Queimadura em animais silvestres tem solução inovadora em Minas

Inovar, segundo o dicionário, entre outras coisas, significa “fazer algo como não era feito antes”. E é apostando nisso que a equipe do Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba (HVU), no Triângulo Mineiro, está desenvolvendo uma nova técnica para o tratamento de queimaduras em animais silvestres.
A partir do gesso sintético já utilizado em humanos foi desenvolvida uma “roupa” capaz de proteger e permitir a recuperação das partes lesionadas de diferentes portes em animais silvestres.
De acordo com o gerente clínico do HVU e responsável pelo Setor de Animais Silvestres, Cláudio Yudi Kanayama, a solução é inédita e tem potencial para se tornar um produto comercial.
A primeira aplicação foi realizada em um jabuti vítima de um incêndio. O gesso foi moldado junto ao animal que teve as placas da carapaça muito danificadas, criando uma proteção que é trocada diariamente para a aplicação de tratamentos tópicos.
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Passada essa primeira fase do tratamento – que pode levar alguns meses – será feita uma “roupa” definitiva, produzida em uma impressora 3D.
“Moldamos o gesso sintético no formato da carapaça, protegendo os ossos que estavam expostos. Uma das vantagens desse produto é que ele pode ser trocado todo dia, facilitando a aplicação de medicamentos. Quando as placas da carapaça que estiverem mortas caírem, vamos trocar por placas impressas em 3D para ocupar os espaços como em um quebra cabeças. A tecnologia 3D acelera muito o processo e com ela poderemos no futuro customizar o gesso de acordo com as características do animal, como a cor, por exemplo”, explica Kanayama.
Em breve a tecnologia também será testada no tratamento de fraturas, fazendo o papel de um enxerto. Animais silvestres com queimaduras e outros problemas candidatos aos tratamentos não faltam, sendo o Triângulo um importante entroncamento rodoviário que liga a região Centro-Oeste ao Sul/Sudeste do Brasil.
A região, que faz limite com os estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, é coberta pelo Cerrado, considerado o segundo maior bioma da América do Sul e o segundo maior bioma do Brasil. Em novembro, os alertas de desmatamento bateram recorde na região desde 2017. Além disso, a região também sofre como rota para o tráfico de animais que atravessa o País.
“Estamos em uma região de muitas queimadas por causa da cultura da cana de açúcar, principalmente. Recebemos muitos animais silvestres queimados, atropelados e outros tipos de problema causados por humanos. Já foram mais de 600 este ano. Desenvolver materiais e técnicas de tratamento é muito importante para preservarmos a notável diversidade que temos na região e no Brasil”, pontua o professor.
Depois de recuperados, os animais são encaminhados para os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetras), mantido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), em Belo Horizonte e Divinópolis (região Centro-Oeste).
Pesquisa para tratamento de queimaduras em animais silvestres pode movimentar mercado pet
As soluções desenvolvidas em Uberaba têm grande potencial econômico por serem aplicáveis também a um segmento cada vez mais poderoso: o de animais de estimação. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil ocupa a terceira posição no ranking global de faturamento no segmento pet, com 4,95% do total, atrás apenas dos Estados Unidos (43,7%) e da China (8,7%). A indústria de produtos para animais de estimação projeta um crescimento de 10,6% em seu faturamento para 2023, chegando a R$ 46,42 bilhões no País.

Antes, porém, de ajudar os animais que chegam ao HVU ou chegar às mãos dos médicos veterinários de todo o País, o desenvolvimento da aplicação age diretamente sobre a formação dos alunos da Uniube. Discentes de diferentes cursos se envolvem no projeto, desde o curso de veterinária até o curso de engenharia que cuida da parte da tecnologia 3D.
“Alunos de diferentes cursos e áreas do conhecimento, da veterinária, desenvolvimento de produto, ao engenheiro da impressora. Queremos dos alunos criatividade, que sejam capazes de fazer adaptações, sugerir novas aplicações para as coisas. E também aprender a lidar com frustrações. É importante saber que existem limites e erros no processo científico e na vida”, afirma o gerente clínico do HVU.
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