainda em 2023, foi inaugurada a loja do Armazém Dona Lucinha no mercado. A proprietária do estabelecimento e filha de Dona Lucinha, Heloisa Nunes, define esse feito como um “sonho realizado”, tanto dela quanto de sua mãe. “O Mercado era o lugar que minha mãe mais gostava de estar”, relata.
Já a filha do fundador do Bar Mané Doido, Fátima Drumond, ressalta a importância do Mercado tanto para seu pai quanto para toda a família. “Se ele educou duas filhas com curso superior foi graças ao trabalho dele no Mercado Central. Toda minha família, não só meu pai, mas também meus tios formaram família trabalhando no Mercado”, declara.
Até mesmo o nome de Fátima Drumond possui ligações com o centro comercial, já que ele foi uma promessa feita por seus pais a Nossa Senhora de Fátima para caso ela nacesce. “Minha mãe não conseguia engravidar, então meu pai fez uma promessa de que a filha teria o nome da capela, o nome de Fátima”, relata.

De acordo com a filha de Mané Doido, ele começou a trabalhar no Mercado em 1950 na loja do irmão mais velho, quando tinha apenas 13 anos de idade. Três anos depois, ele conseguiu juntar dinheiro para comprar um tabuleiro.
Já na virada da década de 1950 para 1960, ocorreu um aumento na demanda por limões na cidade, devido a um surto de gripe asiática. Visando aproveitar esse cenário, Manoel Penido Drumond buscou limões no sítio da família e passou a comercializá-los por unidade. Conforme a filha de Mané Doido, essa ação gerou recursos suficientes para que ele pudesse abrir o bar em 1960.

Impacto na vida das pessoas
Julião reforça a importância do Mercado Central de Belo Horizonte, não apenas para a capital mineira, mas também para comerciantes como ele. “É aqui no mercado que eu ganho meu pão e criei minha família, meus filhos e, hoje, estou ajudando a criar meus netos também. Então, o Mercado para mim é muito importante”, disse.
Gonçalves também expõe o sentimento de gratidão ao Mercado Central, local onde ele pode alcançar grandes conquistas desde sua chegada em 1967. “O mercado passou a ser a minha vida. Só tenho a agradecer ao Mercado Central e espero continuar aqui até os últimos dias de minha vida”, declara.
Já o proprietário da Loja do Nem, relembra sua história no centro comercial, iniciada como carregador de caixotes, em 1963, até atingir cargos mais elevados. “Tudo de bom que aconteceu em minha vida e na vida da minha família, eu agradeço ao Mercado Central. Então, o Mercado é minha vida”, pontua.
Heloisa Nunes destaca a boa relação que possui com os lojistas e com os coordenadores do local. “Eu chego lá e brinco com todo mundo, é uma história de amor”, relata.
Fátima Drumond também fala da relação com o centro comercial e reforça seu desejo de que essa ligação entre sua família e o Mercado possa durar muitos anos no futuro. “Que minha família continue abrindo mão de tudo para continuar no caminho do Mercado Central, que é um caminho muito sólido e promissor”, declara.
O presidente da Drogaria Araujo destaca o orgulho que a empresa tem em fazer parte da história do Mercado e reafirma o compromisso em continuar contribuindo para o sucesso do local.
“Desejamos que este espaço continue sendo uma referência para o comércio mineiro, um lugar de encontro, de negócios e de encantamento para todos que visitam. Que venham mais 95 anos de prosperidade e realizações”, conclui.
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