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Produtores locais qualificados geram renda na rota para o Caraça

No programa “Corredores e Rotas”, moradores abrem suas casas e revelam saberes ancestrais aos turistas
Produtores locais qualificados geram renda na rota para o Caraça
Santuário do Caraça, em Catas Altas, na região Central, revela mais de dois séculos de história; cidades próximas também têm encontrado no turismo fator de geração de emprego e renda | Foto: Reprodução Adobe Stock / Pedro

Mais do que um destino turístico que oferece natureza, história, religiosidade e a mais pura gastronomia mineira, o Santuário do Caraça, no município de Catas Altas (região Central), é a desculpa ideal para que a viagem seja esticada pelas cidades próximas. Históricas e cheias de personalidade, elas fazem parte do Circuito do Ouro e reservam surpresas que encantam diferentes perfis de turistas. Cada vez mais organizadas, têm encontrado no turismo uma opção sustentável de geração de emprego e renda em substituição à mineração. E são os produtores locais os principais responsáveis por entregar a mais pura mineiridade aos turistas no caminho entre Belo Horizonte e o Caraça.

Guardiões de saberes ancestrais e da decantada hospitalidade mineira, os pequenos produtores abrem suas casas e fazem do “jeitinho mineiro” uma atração que agrega valor a produtos e serviços. O programa “Corredores e Rotas”, ajuda pequenos produtores a se estruturarem. A iniciativa da mineradora Vale tem como objetivo conectar comunidades, saberes e fazeres locais, impulsionando o desenvolvimento sustentável dos territórios por meio do turismo de experiência e da economia criativa. Na região, o programa contempla os produtores locais das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e Catas Altas, aos pés da Serra do Caraça.

De acordo com a sócia da Eficaz Turismo, Mônica Silva, o objetivo é aproveitar as rotas já existentes para criar experiências que atraiam turistas de capitais como Belo Horizonte. Por enquanto, os passeios estão sendo ofertados por demanda.

“Essas experiências podem variar de passeios de um dia a estadias de fim de semana, incluindo visitas a projetos gastronômicos, passeios pela cidade e destinos como Caraça. Os roteiros são personalizados ​​com base na demanda e nas preferências dos turistas”, explica Mônica Silva.

Em Santana do Morro, distrito de Santa Bárbara, um dos destaques é o Rancho das Suculentas. Iniciado em fevereiro de 2022, começou como um hobby e evoluiu para um negócio de venda de plantas exclusivas e feitas à mão. Além de receber os turistas no sítio para uma vivência cheia de significados junto às natureza, o casal Cida e José Maurício Quiossa também participa de feiras realizadas na região.

Rancho das Suculentas
Rancho das Suculentas é destaque em distrito de Santa Bárbara | Foto: Diário do Comércio / Daniela Maciel

“Tudo aqui é feito à mão. Quando queremos uma nova espécie, compramos a matriz e desenvolvemos as mudas aqui no sítio. Para os nossos visitantes mostro o processo completo, da mudinha até o ponto em que ela está pronta para vender”, explica Quiossa.

Também em Santa Bárbara, mas no distrito de Brumal, outra iniciativa chama a atenção: a “Casa das Tecelãs”. A associação conta com mais de 40 mulheres que inclui produtoras rurais, cozinheiras, crocheteiras, bordadeiras e tecelãs. O grupo cria peças de moda utilizando resíduos têxteis de empresas locais.O objetivo é lançar sua própria coleção de moda e chegar à São Paulo Fashion Week. Essas mulheres são autônomas e vendem seus produtos localmente e por meio de plataformas digitais.

José Maurício Quiossa
José Maurício Quiossa recebe turistas no rancho para vivências | Foto: Diário do Comércio / Daniela Maciel

“Já temos um grupo que trabalha com bolsas de grife e de excelentes bordadeiras e o nosso objetivo é chegar às passarelas mais importantes do País. Hoje trabalhamos com resíduos têxteis diversos doados por indústrias parceiras, unindo moda e responsabilidade ambiental”, afirma a presidente da Associação das Tecelãs, Dilce Amara Margarida Mendes.

E é claro que a comida é um dos principais ativos nas mãos dos produtores locais do entorno do Caraça. Em Barão de Cocais, a Cozinha Escola da Vale permite que profissionais não só apurem técnicas e boas práticas como aprendam a gerir seus negócios com base na gastronomia mineira.

Comidas do Caraça
Comida é um dos principais ativos nas mãos dos produtores | Foto: Diário do Comércio / Daniela Maciel

“O desenvolvimento econômico é, também, o desenvolvimento social porque gera emprego, faz com que pessoas que nunca pensaram em empreender o façam com sustentabilidade. Poder participar da cozinha escola que a Vale trouxe para a cidade e ver tudo isso que está acontecendo em Barão de Cocais e todas as outras cidades do roteiro é muito inspirador”, destaca o secretário-executivo de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Bruno Araújo.

E, no ponto final do roteiro, o Santuário do Caraça, com sua história de mais de dois séculos, é um espaço para quem quer se religar com a natureza e com Deus. As dependências do antigo Colégio fundado pelos padres da Congregação da Missão (Lazaristas), que receberam as terras do príncipe regente D. João VI, são uma aula de história, arquitetura e da força do desejo humano. Por lá passaram os dois imperadores do Brasil – Pedro I e Pedro II – e se formaram presidentes, governadores e outras personalidades brasileiras.

Desde os anos 1980, porém, os frequentadores mais ilustres do lugar são os lobos-guará que sobem as escadas da igreja gótica, à noite, para se alimentar ao chamado dos padres. É a chamada “Hora do Lobo”. Essa prática de alimentar os lobos no Caraça só persiste aos dias atuais porque o seu hábito de caça não foi comprometido e tem sido importante ferramenta para observação da saúde dos animais e preservação da espécie. Enquanto o seu lobo não vem, o Caraça proporciona aos hóspedes um momento de educação ambiental.

Lobo-guará
No Santuário, lobos-guarás são “moradores” ilustres | Foto: Reprodução Adobe Stock / Pedro

Hoje, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), o Santuário está em uma área de transição entre o Cerrado, a Mata Atlântica e os Campos rupestres. Segundo o gerente geral do complexo Santuário do Caraça, Pablo Azevedo, além de proteger o meio ambiente e a história da região, o Santuário está integrado à vida cotidiana, aos produtores locais e à economia das cidades do entorno.

“O Caraça é parte importante da economia da região não só por atrair visitantes e empregar moradores, como também por levar o nome das cidades para todo o País e até pra fora com os nossos produtos, como a cachaça, o queijo e a cerveja produzidos aqui”, destaca Azevedo.

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